Imprensa e sustentabilidade

Eu trabalhava em uma empresa de Comunicação, muito forte na parte de Assessoria de Imprensa - pedi demissão hoje porque quero me aprofundar em sustentabilidade. Foi isso o que expliquei aos clientes e amigos com quem falei ao longo do dia. E foi por isso que tive conhecimento de depoimentos bastante tristes de jornalistas que cobrem o tema na imprensa brasileira:

1 - Quando perguntados diretamente sobre o tema, os profissionais especializados na área invariavelmente mostram-se bastante céticos. É quase uma unanimidade a queixa de que as empresas acham que sabem o que é sustentabilidade, mas que não sabem. Visão superficial do tema, greenwashing e o desânimo provocado pelo cancelamento de projetos em virtude da crise econômica são alguns dos motivos citados para justificar essa postura.

2 - Ao aprofundar a conversa, no entanto, detecta-se que o ceticismo também tem por origem a dificuldade que o repórter de sustentabilidade enfrenta dentro da redação: falta de espaço para suas matérias ou falta de destaque, quando se consegue o famigerado espaço. Motivo: "sustentabilidade não vende". Ou seja, não é a imprensa que não tem interesse - é o leitor.

3 - Há, ainda, a questão da coerência: falar sobre sustentabilidade trabalhando em empresas que não são sustentáveis e que não estão caminhando nessa direção. Porque inovações ocorrem, com o lançamento de portais de internet, novos projetos gráficos, revisão nas hierarquias, Projeto Isso, Projeto Aquilo... Mas não há qualquer esforço para elevar o nível de qualidade das relações humanas, para minimizar o impacto ambiental - e, em alguns casos, sequer para uma gestão financeiramente mais equilibrada!

De tudo isso, o que mais me assustou foi a falta de interesse dos leitores. Até que eu me lembrei de tudo que já li sobre os esforços das empresas de mídia impressa para rejuvenescer seus leitores. Até que me lembrei que a internet anda quebrando os jornais lá nos EUA. E que cresce a importância das mídias sociais como canal de informação para os jovens.

Em outras palavras, sustentabilidade pode não vender revista porque o público interessado pelo tema se abastece de informações em outras mídias. E já já essas pessoas estarão em posições de comando na política e na economia - inclusive nos grupos jornalísticos. Ainda que mais tarde que outras empresas, eles também terão que voltar-se à sustentabilidade se quiserem sobreviver na economia do século XXI.

(Pode me chamar de Polyanna, mas esteja certo de que o fim do monopólio da Grande Mídia não significa o fim dos leitores)

Um comentário:

  1. Silvia,

    Boa sorte nessa nova fase! Tenho certeza que terá muito sucesso!

    E concordo completamente com você, sustentabilidade já não é mais uma questão de gostar ou não, adotar ou não...virou essencial para sobrevivermos! E ai de quem falar o contrário!Rs

    Bjs

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