Me perdoem pelo sumiço
Aproveito para lhe desejar Boas Festas e um 2010 nota 10!
bjs,
silvia
Tem coisas que só dá para escrever no blog pessoal
A COP15 era para ser como a Primeira Guerra Mundial, a guerra para acabar com todas as guerras e que acabou gerando um dos massacres mais traumatizantes da história da humanidade. Aqui, a idéia era fechar um acordo que pudesse contribuir com a atual tendência de alteração do clima decorrente da ação humana. Ok, vamos deixar o romantismo e o exagero de lado: todo mundo sabia que não ia sair um acordo decente. Mas nunca ninguém pensou que no final os chefes de estado abandonariam a conferência dando coletivas para os jornalistas de seus países defendendo as posições retranqueiras e atacando-se mutuamente.
Para mim, da CoP15 ficaram as seguintes lições:
1 - Os Estados Unidos ainda são a grande potência hegemônica do planeta. Mesmo com uma economia combalida, mantêm o poder graças à relação simbiótica com a potência-to-be, a China. Juntos, eles afundaram, pelos países desenvolvidos e pelos países em desenvolvimento, as chances de um acordo minimamente decente. Pelo andar das conversas até agora, só houve consenso em relação ao limite de aumento da temperatura: 2 graus centígrados. Metas, financiamento, mecanismos de governança - tudo ficou em aberto.
2 - Falam que a questão ambiental é, na verdade, econômica. Não: a questão é política. Em duas dimensões:
2.1 A democracia imaginada no Iluminismo provou-se insuficiente para representar efetivamente os diversos setores da sociedade, que buscam novas formas de participação (ou engajamento, em comuniquês) das partes envolvidas (stakeholders - argh!). Com a comunicação on line, a articulação e a transparência crescem esponencialmente. A soma desses fatores faz com que os governantes tenham que adicionar uma nova peça no tabuleiro do xadrez eleitoral: a opinião pública mundial. O que a CoP15 evidenciou foi a presença e a força deste novo ator, desconhedido para o establishment - e, como tal, tratado como inimigo no ato de expulsão das ONGs do Bella Center e no confinamento da imprensa no penúltimo dia da conferência.
2.1.1 Apesar disso, sou muito crítica em relação ao movimento ambientalista: ao mesmo tempo em que explicitou que a opinião pública hoje é global, a CoP15 também expôs que a questão climática é assunto de um nicho da sociedade: perto do conjunto de cidadãos alfabetizados, com acesso a computador etc., os números de mobilização foram muito tímidos, embora impressionantes, em termos absolutos.
2.2 Um mundo globalizado exige uma governança internacional que a ONU, definitivamente, não consegue entregar. Não faz sentido ter uma substituição de presidente da CoP na fase final de negociações por não ter status político condizente com os chefes de estado que seriam recebidos. Ou ainda não ter os mecanismos para cobrar o cumprimento de acordos já fechados (abrindo espaço para justificar o não fechamento de um novo tratado). A fragilidade da ONU foi, sem dúvida, o que permitiu que o processo em si fosse questionado hoje, no último dia, por todos os participantes - que alegam dúvidas sobre a transparência do processo etc. etc. Nunca pensei que isso fosse colocado em xeque aqui. Mas foi. Não bateram neste ponto, mas ele ficou exposto.
3 - Não é possível continuar tratando da questão climática como um assunto separado da fazenda, do planejamento, da saúde, da indústria e comércio, da agricultura... O ministro do meio ambiente, Carlos Minc, está aqui do meu lado falando com jornalistas. Mas ele que me perdoe: meio ambiente é muito grande e muito importante para ficar com uma única pasta ministerial, no nível doméstico, ou na Convenção Quadro da ONU para Mudanças Climáticas, no nível internacional. Enquanto não houver uma nova abordagem, não chegaremos a novas soluções para os novos problemas que estamos enfrentando. Neste momento, aqui no Bella Center, tudo isso cheira a mofo.
4 - A CoP teve o resultado que teve porque quem estava aqui queria isso: tinha quem queria acabar com o protocolo de Kyoto, tinha quem queria ficar sem metas, tinha quem não queria meter a mão no bolso... E todos saíram vencedores desta CoP. Só não têm como justificar tal vitória perante a tal da opinião pública, por isso saíram de mansinho deixando o terceiro escalão cuidar disso.
O que o futuro reserva? Mais blablablá? Como manter a mobilização da opinião pública? Se por um lado é bom que todos tenham a clara percepção do fracasso que foi a COP15 - e que esse fracasso deveu-se aos representantes dos diversos governos aqui reunidos - por outro havia um momentum da opinião pública que talvez não seja fácil repetir. Sabíamos disso e quem lutava para derrubar as chances de um novo acordo também sabia. E eles ganharam.
Minha experiência de duas semanas trancada o dia inteiro neste centro de convenções foi muito boa. Tive a sorte de trabalhar com pessoas adoráveis, com quem me entrosei muito bem. Descobri que gosto muito de acompanhar estas chatices e tentar entender o que rola por aqui. Ainda sou junior na área - e quem me conhece sabe o quanto eu sou idealista, o que explica minhas lágrimas ao ouvir a fala do filho da puta do Obama. Mas foi uma experiência muito rica.
Que venha a CoP16! Até lá, estarei melhor preparada. Me aguardem.
A marcha dos 100 mil em Copenhagen
Se eu fosse um neandertal, eu não viria para a Dinamarca
Os suecos e os dinamarqueses que me perdoem, mas não vejo a hora de voltar para o Brasil!
Vai ser uma feira!
Esquentando os tamborins
Copenhagen é uma cidade pequena, comparada com São Paulo ou com outras capitais européias, como Londres ou Paris. E por algum motivo que eu desconheço, mesmo sabendo que iam receber milhares de turistas de outros países, eles mantêm em dinamarquês os cardápios do lado de fora dos restaurantes (um costume europeu que eu adoro: vc tem a oportunidade de checar o menu e os preços antes de entrar).
A Dinamarca não faz parte da zona do euro, por isso estou ainda penando para me adaptar à coroa dinamarquesa... e à coroa sueca! Sim, porque estou hospedada do outro lado do mar Báltico, numa cidade chamada Malmö, na Suécia. Vai-se de trem de um lado ao outro, não é preciso mostrar passaporte para cruzar a fronteira, mas a moeda muda. Sim, a cotação também muda: há tempos que eu não usava tanto a tabuada! Estou craque em conversões – mas sem muita noção do que é caro e do que é barato porque para nós, brasileiros, tudo é caro aqui. Então, o máximo que consigo distinguir é o que é muito caro e o que é um pouco menos caro.
Ao contrário de outros países europeus, onde se vê mais cachorros do que bebês, vi poucos cães e muitos carrinhos de bebê – e um percentual bastante alto de gêmeos! Não sei dizer se o motivo é genético ou conseqüência de inseminação artificial. Todos carrinhos naturalmente têm algum tipo de proteção contra o vento, formando uma pequena cabana ambulante. Chama também a atenção a quantidade de pessoas que usa a bicicleta como meio de transporte. Há vários estacionamentos exclusivos para bicicletas em todos os lugares. Como a cidade é plana e todas as ruas têm ciclovias, é bastante conveniente e seguro optar por essa forma de transporte. E para alguém que vem de São Paulo, é um grande alívio não ter encontrado até agora nenhuma bicicleta!!
Na parte da tarde, participei de apresentações sobre mudanças climáticas na Universidade de Copenhagen patrocinadas pela Climate Action Network, rede com mais de 400 ONGs ambientais afiliadas em todo o mundo (incluindo o Vitae Civilis, pelo qual estou aqui). Por fora, um prédio antigo, de tijolinho aparente. Por dentro, instalações modernas, excelente acústica... mas nenhuma rede wireless disponível :-(
Já encontrei restaurantes italianos, gregos, japoneses, tailandeses, franceses... os onipresentes McDonald´s, Burger King, Pizza Hut, Domino´s, Subway, 7-11... Mas nenhuma plaquinha de “comida típica dinamarquesa”. Encontrei, em Malmö, um restaurante de comida sueca que servia... bife de rena!! Na véspera do Natal!!! Como podem deixar Papai Noel sem suas renas?????
Não, não tenho imagens do que descrevi aí em cima: estava muito frio para tirar as luvas e operar a máquina fotográfica. Vamos ver se tiro a diferença nos próximos dias, quando eu já estiver mais acostumada com a temperatura.
VOLTAREI A ATUALIZAR DE COPENHAGEN

Quem se importa se Bangladesh afundar?
Buy Nothing Day: você compra essa idéia?

Black Friday versus Buy Nothing Day: uma pesquisa no google não deixa dúvidas - o consumo ganhou. E, sinceramente, não haveria de ser diferente. Ou você deixaria de comprar aquele eletrônico de seus sonhos pela metade do preço para protestar contra o consumismo? Aliás, deixar de comprar algo em dia de liquidação é a melhor forma de protestar contra o consumismo??
Porque o consumo em si não é bom ou mau: ele é simplesmente necessário. Do momento em que somos gerados precisamos de alimento e calor. Se hoje compramos nossa comida no supermercado e a gasolina no posto é porque somos incapazes de suprir todas as nossas necessidades e, sabiamente, fomos dividindo tarefas ao longo da História, gerando um dos mais humanos e democráticos exercícios de convivência: o comércio. Independente da cultura, do grau de urbanização, nível educacional ou econômico, todos nós vamos ao mercado para vender e comprar. Da antiga praça aos sites de internet, passando - por que não? - por este blog, que oferece minhas idéias para seu consumo (gratuito, porém consumo), o mercado nos une, quando é justo.
Então, a questão não é o consumo, mas a educação para o consumo: o entendimento dos motivos que nos levam a consumir, do que realmente precisamos, do que é preço e o que é valor, de conceitos básicos de finanças domésticas. Fala-se muito em empoderamento do consumidor, e isso é verdade: quem compra dá as cartas. Mas quem compra precisa ter conhecimento sobre seus direitos e deveres, sobre o impacto e consequências de suas ações, para usar tal poder em seu favor. Caso contrário, continuaremos, como manada, a seguir os ditames dos publicitários e marqueteiros.
E esse senso crítico o Buy Nothing Day não fornece, nem estimula as pessoas a procurar.
Doha versus Copenhagen
Doha foi uma lição de como melar um acordo mundial: arrastando-o até a exaustão. Nada de negar o acordo ou brigar por posições. Para quê, se dentro das regras da diplomacia internacional existem tantas formas de se adiar as coisas?
Mas como ficamos todos escaldados com Doha, a sociedade intensificou a cobrança por resultados. Ficar de fora da solução para o clima mundial passou a carregar um ônus político pesado. O teste foi feito há algumas semanas, quando China e EUA declararam que não se comprometeriam com metas de redução nas emissões dos gases causadores do efeito estufa. A opinião pública não engoliu e, não por acaso, esta semana (ontem e hoje, mais precisamente), EUA e China anunciaram suas respectivas metas de redução. Com números até que impressionantes, no caso da China: entre 40% e 45%.
Mas honrando a tradição diplomática de jogar habilmente com palavras, a China anunciou uma redução sobre sua "intensidade de carbono". Traduzindo: a China se compromete a gerar menos CO2 para cada unidade de seu Produto Interno Bruto, ou seja, cada parcela do PIB chinês será gerada com menos emissão de CO2. Até aí, beleza, né? Só que como a China tem crescido 9% ao ano e deve manter ritmo semelhante para os próximos anos (ou eles fazem isso ou eles não conseguem manter o controle político do país), no computo final a emissão de CO2 será maior. Porque o coeficiente de multiplicação será maior.
Exemplificando: se hoje eles emitem 10 carbonos para 100 de PIB, são 1000 carbonos no total. Crescendo 10% ao ano, em 10 anos o PIB chegaria a 269. Nesse cenário, a emissão de 6 carbonos para cada unidade de PIB (o corte de 40% que eles propõem) somaria 1614 carbonos, ou 60% a mais do que hoje. Há redução, sem dúvida: sem essa meta, seriam emitidos 2690 carbonos. Mas não há diminuição, que é o desafio de todos.
