O que queremos preservar

Sustentabilidade, preservação, conservação: por trás de termos muito usados por governos, ONGs e empresas está a noção de manter as coisas como estão. Como se congelar o mundo, parar o tempo fosse a solução: parar de emitir CO2, parar a crise financeira... Esse significado latente passa uma mensagem equivocada. Porque o mínimo que temos a fazer é questionar se realmente queremos preservar os valores sociais e as práticas econômicas que nos trouxeram, por exemplo, até o atual nível de desigualdade e injustiça sociais.

Os números mais recentes do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) divulgados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento mostram que de uma população de 6,71 bilhões (de acordo a Divisão de População do Departamento de Economia e Assuntos Sociais da ONU), pouco mais de 5 bilhões vive em nações com PIB per capita abaixo da média, que é de US$ 9.316. Os dados são referentes a 2006 e mostram uma distância que tem aumentado ao longo do tempo, não só entre países, mas também dentro deles.

A lista envolve 180 nações para as quais há informações disponíveis. Na ponta de baixo, os 20% de países com menor PIB per capita (indicador usado para medir renda no IDH) ganham em média US$ 1.461 e abrigam pouco mais de 1 bilhão de pessoas. A África abriga a maioria dessas nações (36), dividindo o a lista com a Ásia (sete), Oceania (três) e o Haiti. Já na ponta de cima – que também abriga 1 bilhão de pessoas – o mesmo indicador de renda pula para US$ 33.200, mais de 22 vezes o PIB per capita dos países mais pobres. Já nos melhores indicadores destacam-se Luxemburgo (US$ 77.089 de PIB per capita), Qatar (US$ 72.969) e Noruega (US$ 51.862). A desigualdade entre o começo e o fim da lista é gigantesca. Luxemburgo tem 274 vezes a renda da República Democrática do Congo. E esta disparidade tende a aumentar mesmo que a economia não se deteriore, já que muitos dos países com pior renda per capita têm taxas de natalidade mais elevadas que o restante.

As informações sobre o PIB per capita divulgadas com o IDH e usadas nesta comparação são ajustadas pela Paridade de Poder de Compra (dólar PPC), método que elimina as diferenças de custo de vida entre os países. Mesmo assim, o PIB per capita (soma dos bens e serviços produzidos pelo país, dividida pela população) pode apresentar distorções, devido a desigualdades internas. Ele não necessariamente se reverte no bem-estar da população. É o caso, por exemplo, de países africanos ricos em petróleo, como a Guiné Equatorial, que está na lista dos países com maior PIB per capita (US$ 27.161), mas tem expectativa de vida de apenas 50,8 anos.

É muito fácil falar que não podemos negar aos pobres o direito de serem incluídos. Uma frase irretocável. Mas que inclusão temos a oferecer a estas pessoas? Baseada no mesmo modo de produção e consumo que as empobrece? É justo manter um discurso aparentemente desenvolvimentista, mas que no fundo defende um sistema altamente excludente? Pense nisso, na próxima vez que ouvir falar no desenvolvimento da Amazônia...

(Fonte: PNUD)

o mapa mostra onde moram as pessoas que ganham menos de US$ 10 por dia

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