La Samaritaine, loja de departamentos fundada em 1870 e adquirida pelo grupo LVMH em 2001, fechou suas portas em 2005 e elas têm estado lacradas desde então. Seria apenas mais uma triste história do setor varejista não fossem alguns detalhes: o prédio estilo art decó que ainda conserva as escadarias, afrescos e o teto de vidro originais, fica na margem direita do Sena, praticamente ao lado do Louvre, diante da famosa Pont Neuf, em um dos pontos mais valorizados e badalados de Paris. Pois esta verdadeira jóia passará por um completo retrofit para adaptá-la às necessidades do nosso tempo: um prédio sustentável e multiuso. Nada que os belos e velhos prédios de São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Belo Horizonte e tantas outras cidades brasileiras também não precisem!
O retrofit é uma tendência dentro do atual desafio de tornar os centros urbanos mais sustentáveis. Com mais da metade da população do mundo vivendo em cidades, elas se tornaram estratégicas dentro de qualquer plano de economia verde, de mitigação ou adaptação às mudanças climáticas. É por esse motivo que Nova York aprovou uma legislação inédita nos EUA, facilitando o retrofit energético de suas edificações: a nova lei prevê inclusive os mecanismos de financiamento das obras, cujos custos serão gradativamente deduzidos da conta de energia elétrica.
Mas como Paris é Paris, além de eficiente, o novo prédio será extremamente chic: em 2013, quando for reinaugurado, ele abrigará 26 mil metros quadrados de lojas espalhados em três andares, 20 mil metros quadrados de escritórios e o hotel Cheval Blanc, com 80 quartos e assinatura do grupo LVMH. Integrando-se à cidade, ele terá um corredor interno, desde a Pont Neuf até a Rue de Rivoli, durante cujo passeio será possível passar por todas essas diferentes estruturas que, em comum, terão muito vidro, beneficiando-se da iluminação natural. Surpreendentemente, o projeto não é de nenhum escritório de Milão ou de Paris: os autores são dos arquitetos japoneses da SANAA. Mas o preço é bem parisiense: a reforma está orçada em 450 milhões de euros.
Fico muito feliz porque a preservação do patrimônio histórico e arquitetônico da cidade não é vista, pelo grupo LVMH, como contrária aos seus interesses de negócios. Quanto mais aprendermos a preservar – e, preservando, inovar! – mais rápido atingiremos o objetivo de termos centros urbanos sustentáveis: onde não só o planeta é preservado, mas também nossa História.
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