Sobre o carro a hidrogênio e a democracia

Tô bege: o Obama cortou a verba de pesquisa para desenvolver carros movidos a hidrogênio. Motivo? O presidente norte-americano e seu secretário de Energia, Steven Chu, acreditam que os carros movidos a hidrogênio estão décadas longe do alcance do consumidor e, por isso, eles preferem redirecionar os recursos para soluções mais imediatas.

A grande ironia desta história é que a Honda já produz comercialmente um carro movido a hidrogênio. O Clarity já está disponível no Japão e – pasmem! – chegou à Califórnia em julho do ano passado!!!! Foi um lote pequeno, de 200 veículos, por conta da falta de infraestrutura de abastecimento: a montadora está construindo literalmente sua rede de “postos”, a Honda Energy Station.

Ou seja, fontes alternativas podem transformar uma montadora em uma empresa de energia! Sonho de consumo de muito presidente por aí: deixar de ser empresa de produtos, que fica lutando por vendas que muitas vezes acontecem uma vez na vida, e transformar-se em um prestador de serviço que vende todo dia, toda semana, todo mês...

Pois acredite: nesse ponto entrou outro argumento da dupla Obama/Chu contra o carro a hidrogênio - o custo de implantação da infraestrutura para abastecimento do consumidor. Ah, e eles também choram as pitangas por conta da suposta dificuldade de armazenar o hidrogênio, de produzir o hidrogênio...

Enquanto os EUA engavetam o uso do hidrogênio como fonte energética para veículos (para usos não-automotivos a verba permanece... engraçado, né?), o ônibus a hidrogênio começará a rodar aqui em São Paulo em julho. E os patrocinadores desse projeto acreditam que o Brasil pode se transformar em uma plataforma global de produção e exportação dessa tecnologia – como já acontece hoje, com a tecnologia flex, tão corriqueira aqui, mas que ainda é vista com desconfiança lá fora. Uma pesquisa da Johnson Controls mostrou que embora 90% dos americanos se mostrem abertos a esta tecnologia, 80% deles têm dúvidas se vale a pena adquiri-la.

Se no centro do poder ainda se caminha um passo para a frente e outro para trás (para não parafrasear literalmente o Lênin), aqui na periferia as perspectivas são melhores. Chegou ao mercado agora em março (e está vendendo que nem pãozinho quente) a primeira motocicleta bi-combustível do mundo, desenvolvida pela mesma Honda, do primeiro carro a hidrogênio produzido comercialmente no mundo.

Pois é, o problema não é tecnologia... Nem viabilidade econômica... Como em quase tudo, a questão é a vontade política (ou sua falta). O lobby sem dúvida é legítimo, mas se apenas as empresas o exercerem de forma organizada, não chegaremos a uma solução adequada para o conjunto da sociedade.

A questão é: de que forma eu e você podemos fazer lobby em prol dos nossos interesses? Você tem alguma idéia?

A foto é do Clarity, da Honda, em um posto de abastecimento de hidrogênio.

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