A falta de vontade política de investir nessa seara está comprometendo as economias dos países em desenvolvimento – um dado que pela primeira vez foi calculado pelo Banco Mundial. Segundo a instituição, o PIB dessas nações está perdendo mais de 6% ao ano por causa dos problemas de saúde, da falta de educação e de oportunidades de trabalho provocadas pela ausência de acesso a água potável e esgoto. Julia Bucknall, chefe da divisão de água do Banco Mundial, afirmou ao jornal inglês Guardian que "Considerando-se que 2% do PIB é a diferença entre crescimento e recessão, isso significa que estamos tendo o equivalente a três recessões cada ano nesses lugares. E ninguém se seu conta. É surpreendente!".
Não custa lembrar que, de acordo com a ONU, a cada $ 1 gasto em saneamento gera-se um benefício econômico de pelo menos US $ 9, advindos tanto da economia gerada pela melhoria nas condições de saúde da população, como também do fato de que, saudáveis, as pessoas são mais produtivas. No caso do Sudeste Asiático, o prejuízo vem de outra frente: pelo menos US $ 7 bilhões por ano são perdidos porque os turistas, temendo contaminações, escolhem outros destinos – uma enorme oportunidade econômica que é perdida por falta de investimento em água e saneamento. Ou seja, não precisa ser bonzinho para investir em saneamento: bastava ser um bom capitalista!
Nem é preciso dizer que, nesse cenário, mulheres e meninas são as que mais perdem. Porque é delas a responsabilidade de arrumar água: quanto mais difícil ela se torna, menos tempo ela deixa para os estudos. E como a população que mais cresce é a que se encontra em regiões pobres, a crise da água tende a piorar. Isso sem falar em mudanças climáticas e nos desperdícios que estão colocando em risco as fontes de água potável do planeta!
No Brasil:
- Para suprir o déficit de saneamento básico no País, seriam necessários investimentos da ordem de RS$ 12 bilhões por ano, durante 20 anos consecutivos. Atualmente o País investe anualmente cerca de R$ 4 bilhões em saneamento, sendo que apenas a metade tem origem em fundos públicos.
- O estado mais rico da nação, São Paulo, tem 85% de cobertura da rede de esgoto; no Distrito Federal, esse percentual é de 80,58%; no Rio de Janeiro, 76,69%; e em Minas Gerais, 76,33%. Em Manaus apenas 11% do esgoto é coletado.
- No Brasil, do total de 57.324.185 domicílios pesquisados, 6,2% não possuíam banheiro de uso exclusivo (3.562.671).
- No meio rural, quase 40% dos brasileiros não tem banheiro de uso exclusivo no domicílio na faixa de rendimento domiciliar mensal per capita de até R$ 140,00.
- Mais da metade dos pacientes internados por diarréia são crianças. A enfermidade é a mais associada à falta do serviço de tratamento de esgotos ou a uma cobertura precária.
- 80% dos domicílios particulares permanentes do meio rural tiveram acesso à água a partir de “poço ou nascente na propriedade”, “poço ou nascente fora da propriedade” ou “outras” formas, como caminhões-pipa, por exemplo.
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