A favor da China, devo informar que ela é hoje o país que mais investe em energias limpas. Porém, simultaneamente, abre duas novas termelétricas por dia, conseguindo, paradoxalmente, ser a mais suja e a mais limpa das grandes economias da atualidade.
A favor dos EUA, nem isso. Eles anunciaram uma meta pífia que evidencia a fragilidade dos democratas, que não conseguiram, ao longo do ano, fazer passar pelo Congresso Americano uma lei que regule as reduções. Sem isso, nenhum acordo internacional vingará por lá porque a soberania de um país é, como a própria palavra indica, soberana.
Diante destes dois novos fatos, fica a dúvida: melhor um mau acordo que acordo nenhum? Ou vice-versa?
Para quem luta por um acordo justo, ambicioso e legalmente vinculante, fica a dúvida: aceitar esse tipo de proposta, que deve levar ao firmamento de algum tipo de compromisso, ou denunciar e correr o risco de postergar tudo para a CoP16?
Copenhagen - quem diria? - poderá entrar para a história como a CoP que trouxe inovações à diplomacia: uma nova forma de melar um acordo internacional.
Agressividade no trânsito? Shell responde!

A fina linha que separa tolerância de hipocrisia
Se aprovada, esta lei significará um importante passo na consolidação da cidadania democrática, pois permitirá a coexistência respeitosa das diferenças. Porque não oferecer condições iguais de empregabilidade e salário não é uma coexistência respeitosa. Ofender as pessoas por conta de seu sexo, orientação sexual, religião, cor ou origem não é democrático. Um Estado que se orgulha de supostamente ser uma democracia racial - termo invocado tantas vezes no rádio e na TV na última sexta, Dia da Consciência Negra - não deveria temer esta lei.
Mas teme.
Grupos religiosos alegam que esta lei vai contra a liberdade religiosa pois supostamente os impediria de pregar a Biblía, a Torá e o Corão, que supostamente seriam publicações condenadas por conter trechos homofóbicos. Ignoram que o texto da lei criminaliza a discriminação religiosa, portanto eles têm seus credos respeitados. A opinião é respeitada. O que não pode ser respeitado são atos e posturas de violência e discriminação.
Falam em tolerância. Agem com hipocrisia.
Nada muito diferente do que nosso país já protagonizou: invocando a soberania nacional, pela qual estabelecemos relações diplomáticas e comerciais com quem queremos, o Brasil já apoiou o polêmico presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. Falou-se muito em comércio internacional, energia nuclear, mas ela tem importância ínfima na nossa matriz energética: nosso potencial em energias renováveis, como solar e eólica, é enorme!
O Brasil, embalado pelo sonho de ter um assento no Conselho de Segurança da ONU (posição defendida pelo presidente do Irã), tenta se mostrar um interlocutor qualificado para intermediar pepinos internacionais. E invocando a tolerância para com quem pensa diferente de nós, o país agiu com hipocrisia. Porque na prática da diplomacia mundial, o que o Brasil fez foi apoiar um dirigente e um regime que discriminam mulheres e gays, que negam a existência do Holocausto e o direito à existência de Israel. Um dirigente que se reelegeu mediante fraude eleitoral. Que faz uso de milícias especiais para reprimir os opositores. Que censura TVs - tanto que a "coletiva de imprensa" aqui no Brasil só teve duas perguntas de jornalistas.
Pena que nenhuma delas foi sobre sua opinião a respeito da PL122...
Brasil e Mudanças Climáticas
Quem disse que desenvolver um produto sustentável é complicado?
Consciência tem cor?
Sobre este assunto, achei lapidar o diálogo que abre o filme Bastardos Inglórios, no qual o nazista compara judeus a ratos e depois pergunta porque gostamos de esquilos e não de ratos, se ambos são roedores e se ambos transmitem doenças - e se são até parecidos, tendo apenas a cauda como principal diferença! Pois é: não há diferença entre aqueles que são e os que não são discriminados. Somos todos iguais, apesar das diferenças aparentes. Não por acaso, o alemão, que associa judeus a ratos, age como um rato no final do filme, numa das inúmeras finas ironias de Tarantino.
No caso do negro, não há como negar que o peso simbólico da cor foi determinante no destino desse povo. Mas esta simbologia data da época em que a humanidade sequer dominava o fogo e via-se fragilizada na escuridão. Daí a cor negra ser associada, no ocidente, quase que exclusivamente a qualidades negativas. E também por associação direta, ela passou a qualificar toda uma gama de povos de aspecto diferente. E de tal forma e com tal intensidade que permanece até hoje: segundo a Pesquisa Mensal de Emprego do IGBE, que reúne dados sobre as seis maiores regiões metropolitanas do País, a remuneração média de trabalhadores brancos foi 90,7% maior que a de pretos e pardos em setembro deste ano. Como diz o Reinaldo Bulgarelli, da Txai Consultoria, ainda estamos no dia 14 de maio de 1888: na lei, os negros foram libertos; na prática, eles continuam submetidos a um sistema de oportunidades desiguais que perpetuou o preconceito, a discriminação e a diferença.
Mas como vivemos a ilusão de uma grande democracia racial, nos chocamos com políticas de cotas, por exemplo. E criamos um debate estéril no qual a classe média apenas exercita o pior de sua vertente excludente para tentar manter seu frágil status quo. Tanto que após quase dez anos tramitando no Congresso, o projeto de lei que cria o Estatuto da Igualdade Racial só conseguiu avançar para aprovação do Senado após a eliminação dos seus aspectos mais polêmicosm, como o estabelecimento de cotas para a população negra em universidades públicas e em programas de TV.
Pois pegue os opositores das ações afirmativas e leve-os a passear pelos shoppings caros de São Paulo. Pelas grandes academias de ginástica. Vá ao teatro. E conte quantos negros frequentam esses lugares - existe maior evidência de que eles não tiveram as mesmas opções, apesar de 121 anos de Lei Áurea? Ou alguém acha que eles não são tão inteligentes como "os outros", tão esforçados como "os outros", tão honestos como "os outros"?
