A sustentabilidade, segundo a Alcoa

Tive o prazer de acompanhar a palestra de Nemércio Nogueira, diretor de Assuntos Institucionais da Alcoa, no 12º Congresso Brasileiro de Comunicação Corporativa (*), a qual teve início com uma proposta instigante: demonstrar como a Alcoa tem o direito de usar seu atual slogan “Sustentabilidade é a nossa natureza”.

Para tanto, ele lembrou que quando a empresa se instalou no Brasil, na década de 60, não havia legislação exigindo a revegetação de áreas mineradas. Por consequência, não havia know how em nosso país – ninguém sabia como fazer! Pois a Alcoa criou um sistema de revegetação, inspirando-se no modelo australiano (na época, o mais avançado), porém adaptando-o às condições locais de Poços de Caldas, MG, por meio de parcerias com universidades (Viçosa, Lavras, USP, Unicamp). A legislação que passou a exigir tal prática das mineradoras só veio em 1988 – e o primeiro manual do Ibama a respeito, publicado em 1990, foi redigido por um funcionário da Alcoa.

Já no final dos anos 70, a empresa decide abrir uma unidade fabril na ilha onde fica São Luís do Maranhão. Os habitantes, na época sem familiaridade com a atividade industrial, receberam a notícia com desconfiança. Ou melhor: com a boca no trombone, já que era o fim da ditadura e todos estavam ávidos para se expressar. A democracia era mote e, em sintonia com o zeitgeist, a Alcoa firma três compromissos éticos para atender as demandas da população: 1) elevar a qualidade de vida; 2) alavancar a economia local; 3) conservar o meio ambiente. Tais compromissos foram atendidos por meio de investimentos que permitiram o fornecimento estável de água e energia elétrica à população; a implantação de um projeto ambiental sofisticado, que já incorporava um parque ambiental dentro da área da fábrica; geração de impostos e apoio ao desenvolvimento de fornecedores locais; e com o investimento social externo conduzido pelo Instituto Alcoa.

Hoje o desafio é Juruti, no norte do Pará. Esse pequeno município, que em seus 125 anos de história só recebeu a visita de um governador do Estado há três anos (por conta do projeto da Alcoa), está entrando no mapa da sustentabilidade da indústria mundial de mineração. Pois é objetivo da Alcoa criar um modelo de implementação aplicável a outros lugares no Brasil e nos demais países onde a empresa atua. Para tanto, a companhia investiu no diálogo com as partes interessadas - em sintonia com a absoluta liberdade de expressão, com a tolerância institucional aos movimentos sociais e com a comunicação global instantânea que caracterizam nossos tempos.

A principal parte interessada é a comunidade local. Pois para ela, além dos mecanismos de diálogo já previstos em lei (como as audiências públicas), foram criados canais e ferramentas específicas de interação com a Alcoa e com as outras partes interessadas: as demais empresas que atuam na região, o poder público e ONGs. Juntos, eles integram o Conselho Juruti Sustentável, modelo desenvolvido pelo Centro de Estudos da Sustentabilidade da FGV que prevê a efetiva participação das partes, a construção de indicadores materiais (no sentido AA1000 do termo, ou seja, definidos pela comunidade) e a criação de um fundo de desenvolvimento, que, neste caso, é gerido pelo Funbio. Trata-se de uma audiência pública permanente, segundo Nemércio.

Se o diálogo é diferente, a compensação ambiental não poderia ser a mesma. E não é: ciente de que os recursos são finitos e de que um dia a mineração acabará (ainda que daqui a um século), a empresa está fazendo investimentos maciços (financeiros, humanos e técnicos) para elevar o IDH do município e reduzir a dependência da população local. Detalhe: os investimentos foram definidos em conjunto com a comunidade, em audiências públicas em Juruti, Santarém e Belém que, juntas, reuniram oito mil pessoas.

Ao final, Nemércio destacou que sustentabilidade é comportamento – é a alma da companhia: “ Em épocas de crise, pode ser que seja inevitável cortar projetos. Mas não se corta atitude. Ela permanece naquilo que sobreviveu aos cortes. Não se pode encarar sustentabilidade como um projeto, mas como uma maneira de ser. Esta é a única maneira de se pensar isso, senão vira campanha de RP. E sustentabilidade não é marketing, não é RP, é muito mais que isso”.

Para mim, ficou provado que a Alcoa tem o direito de usar o slogan “Sustentabilidade é a nossa natureza”. E você, o que acha?

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(*)12º Congresso Brasileiro de Comunicação Corporativa
De 27 a 29 de maio de 09
Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo, SP

Cobertura: http://12cong.blogspot.com/
Realização: Mega Brasil –
www.megabrasil.com.br

3 comentários:

  1. Oi Silvia, tudo bem.
    Nao sabia disso.

    Um lindo dia!

    Abracos

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  2. Silvia,

    Não creio que a Alcoa possa usar o slogan.
    O conselho de sustentabilidade é um tremendo trabalho e muito louvável, mas não consegue solucionar problemas estruturais da presença da empresa na região: inflação de absolutamente tudo (inclusive gasolina e sal, que os ribeirinhos compram na cidade), prostituição infantil, violência, e meio ambiente detonado.

    A Camargo Corrêa não pensa tão parecido quanto a Alcoa, e representa perto de 4.000 pessoas nas obras. A alcoa não tem 10% desse povo lá.

    Morei em Juruti por oito meses, trabalhando com comunidades atingidas pela Alcoa. Serviu para mostrar que a única atuação sustentável da Alcoa seria a não-atuação.

    Abraços.
    Rafael

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  3. O que mais amo na comunicaçao 2.0 é que ela é um exercício prático de democracia, que só existe mediante o livre debate de idéias diferentes. Respeito sua percepção, Rafael, e não duvido que você tenha bases sólidas para tê-la. Mas eu trabalhei com Alcoa e conheço a empresa por dentro. E eu conheço gente que foi para Juruti e morou lá. E pela minha experiência e pela experiência dessas pessoas, sei que não se trata de discurso vazio. Respeito sua opiniçao, mas mantenho a minha: a Alcoa pode usar o slogan que escolheu.

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