Que mundo queremos para nós?

Ouvi essa pergunta ontem no encerramento da Conferência Internacional do Ethos dentro de um painel que falava de mudanças climáticas. Quando a fez, Antonio Nobre, Pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), queria chamar a atenção para o fato de que os prognósticos de aquecimento global já valem para nós – e não apenas para “nossos filhos”, designação genérica que tem sido usada para indicar as futuras gerações e que nos deixa uma falsa impressão de segurança.

De acordo com o pesquisador, mesmo as simulações mais radicais feitas pelos cientistas ficaram aquém do que tem sido registrado nos últimos anos em termos de degelo das calotas polares e acumulação de CO2 na atmosfera, por exemplo. Diante dos dados apresentados, choca perceber como a agenda política ainda domina as negociações para a Conferência sobre Mudanças Climáticas que acontecerá em Copenhagen no final deste ano – e onde supostamente as nações participantes da ONU deverão firmar um compromisso que dê continuidade ao Protocolo de Kyoto, cuja vigência expira em 2012. Sérgio Besserman, presidente do Câmara Técnica de Desenvolvimento Sustentável e Governança Metropolitana da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro (CADEGOM) e que moderava o painel , chegou a confessar seu ceticismo sobre o resultado do encontro da ONU, ao ser questionado sobre o tema.

Mas outro contexto me faz pensar nessa pergunta: a morte de Marcelo Campos, espancado após a Parada Gay. Porque não se trata de um fato isolado – milhares de pessoas são vítimas de violência simplesmente pelo fato de “serem diferentes”. Esse universo inclui gays, negros, índios, mulheres, os torcedores do time adversário, pessoas acima do peso, idosos, migrantes, judeus, praticantes do candomblé, pobres...

Sobrou quem mesmo??

Sob a égide de “minoria” está a maioria da população. Que, vista como minoria, perde relevância política, já que a democracia é a voz da “maioria”: minoria é um conceito que suga a cidadania do indivíduo e subtrai direitos. E olhe que nem falando de união civil estável entre gays: tente adotar uma criança sendo mulher solteira e veja que beleza é não ter um macho supostamente provedor para apresentar às autoridades! Minoria é um conceito que reduz o valor do indivíduo e implode sua auto-estima: converse com qualquer mulher e descubra o peso de a) não ter um companheiro; b) não ter um, corpo legal; c) não ter filhos; d) não conseguir conciliar família e trabalho; e) ter o cabelo crespo (!!). Minoria é uma premissa que é usada para justificara violência física, sexual ou moral: quantas mulheres já engoliram caladas o nojo de ser olhada como um pedaço de picanha?

A morte de um gay é a ponta de um iceberg feito de situações cotidianas, corriqueiras, tão introjetadas que são vistas como fatos da vida.

Se este não é o mundo no qual você quer viver, participe da manifestação de protesto contra a homofobia que acontece neste sábado, 20 de junho na Av. Dr. Vieira de Carvalho, atrás da Praça da República. Faça como os gays: organize-se, proteste e não aceite a discriminação.

Maioria não existe. Somos todos minoria.

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