Mudanças climáticas: nem tudo que é lógico faz sentido

Estudo da London School of Economics concluiu que o controle de natalidade é a forma mais barata de reduzir as emissões de carbono no futuro. Lógico! Assumindo que as emissões são provenientes da atividade humana, a forma mais eficiente de resolver o problema é ir direto à fonte, ou seja, nós. Pois quanto menor o número de humanos em atividade, menor o volume de emissões de CO2. Lógico!

Também é lógico considerar, como pano de fundo, os atuais dados sobre população e emissão de CO2 no planeta: já somos 6,7 bilhões de pessoas no planeta; a cada hora, são dez mil novos emissores de carbono, 1,5 milhão a cada dia e 80 milhões a cada ano, afirmam os autores do estudo. Mais lógico ainda é fazer as contas para checar se a sugestão é viável e, principalmente, mais barata que outras sugestões que andam circulando por aí. Foi o que os autores fizeram: considerando-se a oferta de métodos contraceptivos para as 200 milhões de mulheres que, segundo a ONU, engravidam sem querer por ano, evitaríamos a emissão de 34 milhares de milhões de toneladas de emissões de dióxido de carbono até 2050 – o que dá um custo de sete dólares por tonelada. A título de comparação, estudo da consultoria McKinsey sobre o custo da transição para uma economia baseada em fontes de energia de baixas emissões resulta em uma cifra de 32 dólares por tonelada, em 2020.

Depois de tudo isso, não é lógico que a ONU inclua o controle da natalidade na agenda da Conferência Internacional de Mudanças Climáticas agora, no final do ano, quando vai ser decidida a continuação do Protocolo de Quito? Lógico! E é essa a proposta da organização não governamental Optimum Population Trust, que encomendou o estudo à London School of Economics.

Só tem duas coisas nessa história toda que não são muito lógicas:

1 - Pleitear o controle da natalidade pela questão climática e não pela direito da mulher de decidir se quer ou não ter filhos. Assim como as tradições impõem a questão da reprodução acima da decisão individual da mulher, o raciocínio exposto acima igualmente impõe uma obrigação sobre a mulher, alijando-a do seu direito de decidir se quer ou não ter filhos. Eu sou totalmente a favor do controle da natalidade, porém como direito da mulher, não como uma obrigatoriedade climática! Ainda mais quando essa obrigatoriedade é falaciosa visto que:

2 - A teoria apresentada ignora o fato de que apenas 2 bilhões dos 6,7 bilhões de pessoas que habitam o planeta estão acima da linha da pobreza. E que é justamente essa a faixa de pessoas que mais e me utiliza métodos contraceptivos. Portanto, relacionar a questão climática apenas ao aumento da população sem levar em conta o poder aquisitivo e o estilo de vida das populações é transferir o ônus da questão para a maioria pobre – e que, por não consumir sequer o básico, impede um aumento das emissões muito maior do que o registrado até o momento.

Como já tive a oportunidade de escrever neste blog, o que mais me assusta atualmente é que sustentabilidade e mudanças climáticas estão virando papel de embrulho para empacotar qualquer coisa. Hoje, para chamar a atenção para um tema, basta relacioná-la com mudanças climáticas. Além de ser desonesta, essa atitude levará inevitavelmente ao efeito ressaca, quando ninguém vai querer ouvir falar de clima! E aí o que é realmente sério e urgente vai sofrer para obter a atenção necessária...

Um comentário:

  1. É verdade, li e achei um absurdo relacionarem contracepção com mudança climática... Como se a coisa fosse assim tão simples.Realmente é como você falou sustentabilidade e mudança climática estão virando papel de embrulho.
    É uma pena!
    bjs

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