Contra a fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour
Como consumidora e como cidadã pagante de impostos, repudio a intenção de unir as operações brasileiras do Carrefour com o Grupo Pão de Açúcar. O argumento do BNDES e do Ministro do Desenvolvimento - de que a criação de um gigante brasileiro do varejo ligado a grandes grupos internacionais favoreceria a exportação de nossos produtos - é falacioso. Se o objetivo é favorecer nossas exportações, os R$ 4 bilhões que o BNDES pensa em ceder gentilmente a um empresário rico, presidente de um grupo rico e lucrativo, poderiam ser investidos na ampliação de nossos portos e na modernização de nossas malhas ferroviária e rodoviária, reduzindo o estrangulamento logístico que onera e tira a competitividade de nossas exportações. Se o objetivo é favorecer exportações de nossos produtos, sua carga tributária poderia ser revista, assim como os burocráticos procedimentos que mantêm verdadeiros cartéis em nossos portos e aeroportos. "Seu" Abílio fala na criação de empregos com carteira assinada, mas todo mundo sabe que os maiores empregadores do Brasil são os pequenos empresários. Uma multiplicidade de pequenos supermercados emprega mais que uma rede de lojas controlada por uma grande corporação. Uma multiplicidade de varejistas cria competitividade real, favorecendo o consumidor: uma concentração de 33% no comércio nacional de alimentos é uma ameaça à segurança alimentar do país e não uma salvaguarda,como o governo alega. Sem competidores, os preços subirão na gôndola. E cairão no balcão de negociações com fornecedores, fragilizando a indústria e o produtor rural. Isso já acontece hoje: os produtos agrícolas são deixados nas lojas do seu Abílio em "consignação" - só são pagos os itens efetivamente vendidos e qualquer perda é assumida pelo produtor. A indústria, por sua vez, paga pela gôndola, pela publicidade da gôndola, pela publicidade no encarte do jornal... E quem se recusar a aceitar as condições draconianas que os grandes varejistas impõem, fica fora do mercado - literalmente! Esse movimento de concentração, portanto, já seria condenável se feito com dinheiro privado. Com verba pública, torna-se indecente! Vergonhoso! Então elege-se um governo "dos trabalhadores" para que o dinheiro estatal vá para "os patrões"? Nas crises, o prejuízo é socializado: qualquer solavanco no lucro e empregos são sumariamente cortados! Na benesse, o lucro é privatizado. E no investimento, o dinheiro é dado? Desde quando o varejo é um setor estratégico para o Brasil? Falar que o segmento energético é estratégico faz lá seu sentido. Mas varejo??? Por que não investir mais fortemente em tecnologia agrícola e produção de sementes? Hoje a parcela privada dessa indústria está praticamente toda nas mãos de multinacionais - não é muito mais estratégico para a segurança de nosso país que a tecnologia das nossas sementes seja pública? Ou a pesquisa médica? Ou a de informática e tecnologia da informação? O que o varejo tem que esses outros setores não tem, além das relações privilegiadas do Abílio Diniz com o PT? Como consumidora, eleitora e pagadora de impostos, eu repudio o empréstimo do BNDES e repudio a tentativa de fusão entre Grupo Pão de Açúcar e Carrefour. Para a economia crescer, ela não precisa de monopólios, oligopólios ou empresas gigantes. Ela precisa de condições para o empreendedorismo, de linhas de financiamento a preços justos para todos, de infraestrutura decente, de educação, treinamento e desenvolvimento de tecnologia: é nessas frentes que temos que investir esses R$ 4 bilhões.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário