Somos todos gays

A Parada do Orgulho LGBT chega à sua 15ª edição e como boa debutante mostra ao mundo a que veio: batalhar pela igualdade de direitos dos diferentes e exigir respeito à individualidade.  Transformou-se em um manifesto vivo pela liberdade de SER quem se é. Neste sentido, trata-se de um movimento muito mais profundo e poderoso do que a defesa da liberdade de pensamento e de expressão. Porque aqui a defesa é pela realização de nossa personalidade e nossa essência – que, humana, é cheia de defeitos ou de traços que alguém considera defeituosos. Porque, por um motivo ou outro, somos todos gays.



De perto ninguém é normal, como já disse Caetano. Aliás, o que é “normal” senão um padrão imaginário formado ao longo de séculos de dominação econômica e política e que ainda é usado como ferramenta de submissão? Dos mais de 7 bilhões de seres humanos que habitam o planeta, quantos são do sexo masculino? Quantos são hetereossexuais? Quantos são brancos? Quantos são loiros? De olho azul? Viris? Bem sucedidos profissionalmente?

Que normalidade é essa que exclui a maioria das pessoas?

O que há 15 anos começou como uma passeata cercada de preconceito hoje ganha a simpatia da sociedade porque para além dos negros que são preferencialmente parados em batidas policiais e do transexual que tem dificuldade em conseguir um emprego, há uma condenação generalizada pelo simples fato de termos nascido assim, indivíduos únicos e diferentes. Pode ser a escolha sexual, a cor ou a religião. Pode ser o peso. A estética. Ou até uma tatuagem ou um piercing.

É justamente o fato de que está se tornando cada vez mais claro que merecemos respeito pela nossa condição humana, independente de quem e como sejamos, independente de nossos gostos e preferências, é que torna a Parada do Orgulho LGBT tão importante mesmo para quem não é gay, lésbica, bissexual, transexual ou qualquer outro –xual. É também o que torna tão chocante o contraste com a Marcha para Jesus – que teve o infeliz mérito de inverter toda a simbologia de tolerância e aceitação encarnada por Jesus em uma louvação autoritária, preconceituosa e excludente.

Porque educação é bom e eu gosto. Mas respeito é fundamental – precisamos exigi-lo!

Um comentário:

  1. Sou a favor da parada gay, mas acredito que deva ser destacado que se por um lado ela contém esta significação de realização da personalidade humana, por outro, ela exulta um universo fútil e de comportamentos autômatos – no qual é o ambiente aonde o mundo gay se inseri atualmente. Paradoxalmente ao sentido original da parada, que buscava a igualdade de direitos, a “sociedade”gay de hoje opera de forma muito parecida, ou até mesmo pior que a moderna sociedade capitalista ocidental, cujas raízes desta última estão intimamente relacionadas à heterossexualidade e ao patriarcalismo. Homossexuais marginalizam outros homossexuais, pelos mais frívolos motivos. Aparência física. Gosto musical. Baladas frequentadas. Marca das roupas. Viagens internacionais. A própria parada se transformou num motivo de preconceito entre gays: entre aqueles que vão e os que não vão. Sem contar que para muitos, ela é apenas uma grande balada ao ar livre, um “after-hours” em plena Av. Paulista. Enfim, há uma lista infindável de coisas sem a menor importância que o universo gay hoje valoriza sobremaneira. E a parada se transformou, nos últimos anos, na apoteose destes valores que, teoricamente, refletiriam a tal da “cultura gay” – mas que, na verdade, foram inseridos pelo sistema capitalista, que mais uma vez deixa de enxergar a expansão dos direitos de liberdade dos cidadãos para apenas alvejar a abertura de um novo mercado.

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