Negociações climáticas: é hora de pressionar

Em dezembro acontece mais uma CoP climática, a CoP17.  Mas, como é praxe nesse processo de negociações, sessões intermediárias ocorrem para que os negociadores possam avançar na definição dos inúmeros pontos que ainda estão em aberto e que impedem os países que integram a ONU de assinar um acordo "justo, vinculante e ambicioso", como prega o mantra das ONGs ambientais.  Uma delas está acontecendo esta semana em Bonn, na Alemanha.  A pouca cobertura de imprensa e as más notícias que marcaram sua abertura sinalizam: nós, da sociedade, precisamos pressionar.  Senão, não vai sair nada.



As más notícias que estão marcando o tom de abertura das negociações em Bonn:

1) As emissões mundiais de gás carbônico bateram recorde em 2010, depois de uma ligeira arrefecida no ano anterior. Como muitos haviam cogitado, a breve bonança foi apenas consequência da crise econômica.  Uma vez reaquecidos os motores da economia, provou-se que eles continuam funcionando à  base de combustível fóssil.  Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), o mundo emitiu 30,6 gigatoneladas de CO2 no ano passado.  Trata-se de um salto de 5% em comparação com o recorde anterior, de 2008, quando as emissões foram de 29,3 gigatoneladas.  Detalhe: 1 gigatonelada equivale a 1 bilhão de toneladas.

2) Até 2020, 80% das emissões projetadas pelo setor energético até 2020 já estão garantidas, pois vêm de usinas de produção de energia já em funcionamento ou em construção atualmente, segundo a mesma agência.  Ou seja, vemos problemas se olhamos para trás e também se olhamos para a frente.

3) E se antes emitíamos muito, mas a atmosfera era muito maior e, por isso, a concentração não era preocupante, esse cenário também mudou: o número de partes por milhão (ppm) - que é a forma  pela qual os cientistas medem a concentração de CO2 no ar - atingiu 393,18 ppm, segundo a Adminstração Nacional de Oceanos e Atmosfera, mais conhecida por sua sigla em inglês: NOAA.  Bom, você já deve ter ouvido falar naquela ONG chamada 350.org.  Sabe de onde veio o nome dela?  De sua causa: garantir que a concentração de CO2 na atmosfera não ultrapassasse 350 partes por milhão... :(

4) Some-se a isso o fato de que nas últimas semanas, os negociadores pela União Européia, Connie Hedegaard, e pelos Estados Unidos, Todd Stern, deram declarações de que a CoP17 não resultaria em um acordo.  Ok, eles têm razão: há muitos pontos em aberto e dificilmente o acordo geral será firmado agora.  Mas tais declarações feitas à imprensa contribuem para esfriar e esvaziar o debate.

5) Na CarbonExpo, um dos maiores eventos mundiais do mercado de carbono, que este ano foi realizado em Barcelona, na Espanha, ficou evidente que este segmento encontra-se estagnado, sinalizando que o mercado não espera uma solução para a continuidade do Protocolo de Kyoto na próxima CoP.  Como este mecanismo de incentivo à redução das emissões está atrelado ao Protocolo, sem esse braço legal não haveria o mercado formal de créditos, ou seja, aquele do qual participam os países obrigados a reduzir emissões, mas apenas o mercado voluntário, ou seja, daqueles que também fazem uso desse mecanismo para se beneficiar, mas sem uma obrigação legal - obviamente este último  movimenta quantidades bem menores a preços idem.

6) A própria Christiana Figueres, presidente da UNFCCC, a Convenção Quadro da ONU para Mudanças Climáticas, que é quem organiza as CoPs para negociação sobre clima, admitiu que pode haver um gap após o final do primeiro período do Protocolo de Kyoto que, firmado na CoP8, vale até o final deste ano.

Não custa lembrar que o pano de fundo das negociações deste ano são:

1) Estados Unidos e Europa patinando para sair da crise econômica.
2) Fortalecimento dos republicanos - fortes opositores de qualquer negociação climática - nos Estados Unidos.
3) Terremoto no Japão, país que já havia questionado, no final do ano passado, se valia a pena continuar com o Protocolo de Kyoto.
4) Menor entusiasmo com a energia nuclear, uma das alternativas aos combustíveis fósseis na pauta dos negociadores, por conta do incidente em Fukushima.

Com isso em mente, fica fácil entender as palavras de Christina Figures na conferência de imprensa do primeiro dia do encontro de Bonn:



Ou seja, se não fizermos pressão, nada vai avançar: a economia não está ajudando e os lobbies contrários a um acordo climático continuam fortes. Entre nos sites do Ministério das Relações Exteriores, da Casa Civil, do Ministério do Meio Ambiente e da presidência: mande uma mensagem. Escreva para seu jornal/telejornal favorito. Compartilhe notícias com seus amigos no orkut ou Facebook. Tuíte.

Sua palavra tem poder. Acredite!

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