Números da violência contra a mulher no Brasil

Saiu o retrato mais atualizado da situação da violência contra a mulher no Brasil. E ele continua mostrando vários hematomas. Produzida pela Ipsos para o Instituto Avon, a pesquisa traz dados estarrecedores para uma nação governada por uma mulher, que já conseguiu colocar a maioria de suas crianças na escola, cuja quase totalidade dos lares tem televisão e onde quase metade das mulheres está no mercado de trabalho. Por trás dessa aparente modernidade de uma sociedade que hoje é prevalentemente urbana, permanecem hábitos medievais, como a agressão física: mais da metade – para ser mais exata, seis em cada 10 brasileiros – conhece alguma mulher que foi vítima de violência doméstica. As razões apresentadas pelos homens beiram aquilo que os juristas qualificam como “motivo fútil”: ciúme, no topo da lista, com 38% das justificativas apresentadas pelos homens; em seguida vem bebida e alcoolismo (33%), traição (21%), “fui provocado” (19%), problemas econômicos (18%) – e até um desconcertante “não tive motivo” com 12% de menções. No cômputo geral, 46% atribuem a violência contra a mulher a fatores culturais. Ou, se preferir: machismo.


Perguntadas porque permanecem em um relacionamento violento, 27% das mulheres informaram não ter condições econômicas. Um quinto da amostra declarou falta de condições para criar os filhos (20%). Mas preocupantes 17% confessaram que continuam no relacionamento porque tem medo de serem mortas se romperem.


Dos 60% de pessoas que conhece alguma vítima, 63% disseram ter tomado alguma atitude. O número é parrudo, mas ainda está longe de mostrar uma condenação unânime (100%) à violência contra a mulher. Aliás, o próprio entendimento do que é violência ainda é difuso. Tanto que enquanto 27% das mulheres entrevistadas declararam já ter sido vítimas de violência doméstica, apenas 15% dos homens admitiram ter praticado esse crime. Para 11% das mulheres e 20% dos homens entrevistados, empurrar a mulher não merece punição judicial – algo que também não deve se aplicar a quem xinga regularmente a mulher para 8% delas e 18% deles. Apenas 6% dos entrevistados reconhecem que obrigar a mulher a fazer sexo contra sua vontade é violência sexual. E a violência patrimonial, mencionada na Lei Maria da Penha, sequer foi mencionada de forma espontânea. O lado bom é que 62% já reconhecem a violência psicológica. A pesquisa foi realizada entre 31 de janeiro a 10 de fevereiro de 2011 e envolveu 1,8 mil pessoas de cinco regiões brasileiras.

Do total de 27% de mulheres que declararam ter sofrido violência grave, quase a metade (47%) foi vítima de agressões físicas ou de humilhação (44%). A quase totalidade da amostra (94% ) conhece a Lei Maria da Pena, mas apenas 13% sabem o conteúdo: a maioria das pessoas (60%) pensa que, ao ser denunciado, o agressor vai preso.

Pior: 59% das mulheres não confiam na proteção jurídica e policial em caso de violência doméstica – percentual que desnuda a incapacidade do Estado de proteger estas vítimas escondidas no seio da família brasileira.

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