EUA e China divergem sobre emissões de CO2

Nas reuniões preparatórias para a Conferência Internacional do Clima, que será promovida pelas Nações Unidas em dezembro deste ano na cidade de Copenhagen, na Dinamarca, uma disputa ganha corpo: China e EUA. Parceiros econômicos estratégicos (a flexibilização do regime comunista deu-se mediante a garantia de consumo norte-americano), as duas potências enfrentam seu primeiro grande desentendimento público na questão ambiental.

Para os EUA em crise, a economia verde foi vendida pelo presidente Barack Obama como um dos caminhos de recuperação. Para a China que ambiciona ser a próxima grande potencia mundial, o desenvolvimento econômico é prioridade absoluta. Mas a queda de braço envolve mais que metas de redução de CO2: envolve mecanismos de financiamento e, eventualmente, transferência tecnológica. Para um país habituado à cópia e a pirataria, é sem dúvida motivo suficiente para endurecer nas negociações. Tanto que o porta-voz do ministério chinês das relações exteriores declarou hoje que o país não aceitará cortes na emissão de CO2 e que está aberto apenas a rever sua matriz energética, comprometendo-se a usar 20% de fontes renováveis até 2020. A meta, idêntica à da União Européia, deve ser facilmente atingida porque a China já começou a investir nesse front: este ano, por exemplo, ela lidera os investimentos em energia eólica em todo o mundo.

Embora o jornal China Daily tenha publicado declaração de um emissário norte-americano concordando que não haverá corte de emissões no império do centro, no britânico Guardian porta-vozes do governo norte-americano alertam que todos os cortes dos demais países não adiantarão nada se a China, que responde por 20% das emissões de CO2 no mundo, não fizer nada.

Nessa batalha de declarações e entrevistas, a posição chinesa ganha força com o anúncio, feito hoje pelo governo japonês, de que o país do sol nascente – quinto maior emissor de CO2 atualmente – se compromete com uma meta de apenas 8% em 2020, em relação aos números de 1990 (base para o Protocolo de Kyoto). Na defesa desse percentual pífio, o governo do Japão alega que se trata de uma redução “pura”, que não contabiliza créditos de carbono, como tem feito a União Européia – obviamente, uma péssima manobra diplomática, já que não torna a decisão mais palatável para o resto do mundo e ainda cria um atrito desnecessário com as nações do velho continente.

Só que a posição retranqueira do Japão fortalece a agressividade chinesa, que junto com Brasil e Índia estão batalhando por metas e mecanismos diferenciados para as nações em desenvolvimento. Ok, 75% do carbono que está no ar foi emitido por países desenvolvidos, portanto a conta deles não pode ser a mesma que a das nações em desenvolvimento ou subdesenvolvidas. Mas isso não pode ser desculpa para que os BRICs prolonguem modos de produção ambientalmente insustentáveis e socialmente injustos – como a prevalência do carvão na matriz energética chinesa ou a MP da Grilagem, no caso brasileiro.

Frente à imobilidade das negociações, um grupo de cientistas do G8 + 5 nações em desenvolvimento (Brasil, China, Índia, México e África do Sul) divulgou um documento no qual conclama as nações a acelerarem a transição para uma economia de baixo carbono. A iniciativa integra as inúmeras manifestações da comunidade acadêmica e de pesquisas para que as partes envolvidas nas conversas sobre mudanças climáticas comecem a cooperar. Já está mais do que na hora!

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