É nóis na contramão!

A NOAA-National Oceanic and Atmospheric Administration divulgou a nova media mensal de dióxido de carbono na atmosfera, medida no observatório de Mauna Loa, no Havaí. De acordo com a entidade, a concentração atual é de 386 partes por milhão (ppm) e o crescimento está se dando a uma média de 1,5 a 2,5 ppm. O problema é que o ponto de ruptura estimado pelos cientistas fica entre 450 a 500 ppm – quantidade que, na atual média de crescimento, será atingida daqui a meros 32 anos. A partir desse nível, o comportamento do clima deixará de seguir os modelos conhecidos atualmente.

Pelo rumo dos debates pré-Copenhagen, a medição de carbono na atmosfera deve nortear as medidas que a Conferência Mundial do Clima deliberará em dezembro: uma maneira mais didática que ajuda a tornar o assunto compreensível para governantes e para a sociedade. Por este motivo, começou o embate pela definição de qual é o point-of-no-return, ou seja, do ponto a partir do qual não há volta. Novas pesquisas o colocam em 350 ppm – patamar que atingimos há mais de oito anos.

Entre os defensores das 350 ppm está James Hansen, expert em clima da NASA. Em seu estudo “Mirando o CO2 Atmosférico: Onde a Humanidade Deveria Focar?”, ele defende que é possível voltar a esse nível se: 1) deixarmos de usar o carvão - aqui ele fala com EUA e China, onde o carvão ainda é uma importante fonte de energia; 2) se adotarmos práticas agrícolas e florestais que seqüestrem carbono. Este ponto fala direto ao Brasil, onde desmatamentos e queimadas para abertura de novas áreas para agricultura e pecuária respondem por nada menos que 75% das emissões de CO2 do País – em todo o mundo, essa média é de 18%, segundo o World Resources Institute.

Mas por aqui o debate é outro: sob um discutível manto de “desenvolvimentismo”, ruralistas e uma ampla frente de governo empenham-se em legalizar o desmatamento. Ao fazer isso, estão dando um tiro no nosso pé, como Washington Noves explicou magistralmente em artigo publicado no Estadão. E no pé deles também: o etanol, por exemplo, é recebido com muita reserva em outros países por conta das queimadas – ao falar de Amazônia no primeiro dia do Ethanol Summit aqui em São Paulo, Bill Clinton o fez com legitimidade porque reverberava a opinião pública mundial. Com a doença da vaca louca sob controle, quanto tempo demorará para que as queimadas não se voltem também contra nossos “pujantes” frigoríficos”? O estudo do Greenpeace divulgado esta semana sobre a farra do boi na Amazônia já sinaliza nessa direção.

Diante desses fatos, é risível a declaração de Aldo Rebelo de que a questão ambiental é uma forma de protecionismo não tarifário. Sim, ela pode ser usada nesse sentido. Mas se fosse apenas uma questão econômica e se o Brasil não tivesse telhado de vidro, seria muito fácil reverter essa situação na OMC. O problema é que não é mais uma questão econômica. Favorecer o desmatamento e permitir queimada é um crime contra a humanidade, como Hugo Penteado explica em artigo publicado na Eco Finanças.

Mas enquanto eu me descabelo e 94% dos brasileiros são contra o desmatamento, segundo pesquisa da Folha de S. Paulo e Amigos da Terra, os ruralistas avançam como um trator em nosso Congresso. E enquanto eu escrevia este texto, puseram fogo em uma árvore que fica em frente à minha casa, do outro lado da rua. Ninguém sabe quem foi, ninguém viu, ninguém entende o motivo. Mas na véspera do dia do Meio Ambiente uma palmeira ardeu até morrer na minha frente.

É nóis na contramão da história, mano!

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