Existe barril de petróleo verde?

Talvez você já tenha visto a HRT anunciando o projeto Barril Verde HRT, que consiste na doação de R$ 1 a cada barril produzido pela empresa na Bacia do Solimões (AM) para ações de conservação da floresta e para a melhoria da qualidade de vida de seus moradores. Os recursos serão destinados à FAS-Fundação Amazônia Sustentável, que faz um belíssimo trabalho na região.



A parceria entre a HRT e a FAS está dividida em duas etapas. Na primeira, a HRT nvestirá R$ 4 milhões na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Uacari (no município de Carauari), em dois aportes de 50% que serão feitos este ano e em 2012. Estes recursos serão investidos no Programa Bolsa Floresta e nos seus Programas de Apoio, voltados especialmente para a produção sustentável, educação e saúde das populações extrativistas da reserva. Na segunda etapa, a HRT completará uma cota de R$ 20 milhões, em parcelas, até 2013, no Fundo Permanente da FAZ, com o qual será possível incluir mais oito mil famílias no Programa Bolsa Floresta.

O projeto é legal, a FAS é reconhecidamente competente... mas isso torna um barril de petróleo “verde”?

Para ser considerado “verde”, esse barril não deveria provocar impactos ambientais. Considerando-se que a HRT tenha mitigado o estrago ambiental que a abertura de poços de petróleo na Amazônia obrigatoriamente provocam e que também tenha reduzido ou até compensado o impacto social de sua presença na região, ainda assim esse barril de petróleo tem um sério impacto ambiental: sua queima gera gás carbônico – aquele mesmo que causa o efeito estufa. Aliás, esta semana está acontecendo em Bonn uma nova rodada de negociações climáticas – e, já pedindo perdão pelo trocadilho infame, sob um clima nada agradável: aumentaram, em 2010, as emissões globais de CO2 e, com isso, sua concentração na atmosfera anda beirando as 400 partes por milhão. Tudo, como já foi comprovado pelos cientistas, por causa da ação do homem. Mais especificamente, por causa da queima de combustíveis fósseis. Por causa da queima do petróleo.

Então, para ser efetivamente verde, as emissões desse barril deveriam ser compensadas. Um barril de petróleo emite em média 0,5t de CO2. Como os créditos de carbono estão na faixa entre R$ 27,00-36,00 por tonelada, isso significa que neutralizar um barril custa algo entre R$ 13,50 e R$ 18,00.

Sem desmerecer o alcance da iniciativa, mas não é por acaso que pagar R$ 1 é bem mais barato: é porque esse valor e essa iniciativa não deixam um barril de petróleo “verde”.  Que tal mudar o nome?

2 comentários:

  1. Também postei sobre isso e citei este blog. Tomara que repercussão negativa previna novos casos como esse no futuro. Parabéns, Silvia, post impecável.

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  2. Obrigada, Carolina. Vi seu texto e já o compartilhei no twitter e facebook porque só denunciando é que conseguiremos criar massa crítica. Porque quem não acompanha de perto a questão dos combustíveis fósseis pode não se dar conta do exagero que é o nome dado a esta ação. Me lembra uma divulgação da Souza Cruz dizendo que havia neutralizado todas suas emissões. Só se esqueceram de contabilizar a fumaça dos cigarros que eles produzem - risos!

    Abs,

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