Finalmente alguém teve coragem de questionar o tabu da natalidade: hoje o Fundo Populacional das Nações Unidas recomendou o controle da natalidade para combater o aquecimento global!!!!
A correlação é óbvia: no atual ritmo (e olha que a taxa de natalidade já caiu em vários países) seremos 9,2 bilhões de pessoas em 2050, daqui a meros 40 anos. Nunca a humanidade reproduziu-se em tamanha velocidade! O mérito é dos enormes avanços em higiene, saneamento e medicina, que reduziram drasticamente a mortalidade infantil. Beleza! Só que alimentar 9,2 bilhões de bocas - e vestir 9,2 bilhões de corpos, dar escola, trabalho e dignidade a 9,2 bilhões de seres com desejos e direitos a uma vida com qualidade - coloca a capacidade de regeneração dos recursos naturais em xeque, mesmo considerando-se que a tecnologia avança.
Mas as religiões mais prevalentes no planeta têm na reprodução um de seus tabus: aconteça o que acontecer, elas acham que precisamos ter mais e mais filhos. E nisso encontram o apoio de vários Estados Nacionais que ainda acreditam que uma população numerosa é uma vantagem político-militar. E para defender o status quo que se baseia no aviltamento do direito da mulher sobre seu próprio corpo, invocam a tal da liberdade individual. Pergunto-me que liberdade é essa que muitas vezes não permite que a mulher opte por não ter filhos. Que liberdade existe quando a mulher é criada brincando de casinha e recebendo informações de que casar e ter filhos é condição sine qua non para sua realização pessoal.
Sonho com o dia em que alguém vai abrir a Bíblia, ler o "crescer e multiplicai-vos" e ticar do lado: tarefa cumprida! E passar para a próxima! Qual seria mesmo? Ah, dar condições de vida dignas às almas encarnadas? Contribuir para seu aprimoramento moral, de forma que possamos ter melhores seres humanos sob a face da Terra (e não só mais seres humanos)???
Pois é...
A agência da ONU não chega a recomendar aos países que estabeleçam limites ao número de filhos por casal - o que, cá entre nós, seria extremamente anti-democrático: basta investir em educação, acesso à saúde e, principalmente, no reconhecimento social de que não é preciso ter filhos para ser feliz. E aí cada um escolhe o que quer!
Como este assunto é tabu e não é estudado, a agência admite não haver provas empíricas de que o controle de natalidade conterá as mudanças climáticas. "As conexões entre população e mudanças climáticas são, na maior parte das vezes, complexas e indiretas" - parte do documento que, naturalmente, está sendo invocada por todos os que têm na reprodução um tabu.
A controvérsia existe dentro da própria ONU. Este mês, a própria Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou um boletim no qual dois especialistas declaram que é perigoso relacionar taxa de fertilidade e mudanças climáticas. "Na melhor das hipóteses, (o tema) causa controvérsia e, no pior caso, autoriza a supressão de direitos individuais", escrevem os pesquisadores Diarmid Campbell-Lendrum e Manjula Lusti-Narasimhan, em uma tremenda falácia lógica, pois: 1) criar controvérsia não é um problema - o conhecimento e a ciência muitas vezes evoluem graças à controvérsia; 2) não é preciso suprimir direitos individuais para reduzir a natalidade - pelo contrário, é preciso empoderar a mulher e reconhecer o direito que ela tem sobre seu corpo para que isso aconteça!!!
Mas finalmente colocaram o assunto na pauta!
Muito bom!
ResponderExcluirJá faz um bom tempo que eu também vinha ansiando por um qualquer pronunciamento 'mais alto' a respeito do assunto. Nosso amigo, o ecoeconomista Hugo Penteado, é um dos pouquíssimos (senão o único) aqui no Brasil que defende abertamente uma política também de controle de natalidade.
Obrigado pela boa notícia!