É, você sabe: tem gente que acha isso, sim. Por isso é que precisamos de muitos dias de consciência negra - não um 20 de novembro, mas os 365 dias do ano. Com ações afirmativas que possam compensar as injustiças históricas que foram cometidas contra esse povo.
Finalmente alguém falou!!!!
A correlação é óbvia: no atual ritmo (e olha que a taxa de natalidade já caiu em vários países) seremos 9,2 bilhões de pessoas em 2050, daqui a meros 40 anos. Nunca a humanidade reproduziu-se em tamanha velocidade! O mérito é dos enormes avanços em higiene, saneamento e medicina, que reduziram drasticamente a mortalidade infantil. Beleza! Só que alimentar 9,2 bilhões de bocas - e vestir 9,2 bilhões de corpos, dar escola, trabalho e dignidade a 9,2 bilhões de seres com desejos e direitos a uma vida com qualidade - coloca a capacidade de regeneração dos recursos naturais em xeque, mesmo considerando-se que a tecnologia avança.
Mas as religiões mais prevalentes no planeta têm na reprodução um de seus tabus: aconteça o que acontecer, elas acham que precisamos ter mais e mais filhos. E nisso encontram o apoio de vários Estados Nacionais que ainda acreditam que uma população numerosa é uma vantagem político-militar. E para defender o status quo que se baseia no aviltamento do direito da mulher sobre seu próprio corpo, invocam a tal da liberdade individual. Pergunto-me que liberdade é essa que muitas vezes não permite que a mulher opte por não ter filhos. Que liberdade existe quando a mulher é criada brincando de casinha e recebendo informações de que casar e ter filhos é condição sine qua non para sua realização pessoal.
Sonho com o dia em que alguém vai abrir a Bíblia, ler o "crescer e multiplicai-vos" e ticar do lado: tarefa cumprida! E passar para a próxima! Qual seria mesmo? Ah, dar condições de vida dignas às almas encarnadas? Contribuir para seu aprimoramento moral, de forma que possamos ter melhores seres humanos sob a face da Terra (e não só mais seres humanos)???
Pois é...
A agência da ONU não chega a recomendar aos países que estabeleçam limites ao número de filhos por casal - o que, cá entre nós, seria extremamente anti-democrático: basta investir em educação, acesso à saúde e, principalmente, no reconhecimento social de que não é preciso ter filhos para ser feliz. E aí cada um escolhe o que quer!
Como este assunto é tabu e não é estudado, a agência admite não haver provas empíricas de que o controle de natalidade conterá as mudanças climáticas. "As conexões entre população e mudanças climáticas são, na maior parte das vezes, complexas e indiretas" - parte do documento que, naturalmente, está sendo invocada por todos os que têm na reprodução um tabu.
A controvérsia existe dentro da própria ONU. Este mês, a própria Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou um boletim no qual dois especialistas declaram que é perigoso relacionar taxa de fertilidade e mudanças climáticas. "Na melhor das hipóteses, (o tema) causa controvérsia e, no pior caso, autoriza a supressão de direitos individuais", escrevem os pesquisadores Diarmid Campbell-Lendrum e Manjula Lusti-Narasimhan, em uma tremenda falácia lógica, pois: 1) criar controvérsia não é um problema - o conhecimento e a ciência muitas vezes evoluem graças à controvérsia; 2) não é preciso suprimir direitos individuais para reduzir a natalidade - pelo contrário, é preciso empoderar a mulher e reconhecer o direito que ela tem sobre seu corpo para que isso aconteça!!!
Mas finalmente colocaram o assunto na pauta!
Ruralistas ganham 18 meses para derrubar o Código Florestal
O lance não é o prazo maior dado aos ruralistas. Eles precisam de apoio para se adaptar ao código, que não é uma tarefa fácil ou barata. Não custa lembrar que em muitos casos o produtor não agiu na ilegalidade: o governo efetivamente os incentivou a ocupar as áreas que hoje são consideradas zona de preservação. O que mudou foi justamente o marco legal: a primeira versão da lei que regula o uso das áreas de vegetação nativa data de 1965 - época em que não existiam preocupações ambientais. Por isso, ele precisou ser revisto e atualizado, o que ocorreu em julho do ano passado. Desde então, quem tem terras na Amazônia deve preservar 80% da propriedade. Se for no cerrado da Amazônia Legal, 35%. Nas demais áreas do país, 20%.
Obviamente o código gerou críticas de quem tem terras nessas regiões: se fosse comigo ou com você, a reação certamente não seria muito diferente. Mas estamos vivendo um daqueles momentos de transição na história da humanidade nos quais alguns setores acabam sendo prejudicados em favor do bem comum. Foi o que aconteceu com as datilógrafas e os milhares de trabalhadores que produziam máquinas de escrever e que simplesmente perderam o emprego com a chegada dos computadores. E o que dizer dos ascensoristas que pilotavam os elevadores dos prédios? Nos dois casos, as pessoas diretamente afetadas tiveram que se requalificar e se recolocar no mercado. Não foi um processo fácil, do ponto de vista individual - e essa é a lição que deveríamos ter aprendido: como ajudar na transição. E não questionar a transição - que é justa e necessária, se quisermos manter a competitividade do próprio agribusiness, que é, ironicamente, a atividade produtiva que mais depende do clima!
Eu acredito que existam produtores sérios, que vão usar o prazo maior dado pelo governo (18 meses) para legalizar suas propriedades. E isso é mais revoltante: porque que os representa não dos produtores não estão à altura de quem faz a coisa certa. Como a própria matéria da Folha afirma, os 18 meses não serão usados para regularizar nada, mas sim para tentar novamente a derrubada do Código Florestal Brasileiro!
Isso é lamentável!
Ao invés de usar o prazo produtivamente para tentar ajudar na transição, mais uma vez eles querem nos colocar no passado - junto com queimada para limpar o solo, mão de obra escrava, desperdício de água e várias outras técnicas ultrapassadas e desrespeitosas com o ser humano e com o meio ambiente.
