Pergunto-me o que os levou a tomar uma decisão tão absurda. Será que contavam com a solidariedade do conservadorismo e do machismo de nossa sociedade? Pois é, descobriram da maneira mais dura que esse machismo e esse conservadorismo existem, sim, mas não mais no centro do poder. Não mais entre os chamados "formadores de opinião".
Trata-se de mais um passo dentro de uma longa caminhada, que teve na extinção dos chamados "crimes de honra" seu episódio mais marcante. Sim, se você tem menos de 30 anos talvez não saiba, mas antigamente a Constituição assegurava ao homem o "direito" de matar sua mulher caso ela comprovadamente tenha "atentado contra sua honra"! Sim, você leu direito: houve um tempo, não muito distante, quando o Estado dava autorização a seus cidadãos para cometerem assassinatos dentro de casa. Não por acaso, luta-se até hoje contra a violência doméstica, herdeira direta dessa lei hedionda: estatísticas indicam que a cada 15 minutos uma mulher é agredida no Brasil, sendo que em mais da metade dos casos o agressor é alguém da família (marido, irmão, filho, pai).
Condenar a mulher é algo tão corriqueiro que desde ontem a maioria dos comentários que ouvi foi que a Uniban "devia saber de algo" que não revelou para a sociedade, para ter tomado a decisão que tomou. A moça "deve ter feito algo" que não sabemos. A culpabilidade da mulher está tão introjetada (em boa parte, graças ao mito judaico-cristão de Adão e Eva) que mesmo diante das evidências de uma total arbitrariedade os olhos recusam-se a enxergar, a mente duvida e o coração não acredita.
Mas assim como o ataque dos bárbaros ocorreu em um campus de periferia, também tais comentários não aparecem no centro dos debates. São frases de ambientes e situações informais, ditos com o cuidado de não fechar posição. Porque felizmente pega mal hoje em dia ser preconceituoso e machista. Neste ponto, devemos muito ao movimento gay e suas passeatas, que disseminaram a noção de respeito à diversidade de forma alegre, gostosa e fácil de compreender. Mas isso a Uniban não compreendeu.
Assim como a barbárie que deu origem à crise ocorreu em um campus de periferia, da mesma forma o machismo e o preconceito que justificam a ação encontram-se na periferia da opinião pública. Nos rincões e Requiões da vida. Cada vez mais distantes e isolados. Cada dia mais, uma lembrança (desagradável) do passado.
Que assim seja!
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