Clima é um problema comum para a humanidade e não apenas uma questão de lobby

Líder global em investimentos em energia eólica, a China será obrigada a encerrar a política de subsídios que visava turbinar esse setor (perdoe-me pelo trocadilho infame, porém irresistível). O motivo: uma ação movida pelo governo norte americano na Organização Mundial do Comércio (OMC). A base dessa ação foi uma reclamação da United Steelworkers Union, o poderoso sindicato dos trabalhadores da indústria do aço. A notícia foi divulgada na semana de abertura das negociações preparatórias à CoP17 que estão sendo realizadas em Bonn. Nem preciso dizer que caíram como um balde de água fria sobre aqueles que lutam pela adoção de energias renováveis. Nesta briga econômica, a grande vítima foi o meio ambiente. Ponto para as empresas de petróleo e carvão – principal fonte energética da China. E dos EUA.



Diante da crise do mercado financeiro que derrubou o emprego nos EUA, faz todo o sentido que um sindicato batalhe pela geração de empregos e bons salários para os trabalhadores. Mas neste caso, a miopia do business-as-usual ultrapassou os limites do bom senso – tanto por parte do sindicato, como do governo norte americano e até mesmo da OMC! Porque o catatau de 5,8 mil páginas burilado pela United Steelworkers Union em momento algum questiona o que há de errado com a política norteamericana. Por que não questionar por que o governo dos EUA não apóia o emprego verde, resultado do investimento em tecnologias verdes e em fontes renováveis de energia? Por que atacar a China por fazer a coisa certa, por fazer aquilo que o governo dos EUA deveria estar fazendo? Pois não é justamente o investimento em energias alternativas aos combustíveis fósseis que todo país precisa fazer para reduzir as emissões de gases de efeito estufa? E não é esse mesmo investimento compatível com a geração de empregos, como inúmeros estudos já mostraram?

Nesse sentido, países como Espanha, Reino Unido e Alemanha estão na dianteira, seja pelo percentual do PIB alocado em energias limpas, seja pela decisão de não utilizar energia nuclear. E mesmo a suja China – hoje maior emissor global dos gases causadores do efeito estufa – investe mais em renováveis que os EUA: segundo o The Pew Charitable Trusts, em 2009 a China aplicou US$ 34,6 bilhões em energia limpa, enquanto os Estados Unidos investiram US$ 18,6 bilhões - 0,39% e 0,13% de seus PIBs, respectivamente.

Dado que os Estados Unidos são historicamente os maiores emissores, que são o país mais rico do mundo e à luz dos enormes subsídios ao setor financeiro, faz todo o sentido que os trabalhadores demandem mais apoio, na forma de medidas que gerem emprego. Mas nunca às custas de uma questão que não tem fronteiras: porque uma China com menos energia eólica é um problema para o planeta todo. Já ultrapassamos a barreira considerada segura pelos cientistas na concentração de CO2 na atmosfera. Batemos, em 2010, um recorde de emissões. Já contratamos até 2020 investimentos em energias sujas que comprometerão qualquer meta de redução. E, pior, as metas de redução que estão nas mesas de negociação da ONU dão conta apenas de 60% do que precisamos cortar para manter a temperatura do planeta dentro de um nível seguro para a sobrevivência da nossa espécie.

É lamentável, portanto, ver um lobby – ainda que um lobby justo e legítimo – se sobrepor aos interesses da espécie humana. É lamentável não ver criatividade e flexibilidade para atender o pleito dos trabalhadores e, simultaneamente, avançar em direção a uma economia mais verde.

Desde que deixaram de ratificar o Protocolo de Kyoto, os EUA e sua política interna (leia-se: republicanos; leia-se: lobby do petróleo e do carvão) tem anulado qualquer perspectiva de acordo climático global. E aí fica a pergunta: e nós vamos deixar isso assim??

Cabe a cada um de nós mostrar com nossas palavras e atos que a questão do clima é um problema comum para a humanidade e não apenas uma questão de ecochatos, de biodesagradáveis, de lobby verde, de lobby da energia renovável ou de qualquer grupo de interesse especial.

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