Não custa destacar que o governo já fez de tudo para facilitar essa transição: diante das críticas, Lula editou no final do ano passado uma versão mais amena do Código, com multas mais leves e prazo maior para o produtor se adequar às leis. Quando o decreto entrar em vigor, o proprietário autuado pela fiscalização sem a totalidade da reserva legal terá prazo de 120 dias para formalizar uma proposta de recuperação da área. Feito isso, o que já o livra da multa, terá até 2031 para recuperar a área de floresta.
Também fiquei revoltada com a falta de transparência desse governo: a decisão acima foi tomada na segunda passada, mas ele não quis ofuscar anúncio da redução do desmate, feito pela candidata do governo à presidência da República dentro da estratégia de torná-la mais "verde" - e por isso simplesmente omitiu-se o fato da opinião pública!!! E nem é preciso dizer que a decisão em si de prorrogar o decreto é uma forma de buscar o apoio dos ruralistas à candidatura da Dilma.
Por isso, peço desculpas a você, leitor - especialmente se vc for também leitor da Folha - mas não dava para não comentar essa história aqui.
Líderes políticos não tem o direito de adiar o acordo climático

O Vitae Civilis, organização não governamental que acompanha as negociações sobre clima desde a Rio-92, considera como imoral e inaceitável a orientação de líderes políticos de alguns países em querer adiar decisões que esperamos sejam ainda tomadas na Conferência da Convenção de Mudanças de Clima em Copenhague em dezembro próximo. Nada justifica politicamente um atraso de meses ou um ano nas decisões que devem articular os novos compromissos legais do Protocolo de Quioto e da Convenção de Mudança de Clima, como levam a crer o anúncio, realizado neste final de semana ao término da assembleia do Fórum da Cooperação Econômica da Ásia-Pacífico (Apec, da sigla em inglês), feito pelos presidentes dos Estados Unidos e China, junto com algumas nações emergentes.
Aos que alegam razões econômicas para este impasse, não custa lembrar das conclusões do Relatório Stern, de 2006: se não fizermos nada, os prejuízos globais provocados pelas mudanças climáticas representarão 5% do PIB mundial a cada ano. Ou seja, para sempre, sem retorno. E dependendo da evolução dessas mudanças, eles podem atingir 20% do PIB global. Para se ter uma idéia do que isso significa: estima-se que a crise financeira de 2008, considerada a pior desde o crack da bolsa de Nova York em 1929, cortou 30% das riquezas globais. Ou seja, o prejuízo com o clima pode representar uma crise tão severa quanto a que mobilizou esses mesmos líderes atrás de recursos para cobrir o rombo do sistema financeiro. Como esse mesmo relatório estimou em 1% do PIB mundial os gastos para reduzir a emissão dos gases que provocam o efeito estufa, é fácil concluir que reverter o atual quadro é muito mais uma questão de vontade política do que de orçamento ou bom senso econômico.
O Vitae Civilis alerta para o fato de que a figura do acordo “politicamente vinculante” não existe do ponto de vista legal ou das normas da ONU para tratados desta natureza. “É a mesma coisa que uma declaração política, uma promessa de campanha”, explica Gaines Campbell, Conselheiro do Vitae Civilis. “O que está previsto é a assinatura de um acordo internacional legalmente vinculante, que é um instrumento que passa por um processo de ratificação pelos representantes das legislaturas dos países. Ai sim passa ser um acordo que os países aceitam e não apenas seus Chefes de Estado. O que nós precisamos em Copenhagen é um acordo legalmente vinculante. Nada menos. Não quer dizer que o acordo vai agradar na totalidade mas pelo menos ninguém ficará de fora. O grande desafio de Copenhagen é esse”, completa.
O Vitae Civilis também questiona a legitimidade desta iniciativa dos líderes de uma minoria das nações signatárias da ONU que desconsidera a expectativa de milhões de pessoas e de mais de uma centena de países. "A decisão de que a CoP15 seria o prazo máximo para fecharmos um acordo climático data de 2007. Ninguém pode alegar desconhecimento ou falta de tempo para fazer a lição de casa", completa Rubens Born, referindo-se à CoP13, realizada em Bali, na Indonésia, quando foi definido o Bali Action Plan (Mapa do Caminho de Bali), o qual estabelece os eixos em torno dos quais as negociações sobre mudanças climáticas devem ser conduzidas, bem como o prazo (dezembro de 2009) para elaborar os passos posteriores à expiração do primeiro período do Protocolo de Quioto (que vai até 2012).
Esta tentativa unilateral de inviabilizar um acordo climático prejudica a todos os seres humanos, especialmente os mais pobres e os que residem em países tropicais, afirma o Vitae Civilis. "As conclusões da comunidade científica que levaram a este processo de negociação sobre clima tem sido reforçadas pelos novos estudos e pelos cada vez mais frequentes desastres ambientais", explica Rubens Born. "Há um custo humano e financeiro enormes envolvidos nesta tentativa de empurrar o acordo climático com a barriga", destaca Gaines Campbell, que pergunta: “quantas vidas precisarão ser sacrificadas até que os líderes políticos se dêem conta da dimensão do problema?”.
Por que o acordo climático vive sob ameaça constante
Por que o compromisso da CoP13 em Bali, não foi cumprido? Qual é a razão ou quais são as razões que contribuíram para o atraso e que nos coloca na porta de Copenhagen de mãos vazias?
Para Gaines Campbell, do Vitae Civilis, “muitas são as razões, mas duas precisam ser destacadas. Primeiro os países desenvolvidos fizeram muito pouco para conquistar a confiança dos países em desenvolvimento. Confiança é um ingrediente de qualquer negociação de sucesso, quer seja para comprar um carro, aprovar uma lei ou fazer um acordo sobre clima. A falta de confiança resulta em posições defensivas, jogo escondido ou paralisação. Segundo, o mundo econômico que nós conhecemos é baseado em princípios de produção e consumo predatório. Não é sustentável. Os países desenvolvidos sabem muito bem o nível de sacrifício que será necessário para transformar suas economias em economias sustentáveis e não querem abrir mão. Os países em desenvolvimento também tem a sua dose de culpa porque querem atingir o mesmo nível de desenvolvimento que os outros e tentam trilhar o mesmo caminho. Esses dois fatores contribuíram, e muito, para os atrasos das negociações da UNFCCC. Quando nós chamamos os Chefes de Estado para tomar a liderança nos processos de negociação temos que exigir que resolvam o problema de falta de confiança e do modelo econômico que tem que prevalecer daqui para frente”, detalha.
