Buy Nothing Day: você compra essa idéia?

Criado pelo artista canadense Ted Dave e promovido pela revista Adbusters, o Buy Nothing Day, ou Dia Mundial sem Compras, acontece amanhã em todo o mundo, com exceção de Canadá e Estados Unidos. Nesses dois países, o Buy Nothing Day foi hoje, junto com a tradicional Black Friday. Não conhece? Pense bem: talvez hoje mesmo você tenha visto alguma matéria a respeito em algum telejornal. É aquele dia de grandes liquidações, com filas de consumidores esperando a abertura das portas das lojas. Guardadas as devidas proporções, é como a liquidação de começo de ano do Magazine Luiza.

Black Friday versus Buy Nothing Day: uma pesquisa no google não deixa dúvidas - o consumo ganhou. E, sinceramente, não haveria de ser diferente. Ou você deixaria de comprar aquele eletrônico de seus sonhos pela metade do preço para protestar contra o consumismo? Aliás, deixar de comprar algo em dia de liquidação é a melhor forma de protestar contra o consumismo??
Buy Nothing Day é mais um exemplo daquelas ações de comunicação que não conseguem ir além da paróquia: quem já é sensível ao tema, adere; quem não é, nem dá bola. Trata-se de uma iniciativa muito mais midiática do que efetiva, pois não leva à revisão dos (pré)conceitos que sustentam hábitos inadequados de consumo.

Porque o consumo em si não é bom ou mau: ele é simplesmente necessário. Do momento em que somos gerados precisamos de alimento e calor. Se hoje compramos nossa comida no supermercado e a gasolina no posto é porque somos incapazes de suprir todas as nossas necessidades e, sabiamente, fomos dividindo tarefas ao longo da História, gerando um dos mais humanos e democráticos exercícios de convivência: o comércio. Independente da cultura, do grau de urbanização, nível educacional ou econômico, todos nós vamos ao mercado para vender e comprar. Da antiga praça aos sites de internet, passando - por que não? - por este blog, que oferece minhas idéias para seu consumo (gratuito, porém consumo), o mercado nos une, quando é justo.

Então, a questão não é o consumo, mas a educação para o consumo: o entendimento dos motivos que nos levam a consumir, do que realmente precisamos, do que é preço e o que é valor, de conceitos básicos de finanças domésticas. Fala-se muito em empoderamento do consumidor, e isso é verdade: quem compra dá as cartas. Mas quem compra precisa ter conhecimento sobre seus direitos e deveres, sobre o impacto e consequências de suas ações, para usar tal poder em seu favor. Caso contrário, continuaremos, como manada, a seguir os ditames dos publicitários e marqueteiros.

E esse senso crítico o Buy Nothing Day não fornece, nem estimula as pessoas a procurar.

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