Você investiria em um fundo vindulado a índice de crédito de carbono?

A novidade do Itaú Unibanco, apresentada em coletiva de imprensa hoje: um fundo de investimentos vinculado a um índice de créditos de carbono. Trata-se da primeira iniciativa dessas natureza no Brasil. Ok. Mas você investiria nele?

Para responder a esta pergunta, é importante que você entenda o que é o mercado de carbono. Confesso que eu pouco sabia sobre o tema e por isso agradeci porque o pessoal do Itaú Unibanco chamou o presidente da Associação Brasileira das Empresas do Mercado de Carbono – Abemc, Flavio Gazani, para dar uma aula. Ele lembrou que tudo começou com o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU, pelo qual chegou-se a um consenso sobre o impacto das emissões dos gases de efeito estufa sobre as mudanças climáticas. Foi por conta dessa constatação que as nações desenvolvidas (com exceção dos Estados Unidos) assinaram o Protocolo de Kyoto, comprometendo-se com metas de redução na emissão desses gases, entre os quais está o gás carbônico (CO2).

Essa redução pode ser feita de várias formas: com mudanças tecnológicas, com uma matriz energética mais limpa e também mediante mecanismos de troca - quem não consegue reduzir as emissões estimula quem consegue e contabiliza a redução do outro nas suas metas. Esse é o chamado Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Os projetos têm que passar por aprovação nacional, da ONU e por auditorias para comprovar que há efetivamente a redução alegada. Essa é a teoria. Na prática, normalmente os países que não têm metas a cumprir no Protocolo de Kyoto (como nós, aqui no Brasil, ou a China) desenvolvem os projetos e depois oferecem os créditos em carbono. Por convenção, uma tonelada de carbono que deixa de ser emitida equivale a um crédito.

Existem bolsas especializadas na comercialização deles, como se fossem bolsas de valores. A maior delas fica em Londres. Não é por acaso: o Reino Unido é o maior comprador mundial, com 39% das transações, seguido pelas nações do Mar Báltico, com 17%, e Itália, com 9%. Do lado dos vendedores, a China é líder inconteste, com 84% dos projetos, seguida por Ìndia, com 4%, e Brasil, com 3%. A diferença brutal justifica-se: a matriz energética lá é muito suja, portanto o país tem um enorme potencial de redução em suas emissões. No caso do Brasil, nossa matriz é limpa. Ainda assim, do total de projetos de MDL desenvolvidos no Brasil, 50% são de energia renovável, por conta da co-geração em usinas de açúcar e álcool – o que explica porque São Paulo tem 23% dos projetos brasileiros de MDL. Em seguida vem Suinocultura (13%), troca de combustível fóssil (11%) e aterros sanitários (9%).

O mercado regulado pelo Protocolo de Kyoto chama-se... mercado regulado (um caso raro em que não foi criada uma sigla esdrúxula). Mas além dele, existe outro, desenvolvido pelos países que não assinaram o protocolo. Ele se chama mercado voluntário, porque não está relacionado com metas. Ele é pequeno em relação ao mercado total de créditos de carbono (apenas 2,9%), porém cresce vertiginosamente: apenas em 2008 sua expansão foi de 87%.

O volume de negócios com créditos de carbono em 2008 foi de US$ 705 milhões. O faturamento, por sua vez, foi de US$ 126 bilhões nesse mesmo período. Ou seja, é um negócio lucrativo, portanto atraente para o empresário – e, por isso, tende a crescer, apesar de todas as incertezas que existem quanto à sua natureza jurídica, governança na questão climática no Brasil e eventuais mudanças que venham a ser estabelecidas agora no final do ano na CoP15.

Já existem hoje em todo o mundo US$ 12,5 bilhões em fundos atrelados a créditos de carbono. Hoje, o Itau Unibanco lançou o primeiro a operar no Brasil. Ele promete ser uma aplicação tão o mais rentável que outras. E, indiretamente, estimula a migração para uma economia de baixo carbono. Por que não apostar?

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