1) Legislação no Brasil muda e agora acusados de estupro só serão processados se houver denúncia da vítima. Fico me perguntando como fica nos casos em que a vítima morre...
2) Sarkozy e várias outras personalidades se constrangem porque o “coitado” do Roman Polanski foi preso por um crime ocorrido há 30 anos. Na rádio Jovem Pan, aqui em São Paulo, a notícia inclusive foi dada dessa forma, fazendo menção apenas à época do crime. O fato de que tenha sido a prática de sexo com uma menor em alguns casos sequer é levada em conta.
Não tem jeito. Quando o assunto é sexo, o calendário não interessa: em 2009 a sociedade age segundo os mesmos parâmetros de 1009 e coloca a mulher em situação de inferioridade, submissão e culpa. Sim, culpa. Afinal, se o coitado do homem se excedeu em seus impulsos, certamente a vigarista facilitou. Seduziu. Tentou o infeliz como um capeta tenta sua vítima. E eis que jornalísticamente e juridicamente o réu torna-se vítima e vice-versa! Passamos por cima até de convenções mundiais, como as que foram assinadas sob a égide da Unicef, condenando a prática de sexo com menores. Esquecemos que se a menor está praticando sexo, bem, pode ser que não seja por opção mas justamente por falta de opção.
Vejo diariamente as notícias sobre a violência ao redor do mundo. A Faixa de Gaza, por exemplo, rende manchete dia sim, dia não. Mas o uso da violência sexual em conflitos eu só acho no site de notícias da ONU. Os dados sobre violência contra a mulher no Brasil só rendem notícia quando tem pesquisa nova, como ocorreu semana passada, quando saiu estudo mostrando como as adolescentes estão sendo acuadas (e espancadas) por seus namorados (igualmente adolescentes). E esta semana, em uma aula na Unicamp, uma das alunas apresentou uma pesquisa chocante sobre saúde da mulher: a morte no momento de parto ainda é uma das principais causas de óbito para o sexo feminino.
Isso para não falar na castração feminina: em nome de uma suposta tolerância da diversidade que ignora princípios básicos dos direitos humanos, permite-se que milhões de mulheres sejam literalmente mutiladas todos os anos em sua intimidade, eliminando qualquer possibilidade de prazer no sexo! Queria saber se em nome do respeito às “tradições religiosas” alguém permitiria sacrifícios humanos, uma prática que, não custa lembrar, foi corriqueira durante milhares e milhares de anos! Nem por isso é aceita!
Até quando a morte de uma mulher na hora do parto vai ser vista como algo que “faz parte da vida”?
Até quando a violência contra a mulher será tolerada?
Até quando o sexo forçado será visto como um direito do homem?
Até quando a sexualidade feminina será demonizada?
Até quando?
Vivemos sob a egíe de uma cultura machista e masculinizante. Somos de cedo educados nesse perspectiva, colocando a mulher em sutuações mais frágeis e de submissão na sociedade, muitas vezes ditados pelo homem e até mesmo reforçado por muitas mulheres.
ResponderExcluirBasta ver as propagandas de cerveja (algumas já estão mudando felizmente), o salão do automóvel e as propagandas de carro. Ainda vendemos mais as mulheres do que o produto em si.
Já fizemos muito, mas ainda há muito o que fazer.