Água e esgoto são fundamentais, mas não são prioridade

Sabe aquele lance de que político não gosta de investir em saneamento porque eleitor não vê cano debaixo da terra? Pois é: parece que essa lógica não é exclusiva do Brasil! Segundo estudos do Banco Mundial e da ONG WaterAid, a meta do milênio de reduzir à metade o número de pessoas sem acesso aos serviços básicos de saneamento até 2015 não será atingida porque os países doadores estão preferindo projetos de maior apelo junto a seus públicos, como escolas e hospitais. Nos últimos 20 anos, a ajuda financeira global a projetos de água e saneamento caiu de 8%, em meados dos anos 90, para pouco mais de 5% entre 2007 e 2009. No ritmo atual, apenas 700 milhões de pessoas serão beneficiadas até 2015 – a meta da ONU era que os serviços de água e saneamento estivessem disponíveis para pelo menos 1,7 bilhão de pessoas até essa data.



A falta de vontade política de investir nessa seara está comprometendo as economias dos países em desenvolvimento – um dado que pela primeira vez foi calculado pelo Banco Mundial. Segundo a instituição, o PIB dessas nações está perdendo mais de 6% ao ano por causa dos problemas de saúde, da falta de educação e de oportunidades de trabalho provocadas pela ausência de acesso a água potável e esgoto. Julia Bucknall, chefe da divisão de água do Banco Mundial, afirmou ao jornal inglês Guardian que "Considerando-se que 2% do PIB é a diferença entre crescimento e recessão, isso significa que estamos tendo o equivalente a três recessões cada ano nesses lugares. E ninguém se seu conta. É surpreendente!".

Não custa lembrar que, de acordo com a ONU, a cada $ 1 gasto em saneamento gera-se um benefício econômico de pelo menos US $ 9, advindos tanto da economia gerada pela melhoria nas condições de saúde da população, como também do fato de que, saudáveis, as pessoas são mais produtivas. No caso do Sudeste Asiático, o prejuízo vem de outra frente: pelo menos US $ 7 bilhões por ano são perdidos porque os turistas, temendo contaminações, escolhem outros destinos – uma enorme oportunidade econômica que é perdida por falta de investimento em água e saneamento. Ou seja, não precisa ser bonzinho para investir em saneamento: bastava ser um bom capitalista!

Nem é preciso dizer que, nesse cenário, mulheres e meninas são as que mais perdem. Porque é delas a responsabilidade de arrumar água: quanto mais difícil ela se torna, menos tempo ela deixa para os estudos. E como a população que mais cresce é a que se encontra em regiões pobres, a crise da água tende a piorar. Isso sem falar em mudanças climáticas e nos desperdícios que estão colocando em risco as fontes de água potável do planeta!

No Brasil:


  • Para suprir o déficit de saneamento básico no País, seriam necessários investimentos da ordem de RS$ 12 bilhões por ano, durante 20 anos consecutivos. Atualmente o País investe anualmente cerca de R$ 4 bilhões em saneamento, sendo que apenas a metade tem origem em fundos públicos.
  • O estado mais rico da nação, São Paulo, tem 85% de cobertura da rede de esgoto; no Distrito Federal, esse percentual é de 80,58%; no Rio de Janeiro, 76,69%; e em Minas Gerais, 76,33%. Em Manaus apenas 11% do esgoto é coletado.
  • No Brasil, do total de 57.324.185 domicílios pesquisados, 6,2% não possuíam banheiro de uso exclusivo (3.562.671).
  • No meio rural, quase 40% dos brasileiros não tem banheiro de uso exclusivo no domicílio na faixa de rendimento domiciliar mensal per capita de até R$ 140,00.
  • Mais da metade dos pacientes internados por diarréia são crianças. A enfermidade é a mais associada à falta do serviço de tratamento de esgotos ou a uma cobertura precária.
  • 80% dos domicílios particulares permanentes do meio rural tiveram acesso à água a partir de “poço ou nascente na propriedade”, “poço ou nascente fora da propriedade” ou “outras” formas, como caminhões-pipa, por exemplo.


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