Meio ambiente não é só floresta. Mas é também floresta.

A MP da Grilagem foi aprovada esta semana no Congresso. Fiquei indignada e enviei carta de protesto para a Senadora Kátia Abreu, líder da bancada ruralista, com cópia para O Estado de S. Paulo,que a publicou na versão eletrônica do Fórum de Leitores. Resultado: minha caixa de emails está sendo invadida. Alguns se identificam, outros permanecem anônimos. Em comum, há um tom raivoso contra “essa gente da cidade” que não conhece e não entende os problemas do homem do campo. E vários argumentos se repetem: é preciso mais terra para plantar comida; sem agricultura ou pecuária não há condições dignas de sobrevivência na Amazônia; agricultura é desenvolvimento e floresta é atraso; com quê moral vocês que destruíram o Tietê veem falar da gente...

Tem muita frase de efeito que carece de fundamento. Mas há também verdades: a falta de uma política ambiental séria deixa o produtor sério em um imbróglio, pois as atuais estruturas ditas de “preservação” só favorecem a corrupção e o corrupto. A lentidão do Ibama e dos órgãos ambientais estaduais é conhecidíssima para além da fronteira rural! Idem para o jogo de empurra-empurra de responsabilidades que impede a instalação de negócios legais, em todos os sentidos da palavra. Na prática, o governo finge atuar e as pessoas fingem respeitar a lei, como em tantos outros aspectos de nossa vida. Só que agora a questão ambiental adquiriu uma importância que não era percebida antes: dela, depende a sobrevivência de nossa espécie – daí o interesse do povo da cidade pela floresta, daí a pressão internacional...

Ocorre que, como muito bem disse o Christian Gasparotto, de Juara, no Mato Grosso: meio ambiente sem levar em consideração o fator homem não é meio ambiente. Porque meio ambiente não é só floresta.

Meu amigo, você tem toda razão!

Quando falamos de sustentabilidade, é de pessoas que estamos falando. Porque o planeta vai sobreviver, mesmo que a temperatura se eleve 100 graus. Nossa espécie é que pode perecer no meio do caminho. Para que isso não aconteça, precisamos reduzir drasticamente a emissão de CO2. Ou seja, precisamos parar de queimar floresta indiscriminadamente para gado e soja – um cenário que tende a se agravar com a MP da Grilagem.

Mas como já tive a oportunidade de escrever aqui, a sanha dos ruralistas no Congresso está levando os ambientalistas a defenderem uma estrutura que não é defensável. Todos nós sabemos que o atual modelo de defesa do ambiente está equivocado – a começar pelo fato de que não existe uma base de conhecimentos técnicos que permita formatar uma política ambiental séria e eficiente para a Amazônia, como o pessoal do Imazon já cansou de falar. Porque preservar não é só manter árvore em pé: é preciso saber como inserir as populações de forma digna e sustentável nesse meio.

Para que isso fosse possível, seria necessário parar de brigar e começar a cooperar. Pois uma política ambiental legítima e exeqüível precisa incluir o lado do produtor agrícola, do pecuarista, das comunidades da floresta e também de nós aqui, das cidades, que dependemos da função reguladora do clima exercida pela floresta e que precisamos de seus frutos e suas riquezas. Só que isso exige ceder. Na democracia, para ganhar é preciso perder.

Então, não vamos ter a floresta totalmente intocada. Mas ela não será totalmente devastada. O agricultor e o pecuarista terão que focar mais nas áreas degradadas. E nós, contribuintes, vamos ter que pagar impostos para ajudá-los a recuperar tais áreas. Os povos da floresta vão ter aprender o manejo sustentável – e entender seus potenciais e limites. O governo vai ter que parar de criar dificuldades para vender facilidades e se contentar com o dinheiro arrecadado legalmente, por meio de impostos.

Enfim, cada um vai perder um pouquinho – mas, no conjunto, todos poderão ganhar mais do que ganham hoje.

O que não podemos permitir é o radicalismo: meio ambiente sem o homem não é meio ambiente. Mas homem sem meio ambiente não sobrevive.

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