Mais que um debate, foi um exercício de compartilhamento das dúvidas e dificuldades e ossos do ofício de cada um. De um lado, três jornalistas especializados em sustentabilidade: Amélia Gonzalez, editora do suplemento Razão Social do jornal O Globo, Alexandre Mansur, editor de ciência e tecnologia da revista Época da revista Época e Amália Safatle, editora da revista Página 22. Do outro, três representantes de empresas: Augusto Rodrigues, diretor de comunicação empresarial da CPFL, Daniela di Fiori, vice-presidente de assuntos corporativos e sustentabilidade do Wal-Mart, e Nemércio Nogueira, diretor de assuntos institucionais da Alcoa América Latina e Caribe da Alcoa. A pauta: as relações entre imprensa e empresas. Abaixo, alguns dos pontos altos da conversa:
“A sustentabilidade permeia tudo, essa é sua característica. Então a cobertura jornalística tem que ganhar em profundidade e em horizontalidade e isso é um desafio absurdo! O jornalismo ainda não descobriu o caminho para resolver isso.”
Amália Safatle, Página 22
“A complexidade da sustentabilidade deixa a imprensa perplexa. A imprensa aprende no estudo de casos, na cobertura e em cursos. Uma das coisas que a imprensa pode fazer (para gerar uma cobertura mais justa do tema) é criar critérios, por exemplo, prêmios.”
Alexandre Mansur, Época
“Quem cobre responsabilidade social é sustentabilidade ainda é visto como nicho dentro da redação. O que provoca isso é o que também provoca a não punição das empresas que ñjao são sustentáveis pelo consumidor. O jornalista é parte da sociedade e é também afetado pelo ceticismo de anos e anos de empresas sem conexão com a sustentabilidade.”
Amélia Gonzales, O Globo
“A Página 22 nasceu da dificuldade de desenvolver um trabalho de interligar esses assuntos [de sustentabilidade] na pauta. Sempre tive dificuldade em fazer as pessoas entenderem essas interligações em veículos tradicionais. Ainda é um assunto discriminado. Existe uma percepção de que meio ambiente e temáticas sociais são assuntos menores que economia e política. E está tudo interligado!”
Amália Safatle, Página 22
“Não existe um conceito comum sobre o que é sustentabilidade. O que se consegue é levantar bons exemplos em temas específicos. Não queremos só apontar problemas, queremos apontar caminhos usando bons exemplos. Mas morro de medo de entrar em engodo. E já entrei. Quando se investiga direito, 90% do que as empresas falam não fica de pé.”
Alexandre Mansur, Época
“O jornalista demora a perceber quando é marketing verde. A principal técnica para identificar é ouvir os stakeholders da empresa para checar as informações. Outra maneira é fazer pesquisa, ver a história da empresa. Outra ferramenta são os indicadores Ethos, GRI, ISE. Nenhum é perfeito, mas dão pistas. Não são perfeitos porque quem dá das informações são as próprias empresas e pode ser que elas não dêem 100%, mas só 98%.”
Amália Safatle, Página 22
“O retorno que tenho dos meus colegas de economia é que as empresas só falam comigo porque não vou mexer na caixa preta.”
Amélia Gonzales, O Globo
“É natural que a empresa queira se resguardar de qualquer coisa que seja problema à imagem, à reputação. Isso é agravado pelo mercado de capitais. Mas na minha vida profissional, não houve situação em que não fosse possível dar à imprensa a informação possível de ser dada naquele momento. Não estou dizendo que seja fácil, mas é possível.”
Nemércio Nogueira, Alcoa
“Há um conceito de marketing tradicional que orienta e complica as relações entre empresa e imprensa. Mas o papel da imprensa de apontar problemas ganha cada vez mais importância. Há uma transformação provocada pelo dedo que a imprensa põe na ferida das empresas.”
Augusto Rodrigues, CPFL
“A Alcoa atua com terra, água e gente. Por isso, tem que se enquadrar no melhor padrão possível. Juruti (nova mina de bauxita localizada no Pará) quer ser um modelo de mineração para o século XXI. Vai dar certo? Não sei. Estamos tentando. Mas a unidade deve operar por 70 ou 80 anos. Se não tiver um comportamento que se coadune com as demandas sociais e ambientais, não tem vida útil.”
Nemércio Nogueira, Alcoa
“O medo das empresas é que um erro surja como fato principal da notícia. As empresas estão em fase de transição para a sustentabilidade e tem muita coisa certa e muita coisa errada e tudo está interligado.”
Augusto Rodrigues, CPFL
“Sustentabilidade não é RP ou relações comunitárias. Não é algo que se suspende. Ou se é sustentável ou não é. Porque sustentabilidade é uma estratégia de operação.”
Nemércio Nogueira, Alcoa
“Os veículos pequenos, de nicho, refletem a diversidade. A falta de veículos pequenos no Brasil reflete a falta de apoio à diversidade.”
Amália Safatle, Página 22
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