A esquizofrenia japonesa sobre a energia nuclear

No mesmo dia em que os japoneses foram às ruas em mais de uma centena de cidades em todo o país para exigir o fim do uso da energia nuclear, os delegados nipônicos que participam da rodada preparatória de negociações climáticas, preparando o caminho para a CoP17 no final do ano, fazem exatamente o contrário!  Quem denuncia são mais de 600 grupos ambientalistas e de jovens que atuam como observadores das negociações e que concederam ao país do sol nascente o Fóssil do Dia, tradicional prêmio que é dado aos país que se destacam por travar ou comprometer as negociações para um acordo climático efetivo e eficiente. Ou, no mantra das ONGs: justo, ambicioso e legalmente vinculante.



A diferença de atitude do povo e dos negociadores no exato dia em que se completam três meses do acidente na usina nuclear de Fukushima denuncia a esquizofrenia no país em relação ao tema.  De um lado, o povo preocupado com segurança e com as futuras gerações.  Do outro, um governo atormentado por uma economia há muito tempo estagnada e que, por conta do terremoto que assolou o país, deve recrudescer este ano.  No Japão, a energia nuclear responde por 30% do abastecimento do país e era tida, até o desastre, como uma das alternativas prioritárias: as autoridades repetiam, e a população aceitava, a argumentação dos lobbistas dessa indústria, que usam a necessidade de reduzirmos as emissões de CO2 na atmosfera para manter a temperatura do planeta dentro de limites seguros para pintar a energia nuclear de verde.  Como ficou evidente neste último acidente, de verde, a energia nuclear não tem nada.

Numa evidente demonstração de anacronismo e falta de sintonia com a população que representam, os negociadores japoneses reiteraram sua posição de incluir todas as energias, incluindo a nuclear, nos Mecanismos de Desenvolvimento Limpo, prática estabelecida no Protocolo de Kyoto e que consiste no desenvolvimento de projetos de redução das emissões que são passíveis de gerar créditos a serem negociados no mercado de carbono.  Considerando-se a recente experiência do país, é possível afirmar que o Japão tem hoje a legitimidade necessária para liderar os negociadores climáticos a banir a opção nuclear das energias que queremos para o futuro.
http://g1.globo.com/videos/jornal-nacional/v/japoneses-exigem-fechamento-de-usinas-nucleares-tres-meses-apos-tragedia/1533974/

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