Indústria Alimentícia, o filme

Uma pena que Food Inc., que estréia hoje nos EUA, não tenha chegado também ao Brasil: o filme traria uma interessante contribuição ao debate sobre o real custo (ambiental e social) da produção de alimentos, que no momento engloba apenas a questão da Amazônia por conta da reação da opinião pública à MP da Grilagem. Porque, para variar, a questão é mais complexa: a produção de alimentos envolve uma riquíssima e poderosa cadeia que se inicia no campo, passa por multinacionais poderosas e conta com o apoio governamental para perpetuar um sistema que gera milhões de doentes ao ano e reduz (mesmo que não intecionalmente) a biodiversidade.

O produtor e diretor Robert Kenner e os autores Eric Schlosser (Fast Food Nation) e Michael Pollán (The Omnivore's Dilemma) buscam provar que a indústria alimentícia tem frequentemente colocado o lucro à frente da saúde dos consumidores, da subsistência dos agricultores, da segurança dos trabalhadores e do cuidado com o ambiente. A tese principal é: toda a tecnologia desenvolvida visa uma produção mais eficiente e lucrativa, independente de suas conseqüências. Daí o motivo pelo qual as grandes empresas do setor alimentício hoje fazem uso amplo de técnicas industriais vinculadas a problemas crescentes, como obesidade, diabetes, salmonela, cepas tóxicas da bactéria comum E. coli, e poluição ambiental. Acusações pesadas, ilustradas por imagens rodadas dentro de unidades de produção de gado bovino e suíno e de frangos. Algumas foram gravadas por trabalhadores imigrantes, mostrando a falta de espaço dos trabalhadores e dos animais.


E antes que você diga: "ei, mas aqui no Brasil não comemos fast food que nem nos EUA!", nos grandes centros urbanos a diferença não é tão grande assim, Coincidentemente, os índices de obesidade e doenças provocadas por uma alimentação inadequada também não mudam muito, quando comparamos São Paulo e Nova York, por exemplo.

Contundente, o filme traz alguns dados sobre o mercado norte-americano que nos fazem pensar até que ponto a indústria alimentícia merece a boa imagem que a opinião pública geralmente lhe atribui:

* Na década de 1970, os cinco principais processadores de carne respondiam por cerca de 25% do market.mercado norte-americano. Hoje, os quatro maiores controlam 80% do mercado.
* Na década de 1970, eram milhares de matadouros. Hoje, são 13.
* Em 1998, o USDA (o Ministério da Agricultura deles) implantou um teste para salmonelas e E. coli e quem falhasse várias vezes teria a fábrica fechada. As associações dos produtores foram aos tribunais e hoje o USDA já não tem esse poder.
* Em 1972, a FDA (a Anvisa deles) realizava 50.000 inspeções de segurança alimentar. Em 2006, foram apenas 9.164.
* Durante a administração Bush, o chefe da FDA foi a ex-VP executiva da Associação Nacional de Processadores de Alimentos.
* Durante a administração Bush, o chefe de staff do USDA foi o ex-lobista da indústria da carne bovina.
* Em 1996, quando introduziu a soja transgênica, a Monsanto controlava apenas 2% do mercado americano dessa oleaginosa. Agora, mais de 90% da soja produzida nos EUA tem genes patenteados pela empresa
* 70% dos alimentos processados têm algum ingrediente geneticamente modificado.
* 1 em cada 3 americanos nascidos depois de 2000 terá diabetes precoce, proporção que se eleva para 1 em cada 2 no caso das minorias.
* Focos de E. coli e Salmonella tornaram-se mais frequentes na América: em 2007, 73.000 pessoas ficaram doentes por causa do E. coli vírus.

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