Sabe a piada do português que, quando vê uma casca de banana no chão, logo pensa: “ai, jisuis, lá vou eu cair no chão de novo!”? Parece o Brasil e as queimadas! Todo ano, basta começar a estação seca, e a história se repete, cada vez pior. O tempo seco é apenas a cortina de fumaça atrás da qual se escondem atitudes irresponsáveis ou até mesmo má intencionadas. Elas vão do descarte de bitucas de cigarro acesas em áreas com palha seca até os funestos hábitos de soltar balões e de queimar a cana de açúcar para a colheita. Para 2011, é esperado um recorde de queimadas como consequência do recorde de desmatamento registrado no começo do ano. São incêndios criminosos que visam limpar terrenos ilegalmente desmatados. Todas estas práticas são conhecidas. Todas são amplamente noticiadas como nocivas. Todos sabem que não devem fazer isso. Então por que escorregar na casca de banana?
Orientações contra a prática das queimadas não são novidades. Eu entrei na escola no começo dos anos 70 do século passado e já havia, naquela época, a orientação para não soltar balões nas festas juninas. Matérias nos jornais de TV, então, nem se fala: o assunto é pauta obrigatória nessa época! Como quase 100% dos domicílios tem aparelho de TV, podemos concluir que a informação já foi bastante disseminada. Há, ainda, várias campanhas municipais e estaduais. Pegue-se o Mato Grosso como exemplo: lá a situação é tão grave que já existe um decreto estadual estabelecendo um período de proibição às queimadas. E hoje o Comitê Integrado de Gestão do Fogo do estado conseguiu ampliar esse prazo: agora, ao invés de vigorar de 15 de julho a 15 de setembro, ele passa a valer de 1º de julho até 30 de outubro.
Só que em 2010, durante o proibitivo, foram registrados mais de 200 mil focos de queimadas no estado...
Sabe o motivo? Nas palavras do presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato), Rui Prado, as queimadas são importantes para o solo e eficientes no combate às pragas... Bom, não custa lembrar que a prática de derrubar árvores e atear fogo ao solo para prepará-lo para o plantio chama-se coivara e foi herdada dos índios. Mas desde que eles inventaram este sistema, inúmeros estudos já foram feitos por agrônomos e uma miríade de produtos e técnicas de correção e enriquecimento de solo já foram desenvolvidos. Ou seja, as palavras do nobre presidente da Famato são o que na minha terra se chama de Balela!
Em São Paulo, a agricultura também está por trás de boa parte dos incêndios, já que ainda não foi banida definitivamente a prática de queimar a cana de açúcar para facilitar a colheita. Descontrolado, o fogo acaba invadindo outras áreas, causando inúmeros prejuízos: eu mesma já tive o desprazer de dirigir em uma estrada vicinal com fogo dos dois lados e posso atestar tanto o medo como o sufoco – no sentido literal da palavra! – que a fumaça causa.
Ou seja, tempo seco é apenas agravante: o que causa os incêndios e as queimadas são ações intencionais. Ou, se preferir, crimes.
Como os recordes de desmatamento continuam – segundo o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) o desmatamento da floresta Amazônica em maio desse ano foi 72% superior ao registrado no mesmo mês de 2010 -- podemos esperar um recorde de escorregões em cascas de banana!
Em Rondônia, os satélites já registraram mais de 300 focos de incêndio em todo o estado, um aumento de 10% em comparação com o mesmo período do ano anterior. Na capital, Porto Velho, já foram registradas mais de 100 denúncias de queimadas desde o começo de junho, número que equivale a quase o total registrado em 2010. Em Manaus, já são 182 denúncias de focos de queimada de janeiro a maio de 2011. Durante todo o ano de 2010, foram 1346 denúncias de queimadas. Em Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, o número de queimadas aumentou 155% no mês de maio em relação a abril, saltando de 52 casos para 133 (até o dia 29 de maio). Em Sorocaba, no interior de São Paulo, foram contabilizados 208 focos de incêndio entre janeiro e maio de 2011. Apenas as ocorrências de maio representaram um total de 65.370 metros quadrados de áreas verdes destruídos pelo fogo. Ou seja, como o produtor rural muitas vezes reside na cidade ou o habitante urbano é oriundo do campo, o que acontece em um lado se repete no outro.
Enquanto isso, no Rio de Janeiro, o Ministério Público Federal (MPF) em Campos dos Goytacazes teve que se manifestar publicamente, questionando o projeto de lei 569/2011 que permite a queima de cana-de-açúcar no Estado até 2024. Essa pérola da falta de bom senso foi aprovada no último dia 15 pela Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) e enviado para sanção do governador. Vamos torcer para que entre uma carona no jato do Eike e um vôo no helicóptero do Cavendish, ele encontre tempo para refletir sobre o absurdo desta decisão!
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