Se as crianças soubessem...
Então, por que não protestamos mais? Ainda dá tempo de assinar o abaixo assinado da campanha TicTac em favor de um acordo climático decente nas negociações que acontecerão agora em dezembro. Não deixem os lobistas, os burocratas e as grandes corporações ligadas ao petróleo empurrarem essa história com a barriga para a próxima reunião da ONU, no final de 2010. Não há tempo: estamos correndo contra o relógio!
O apagão da democracia

Aquecimento global e o apagão de energia elétrica
Fico pensando porque a primeira versão da culpa tenha sido Itaipu. Ora, é fácil saber se uma turbina está ligada ou não, se está gerando energia ou não. Aí o governo fala que Itaipu parou - e Itaipu solta uma nota dizendo que não, que estava funcionando! E o governo se vê obrigado a voltar atrás e procurar outro culpado. Do ponto de vista de comunicação, isso é um desastre: tira a credibilidade de quem está fornecendo informações e evidencia a falta de gestão e controle que há sobre a questão. Mas acho que há algo mais.
Ao tentar jogar a culpa primeiro no produtor (Itaipu) e não na empresa de transmissão (Furnas), abrem-se as portas para, mais uma vez, malhar os ambientalistas que questionam os atuais projetos da área de energia. Não custa lembrar que este setor do Programa de Aceleração do Crescimento, grande plataforma eleitoral da candidata Dilma Roussef, está aquém das expectativas do próprio governo. Seria muito cômodo falar que o apagão se deu no fornecimento porque Itaipu estava sobrecarregada, precisamos de mais hidrelétricas, os ambientalistas têm que ceder, são urbanóides radicais etc. etc. Além de explicar o ocorrido, ainda justificaria porque o PAC permanece empacado.
Porque o governo recusa-se a admitir que os projetos de energia elétrica que estão parados têm problemas ambientais derivados, na quase totalidade dos casos, da própria concepção do projeto. Ou seja, podiam ser evitados, se seus autores tivessem incluído a variável ambiental ao projetar a hidrelétrica, a termelétrica, a linha de transmissão... Porque quem os aprovou, em primeira instância, foi a atual candidata à presidência pelo governo, Dilma Roussef - que vem da área energética e mesmo depois de assumir a Casa Civil permaneceu como a manda-chuva dessa seara. E foi sua voz forte que fez prevalecer a noção de que apagão era coisa do governo anterior e de que na atual gestão não havia qualquer problema.
Bom, acabamos de perceber que há: como a jornalista Míriam Leitão colocou brilhantemente em seu blog, começando pelo ministro que ocupa a pasta das Minas e Energia e que sequer sabia que a interligação do sistema energético no Brasil não é recente. Ou seja, o blecaute começa com o apagão de idéias, informações e gestão.
Mas a grande ironia foi a reviravolta que esta história deu: o governo insiste que foi o "mau tempo" que derrubou as linhas. Porque falar em problemas meterológicos é assinar atestado de incompetência: se a matriz energética brasileira é prevalentemente hidrelétrica, sua gestão pressupõe um olho constante nos humores de São Pedro já que dependemos literalmente do tempo - foi justamente a falta de chuva o gatilho da última grande crise energética do Brasil. Já devia fazer parte do business as usual do setor acompanhar a questão climática - inclusive com orientações e práticas de gestão de crises para os sistemas de transmissão, cujas torres são vulneráveis a raios e ventanias.
O aquecimento global deve intensificar esses fenômenos, a explicação do governo apenas atesta que a questão climática não pode ser ignorada ou subestimada pela gestão pública. E para reduzir as chances de que esse tipo de incidente ocorra, é fundamental empreendermos esforços para uma economia de baixo carbono - algo que a Ministra Dilma insiste em refutar, em nome do crescimento econômico. E esta é a segunda grande ironia dessa história: explicar o maior apagão da história deste país com um motivo que a candidata do governo insiste em ignorar.
Poluição e saúde - o que fazer?

O erro de cálculo da Uniban
Fale pro Lula que vc quer um acordo climático de verdade!
Ocorre que a última reunião ministerial sobre este tema terminou em impasse, sem a definição de metas para controle de emissões. E se não há consenso no Governo, a opinião pública pode fazer a diferença. É hora de pressionar as autoridades brasileiras para definirem metas concretas, independente das decisões do G8. Essa é a missão do abaixo assinado da campanha TicTacTicTac, disponível em www.tictactictac.org.br. Entre no site da campanha e deixe sua assinatura. E dê uma passada lá na Paulista para pressionar o governo sobre medidas efetivas para combater o aquecimento global. Temos até o dia 14 para fazer a diferença, já que nessa data o Lula deve anunciar a proposta que o Brasil levará para a COP 15.
Então, agora é a oportunidade de mostrar ao Governo que queremos um compromisso com força de lei internacional e não uma carta de boas intenções. Um acordo climático ambicioso e justo, baseado nas necessidades cientificamente comprovadas, e comprometido com a justiça e a inclusão social.
Nos vemos lá!
O tempo não para
A ministra optou pelo atraso
De Kyoto a Copenhagen, de trem

A escolha do modal ferroviário não foi feita por acaso: atualmente o setor dos transportes responde por mais de um quinto das emissões globais de CO2 e esse montante deve dobrar em 40 anos. Dentro desse cenário, as ferrovias são cruciais para a redução das emissões de gases com efeito de estufa e desenvolvimento de sistemas de transportes sustentáveis. O Expresso do Clima foi desenvolvido para funcionar com energias 100% renováveis. Por isso, ficará exposto ao público durante toda a conferência na estação central de Copenhagen.
