É meio dia desta quarta, 11 de novembro, e o governo ainda quebra a cabeça para explicar o apagão que atingiu ontem 12 estados do Brasil e parte do Paraguai. A versão inicial de problemas em Itaipu foi substituída, agora há pouco, por um tal de queda em três linhas de transmissão. Mas Furnas já divulgou nota dizendo que não detectou nada em suas linhas... Ou seja, estão todos muito ocupados tentando provar que são inocentes. Mas tenho fé de que conseguirão arrumar um tempinho para descobrir efetivamente o que aconteceu!
Fico pensando porque a primeira versão da culpa tenha sido Itaipu. Ora, é fácil saber se uma turbina está ligada ou não, se está gerando energia ou não. Aí o governo fala que Itaipu parou - e Itaipu solta uma nota dizendo que não, que estava funcionando! E o governo se vê obrigado a voltar atrás e procurar outro culpado. Do ponto de vista de comunicação, isso é um desastre: tira a credibilidade de quem está fornecendo informações e evidencia a falta de gestão e controle que há sobre a questão. Mas acho que há algo mais.
Ao tentar jogar a culpa primeiro no produtor (Itaipu) e não na empresa de transmissão (Furnas), abrem-se as portas para, mais uma vez, malhar os ambientalistas que questionam os atuais projetos da área de energia. Não custa lembrar que este setor do Programa de Aceleração do Crescimento, grande plataforma eleitoral da candidata Dilma Roussef, está aquém das expectativas do próprio governo. Seria muito cômodo falar que o apagão se deu no fornecimento porque Itaipu estava sobrecarregada, precisamos de mais hidrelétricas, os ambientalistas têm que ceder, são urbanóides radicais etc. etc. Além de explicar o ocorrido, ainda justificaria porque o PAC permanece empacado.
Porque o governo recusa-se a admitir que os projetos de energia elétrica que estão parados têm problemas ambientais derivados, na quase totalidade dos casos, da própria concepção do projeto. Ou seja, podiam ser evitados, se seus autores tivessem incluído a variável ambiental ao projetar a hidrelétrica, a termelétrica, a linha de transmissão... Porque quem os aprovou, em primeira instância, foi a atual candidata à presidência pelo governo, Dilma Roussef - que vem da área energética e mesmo depois de assumir a Casa Civil permaneceu como a manda-chuva dessa seara. E foi sua voz forte que fez prevalecer a noção de que apagão era coisa do governo anterior e de que na atual gestão não havia qualquer problema.
Bom, acabamos de perceber que há: como a jornalista Míriam Leitão colocou brilhantemente em seu blog, começando pelo ministro que ocupa a pasta das Minas e Energia e que sequer sabia que a interligação do sistema energético no Brasil não é recente. Ou seja, o blecaute começa com o apagão de idéias, informações e gestão.
Mas a grande ironia foi a reviravolta que esta história deu: o governo insiste que foi o "mau tempo" que derrubou as linhas. Porque falar em problemas meterológicos é assinar atestado de incompetência: se a matriz energética brasileira é prevalentemente hidrelétrica, sua gestão pressupõe um olho constante nos humores de São Pedro já que dependemos literalmente do tempo - foi justamente a falta de chuva o gatilho da última grande crise energética do Brasil. Já devia fazer parte do business as usual do setor acompanhar a questão climática - inclusive com orientações e práticas de gestão de crises para os sistemas de transmissão, cujas torres são vulneráveis a raios e ventanias.
O aquecimento global deve intensificar esses fenômenos, a explicação do governo apenas atesta que a questão climática não pode ser ignorada ou subestimada pela gestão pública. E para reduzir as chances de que esse tipo de incidente ocorra, é fundamental empreendermos esforços para uma economia de baixo carbono - algo que a Ministra Dilma insiste em refutar, em nome do crescimento econômico. E esta é a segunda grande ironia dessa história: explicar o maior apagão da história deste país com um motivo que a candidata do governo insiste em ignorar.
Silvia, ouvi hoje na rádio já cedo sobre o apagao no Brasil, linhas telefônicas, será que nao foi uma super carga?
ResponderExcluirÉ o alerta. O abuso de energia é enorme!
Abracos
Não há indícios de sobrecarga. Aliás, considerando-se o desespero do governo para achar uma justificativa para o ocorrido, se houvesse qualquer chance disso ser verdade, alguém já teria dito.
ResponderExcluirPor outro lado, há tempos (antes até do atual governo) que várias vozes (da academia, do governo, da oposição, do setor empresarial) alertam para os riscos da falta de investimentos em energia, seja na geração, seja na modernização da transmissão e distribuição.
Entonces...
Mas o que chama + a atenção não é o apagão, que já era esperado, mas sim a dificuldade do governo de arrumar uma explicação que seja plausível e, ao mesmo tempo, não arranhe a imagem de sua candidata.