Por que o Meio Ambiente não entra na agenda do governo federal

Teve grande repercussão na mídia a declaração de Bill Clinton sobre a necessidade de se preservar a Floresta Amazônia. Deve ter sido porque as palavras saíram da boca de um ex-presidente dos Estados Unidos, já que certamente não foi pela novidade da recomendação. Há décadas que se ouve falar nisso, pelas mais variadas vozes, com os mais diversos enfoques e com resultados invariavelmente nulos. Ignorar a Amazônia e tratar com desdém as questões ambientais une direita e esquerda, PT e PSDB , separados em tantos outros temas. Por que?

Da parte do PSDB, a resposta óbvia é a adesão sem críticas ao modelo neo-liberal, que vê no crescimento econômico a panacéia para todos os males (sociais, ambientais, etc) e não questiona o custo das externalidades geradas pelo moto perpétuo da expansão. Mas, da parte do PT??? Do PT esperávamos maior sensibilidade – a vitória da esperança – às questões sociais e ambientais ignoradas pela prevalência do raciocínio estritamente econômico. E o que temos visto é uma tradução das brigas de poder em Brasília como um antagonismo irreversível entre desenvolvimento econômico e preservação ambiental.

De um lado, a Casa Civil, a Secretaria de Assuntos Estratégicos e os Ministérios da Agricultura, dos Transportes e das Minas e Energia, além da bancada ruralista. Do outro, temos a opinião pública consubstanciada em pesquisas e representada em ONGs, além do Ministério do Meio Ambiente. Parece a luta do bem contra o mal, né? David e Golias! Mas um olhar mais atento ao lado do “bem” mostra que, na verdade, ele se move por meio de um sistema falho, minado por uma burocracia ineficiente e corrupta e ridiculamente pequena para dar conta da missão que se propõe.

Sim, temos uma das legislações mais modernas do mundo e precisamos defendê-la. Mas não podemos perder de vista o fato de que a lei não se cumpre na prática e que, por isso, estamos na verdade defendendo a preservação de algo que precisa, sim, ser rediscutido pela sociedade. E essa é a grande ironia: no afã desenvolvimentista, o governo colocou os que são a favor do meio ambiente na inconveniente posição de defender modelos mofados e ineficientes – que contrastam com a suposta “modernidade” daqueles que querem que o país cresça para que todos cresçam.

E aqui está o motivo pelo qual PT e PSDB unem-se na indiferença ao meio ambiente: porque ambos comungam da crença de que o bem-estar do povo vem do crescimento contínuo da economia. Não podemos nos esquecer de que o PT nasceu do movimento sindical, em centros urbanos, no seio da indústri. Ele traz a ótica do trabalhador (defesa do emprego, benefícios, participação dos lucros), porém dentro da lógica da indústria, que é o pensamento econômico tradicional: entrada de matéria prima, transformação, saída de produto. De onde vem a matéria prima, qual o impacto de sua obtenção e o que acontece com o produto não interessam ao patrão e ao trabalhador.

Ironicamente, o movimento sindical que originou o PT está hoje à sua frente: a CUT, por exemplo, tem estruturas para lidar com questões ambientais e está fomentando, por meio do Instituto Observatório Social, a análise da atividade econômica pelo viés da sustentabilidade. Objetivo? Criar uma nova plataforma de negociações entre patrões e trabalhadores em linha com as necessidades do Século XXI. As quais PT e PSDB, firmemente apegados ao Século XX, insistem em ignorar.

Um comentário:

  1. Silvia,
    muito bom. Essa lógica próxima entre empresa e trabalhador a favor do desenvolvimento está evidente nas discussões da ISO 26000.
    Na sua lista, crescento o Itamaraty, em especial O Celso Amorim, como mais um órgão contra a preservação.
    Temos pouco mais de um ano pra construir uma alternativa a esse binômio da escolha perversa entre PT ou PSDB.
    Abraço,
    João

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