Ruralistas podem inviabilizar plano brasileiro de redução de emissões

Amanhã (04/11) a Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados votará o PL 6424/05, que anistia os desmatamentos ilegais ocorridos até 2006 e diminui o nível de proteção às áreas ambientalmente sensíveis, como beiras de rio, encostas, topos de morro. Se aprovado, os que desmataram ilegalmente 34 milhões de hectares, só na Amazônia, serão premiados, o que incentivará o avanço da ilegalidade. Parlamentares ligados ao agronegócio, muitos deles de partidos da base de apoio ao presidente, têm maioria nessa comissão e prometem aprovar o projeto, que é na prática uma revogação do Código Florestal, e o fim do natimorto plano brasileiro de diminuição do desmatamento.
Apesar de antiga, essa lei até recentemente vinha sendo precariamente cumprida. Mas com um melhor aparelhamento dos órgãos de fiscalização e uma maior cobrança por parte da sociedade, houve, nos últimos anos, significativo aumento das punições aos desmatamentos ilegais, o que gerou descontentamento da parte do agronegócio brasileiro que se beneficiava da impunidade. Com grande influência no parlamento, esse setor econômico passou a pressionar pela revogação da lei e pela anistia às ilegalidades já ocorridas, a forma mais simples de se legalizar. O próprio ministro da Agricultura vem sendo porta-voz dessas propostas, defendendo publicamente que a proteção às florestas sejam “atenuadas”.
Apesar de não serem maioria no Congresso Nacional, os parlamentares ligados ao agronegócio contam com a total omissão do governo Lula para levarem adiante esse projeto. Conclamamos o presidente Lula a atuar firmemente para que um retrocesso dessa envergadura não ocorra, pois caso contrário a reunião ministerial de hoje terá sido pura encenação e o plano a ser apresentado em Copenhague, independentemente de seu conteúdo, uma fantasia.
Assinam:
Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi)
Conservação Internacional - Brasil
Greenpeace
Grupo de Trabalho Amazônico (GTA)
Instituto Centro de Vida (ICV)
Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon)
Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora)
Instituto de Permacultura e Ecovilas da Mata Atlântica (Ipema)
Instituto de Pesquisa da Amazônia (IPAM)
Instituto Socioambiental (ISA)
Programa da Terra (Proter)
Rede de ONGs da Mata Atlântica
Vitae Civilis - Instituto para o Desenvolvimento, Meio Ambiente e Paz
WWF - Brasil
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A sessão da Comissão é aberta ao público e qualquer pessoa pode acompanhar no plenário 2 do Prédio das Comissões da Câmara dos Deputados. Além disso, você pode cobrar o deputado que elegeu/o partido no qual votou, lembrando-os que interesses eles representam.
Os integrantes da Comissão que vota amanhã o Projeto de Lei que ameaça o futuro ambiental brasileiro são:
* Roberto Rocha (presidente – PSDB/MA)
* Marcos Montes (1º vice-presidente erelator do Projeto de Lei, DEM/MG)
* Jurandy Loureiro (2º vice-presidente,PSC/ES)
* Leonardo Monteiro (3º vice-presidente, PT/MG)
* André de Paula (DEM/PE)
* Antonio Carlos Mendes Thame (PSDB/SP)
* Antônio Roberto (PV/MG)
* Edson Duarte (PV/BA)
* Gervásio Silva (PSDB/SC)
* Givaldo Carimbão (PSB/AL)
* Jorge Khoury (DEM/BA)
* Marina Maggessi (PPS/RJ)
* Mário de Oliveira (PSC/MG)
* Paulo Piau (PMDB/MG)
* Rebecca Garcia (PP/AM)
* Rodovalho (???) (DEM/DF)
* SarneyFilho (PV/MA)
* Zé Geraldo (PT/PA).
Os suplentes são: Aline Corrêa (PP/SP), Antonio Feijão (PTC/AP), Arnaldo Jardim (PPS/SP), Cezar Silvestri (PPS/PR), Fernando Gabeira (PV/RJ), Fernando Marroni (PT/RS), Germano Bonow (DEM/RS), Homero Pereira (PR/MT), Luiz Carreira (DEM/BA), Miro Teixeira (PDT/RJ), Moacir Micheletto (PMDB/PR), Moreira Mendes (PPS/RO), Nilson Pinto(PSDB/PA), Paulo Roberto Pereira (PTB/RS), Paulo Teixeira (PT/SP), ValdirColatto (PMDB/SC), Wandenkolk Gonçalves (PSDB/PA) e Zezéu Ribeiro (PT/BA).
O melhor artigo que li até agora sobre a barbárie da Uniban
O urro ancestral da faculdade injuriada
Universitários que encurralaram a colega de vestido curto não eram delirantes: eram agressores mesmo
Vídeos veiculados pelo YouTube mostram a estudante de Turismo Geisy Arruda, da Uniban, em São Bernardo do Campo, sendo xingada e acuada por outros alunos por causa do comprimento do vestido. Ela teve de ser escoltada para fora do prédio por policiais.O caso não caberia nem em um folhetim vulgar, não fosse o YouTube denunciando a verdade. A "puta da faculdade" é uma história bizarra: uma mulher de 20 anos é vítima de humilhações. A razão foi um vestido rosa e curto que a fazia se sentir bonita. Sem ninguém saber muito bem como o delírio coletivo teve início, dezenas de pessoas passaram em coro a gritar "puta" e ameaçá-la de estupro. A saída foi esconder-se em uma sala, sob os urros de uma multidão enfurecida pela falta de decoro do vestido rosa. Além da escolta policial, um jaleco branco a protegeu da fúria agressiva dos colegas que não suportavam vê-la em traje tão provocante.
Colegas de faculdade, professores e policiais foram ouvidos sobre o caso. O fascínio compartilhado era o vestido rosa. Curto, insinuante, transparente foram alguns dos adjetivos utilizados pelos mais novos censores do vestuário da sociedade brasileira. "A roupa não era adequada para um ambiente escolar", foi a principal expressão da indignação moral causada pelo vestido rosa. Rapidamente um código de etiqueta sobre roupas e relações sociais dominou a análise sociológica sobre o incidente. Não se descreveu a histeria como um ato de violência, mas como uma reação causada pela surpresa do vestido naquele ambiente.
