Não importa o país, o nível escolar ou a profissão: em maior ou menor grau, o medo e a vergonha sempre ocultam os números reais da violência sexual contra as mulheres. No caso do jornalismo, o receio é ser preterida em coberturas de guerra ou revoltas populares – notícias que sempre rendem boas matérias e que podem alavancar uma carreira. Que o diga Christiane Amampour, cuja trajetória profissional decolou após a cobertura da guerra Irã-Iraque! Há, ainda, o receio de ser vista como a culpada pela violência – não sei quanto a você, mas eu ouvi de algumas pessoas que a Lara Logan, a linda loira da CBS que foi atacada durante as manifestações no Cairo no começo de 2011, estava no lugar errado com a roupa errada...
O Comitê de Proteção aos Jornalistas entrevistou mais de 40 profissionais da mídia que trabalham em regiões como o Oriente Médio, Sul da Ásia, África e no continente americano e que foram vítimas de violência sexual em diferentes graus, desde estupro por múltiplos atacantes até investidas agressivas. Cinco disseram que haviam sido brutalmente abusadas, enquanto o resto relatou graus variados de agressão sexual, assédio moral e ameaças agressivas de violência sexual. Uma série de experiências semelhantes foram relatados por 25 correspondentes internacionais. Duas delas relataram ter sido vítimas de estupro, cinco descreveram casos graves – desde manuseio violento até penetração as mãos - e 22 relataram ter sido acariciado em várias ocasiões.
No caso da violência sexual contra jornalistas, é possível perceber três categorias de ataques: o estupro dirigido a uma profissional específica, geralmente em represália por seu trabalho; a violência sexual associada com multidões nas ruas e o abuso sexual de jornalistas presos ou em cativeiro. Esse foi o caso da jornalista colombiana Bedoya Jineth, que foi espancada e violentada por vários homens enquanto cobria grupos paramilitares para o jornal El Espectador, de Bogotá, na Colômbia. As autoridades colombianas nunca processaram os atacantes Bedoya. Hoje, 11 anos depois do ataque, ela pretende apresentar seu caso perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos.
Nesse contexto, o trabalho do CPJ é digno de nota, pois permite discutir essa tal de “vulnerabilidade”. Porque não é a vítima que é vulnerável, mas o algoz que é culpável, posto que se trata de um ato com intenção, que é humilhar e submeter a vítima. Em outras palavras: sexo enquanto arma. Neste link você pode conferir o relato completo, em espanhol, o qual inclui inúmeros relatos de jornalistas que foram vítimas e que felizmente decidiram contar o que ocorreu. Porque este assunto merece entrar na pauta.
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