Estudo da Estratégia Internacional para a Redução de Desastres, ligada às Nações Unidas, conclui que a soma do crescimento das favelas em todo o mundo com as mudanças climáticas resulta em riscos maiores de megadesastres. Esta equação aplica-se mais diretamente aos países em desenvolvimento, muitos dos quais não possuem mecanismos ou estruturas estatais de apoio à sociedade nesses momentos.
As 200 páginas deste estudo mostram como as variáveis ambiental, social e econômica estão intrinsecamente interligadas: a pobreza leva a população para áreas de risco que, por conta das mudanças climáticas, ficam mais expostas a acidentes. No caso da população rural, por exemplo, o estudo chama a atenção para o risco maior existente em regiões de desmatamentos de floresta, mais suscetíveis a deslizamentos, ou para os que habitam em regiões secas, que devem ser mais castigadas nos próximos anos.
E se a mudança climática amplifica o problema social, a falta de recursos econômicos dificultará cada vez mais que tais populações consigam absorver e se recuperar de tais impactos, que comprometem a própria economia como um todo: apenas em 2008, 300 desastres naturais provocaram prejuízos da ordem de US$ 180 bilhões. A parcela da economia global que é diretamente ameaçada por enchentes dobrou desde 1990.
Cerca de 900 milhões de pessoas vivem em favelas e assentamentos em localidades vulneráveis a desastres como inundações, ciclones e terremotos. Detalhe: essa população cresce a uma taxa média de 25 milhões de pessoas a mais por ano. Desde 1975, 1,7 milhão de pessoas morreram em 23 "megadesastres". Vinte e oito por cento mais pessoas correm o risco de perder suas casas, rendas e vidas hoje do que duas décadas atrás.
Embora seja inevitável lembrar das enchentes que estão atualmente afetando o Norte e Nordeste do Brasil – bem como das catástrofes que todo ano atingem Rio de Janeiro e Minas Gerais – o estudo indica que os maiores riscos estão na Ásia: três quartos das pessoas que correm o risco de morrer em enchentes em todo o mundo se concentram em Bangladesh, Índia e China.
PS - não deixe de ler o excelente artigo de José de Souza Martins, publicado no caderno Aliás do Estadão deste domingo, 17/05, sobre a maneira bastante peculiar com a qual nós, brasileiros, lidamos com a questão da enchente - transformando sua previsibilidade em um fator de adaptação que tolhe a efetiva solução dos problemas.
Foto do site da prefeitura de Rio do Sul, da enchente ocorrida na cidade em 1954.
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