O que torna a história única é o absurdo dos fatos. Um vestido rosa curto desencadeia o delírio coletivo. E o delírio ocorreu nada menos do que em uma faculdade, o templo da razão e da sabedoria. Os delirantes não eram loucos internados em um manicômio à espera da medicação ou marujos recém-atracados em um cais após meses em alto-mar. Eram colegas de faculdade inconformados com um corpo insinuante coberto por um vestido rosa. Mas chamá-los de delirantes é encobrir a verdade. Não há loucura nesse caso, mas práticas violentas e intencionais. Esses jovens homens e mulheres são agressores. Eles não agrediram o vestido rosa, mas a mulher que o usava para ir à faculdade.
Não há justificativa moral possível para esse incidente. Ele é um caso claro de violência contra a mulher. Ao contrário do que os censores do vestuário possam alegar, não há nada de errado em usar um vestido rosa curto para ir às aulas de uma faculdade noturna. As mulheres são livres para escolher suas roupas, exibirem sua sensualidade e beleza. A adequação entre roupas e espaços é uma regra subjetiva de julgamento estético que denuncia classes e pertencimentos sociais. Não é um preceito ético sobre comportamentos ou práticas. Mas inverter a lógica da violência é a estratégia mais comum aos enredos da violência de gênero.
A multidão enfurecida não se descreve como algoz. Foi a jovem mulher insinuante quem teria provocado a reação da multidão. Nesse raciocínio enviesado, a multidão teria sido vítima da impertinência do vestido rosa. As imagens são grotescas: de um lado, uma mulher acuada foge da multidão que a persegue, e de outro, do lado de quem filma, dezenas de celulares registram a cena com a excitação de quem assiste a um espetáculo. Ninguém reage ao absurdo da perseguição ao vestido rosa. O fascínio pelo espetáculo aliena a todos que se escondem por trás das câmaras. Quem sabe a lente do celular os fez crer que não eram sujeitos ativos da violência, mas meros espectadores.
Pode causar ainda mais espanto o fato de que a multidão não tinha sexo. Homens e mulheres perseguiam o vestido rosa com fúria semelhante. Há mesmo quem conte que a confusão foi provocada por uma estudante. Mas isso não significa que a violência seja moralmente neutra quanto à desigualdade de gênero. É uma lógica machista a que alimenta sentimentos de indignação e ultraje por um vestido curto em uma mulher. A sociologia do vestuário é um recurso retórico para encobrir a real causa da violência - a opressão do corpo feminino. Não é o vestido rosa que incomoda a multidão, mas o vestido rosa em um corpo de mulher que não se submete ao puritanismo.
Não há nada que justifique o uso da violência para disciplinar as mulheres. Nem mesmo a situação hipotética de uma mulher sem roupas justificaria o caso. Mas parece que uma mulher em um vestido insinuante provoca mais fúria e indignação que a nudez. O vestido rosa seria o sinal da imoralidade feminina, ao passo que a nudez denunciaria a loucura. A verdade é que não há nem imoralidade, nem loucura. Há simplesmente uma sociedade desigual e que acredita disciplinar os corpos femininos pela violência. Nem que seja pela humilhação e pela vergonha de um vestido rosa.
O planeta é o que você come

Organizações denunciam tentativa dos ruralistas de derrubar Código Florestal
AGRONEGÓCIO BRASILEIRO QUER DERRUBAR PROTEÇÃO ÀS FLORESTAS
Em dezembro, o mundo decidirá um novo regime de metas para diminuição da emissão de gases efeito estufa, durante reunião a ser realizada em Copenhague (COP 15 da Convenção do Clima). Nessa reunião o governo brasileiro apresentará como seu grande trunfo um plano para diminuir significativamente o desmatamento no País, principal fonte das emissões nacionais, até 2020. Mas se o Presidente Lula não agir firmemente no âmbito da política interna, esse plano será pura ficção.
Parlamentares ligados ao agronegócio, muitos deles de partidos da base de apoio ao Presidente, estão prestes a conseguir derrubar o Código Florestal, uma lei de mais de quarenta anos que proíbe grandes desmatamentos na Amazônia e obriga ao reflorestamento das áreas excessivamente desmatadas.
Apesar de antiga, essa lei até recentemente vinha sendo precariamente cumprida. Mas, com um melhor aparelhamento dos órgãos de fiscalização e uma maior cobrança por parte da sociedade, houve, nos últimos anos, significativo aumento das punições aos desmatamentos ilegais, o que gerou descontentamento de parte do agronegócio brasileiro que se beneficiava da impunidade. Com grande influência no parlamento, esse setor econômico passou a pressionar pela revogação da lei e pela anistia às ilegalidades já ocorridas, a forma mais simples de se legalizar. O próprio Ministro da Agricultura vem sendo porta-voz dessas propostas, defendendo publicamente que a proteção às florestas seja “atenuada”.
No último dia 28/10 um projeto de lei que anistia os desmatamentos ilegais e diminui o nível de proteção às florestas ainda remanescentes quase foi aprovado pela Câmara dos Deputados. Apesar de não serem maioria no Congresso Nacional, os parlamentares ligados ao agronegócio contam com a total omissão do Governo Lula para levarem adiante seus projetos. No próximo dia 04/11 haverá uma nova votação e, se o Governo não tomar posição, as probabilidades de que o Código Florestal seja revogado são reais. Não é aceitável que a delegação brasileira em Copenhague leve em sua bagagem a destruição do Código Florestal. Conclamamos o Presidente Lula a atuar firmemente para que um retrocesso dessa envergadura não ocorra!
Assinam:
Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi)
Conservação Internacional / Brasil
GreenpeaceInstituto de Permacultura e Ecovilas da Mata Atlântica (Ipema)
Instituto Socioambiental (ISA)Programa da Terra (Proter)Rede de ONGs da Mata Atlântica
Vitae Civilis - Instituto para o Desenvolvimento, Meio Ambiente e PazWWF-Brasil