O mundo não é real, só pode ser uma grande piada. Em plena temporada do pré-sal, 14 entidades do agronegócio brasileiro criaram em São Paulo a Aliança Brasileira pelo Clima. A aliança reúne o pessoal da soja, das usinas de açúcar e de álcool, do papel e celulose, além das grandes tradings e indústrias de insumos, implementos e máquinas agrícolas. O principal objetivo deste grupo é influir nas negociações da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em dezembro próximo, na Dinamarca.
"Precisamos ser pró-ativos e ver a redução das emissões de carbono não como ameaça, mas como oportunidade. Há 35 anos temos uma matriz energética limpa com o uso do etanol", disse Marcos Jank, presidente da Unica, uma das entidades que forma a Aliança.
Beleza!, diria meu filho. Mas o grande garoto-propaganda do etanol brasileiro, que até há pouco tempo se gabava de ser presidente do país líder da produção de biocombustível limpo e renovável, virou "maria gasolina". Pois é, ele escapou de pegar a gripe suína do Uribe durante o encontro da Unasul, mas foi atacado pela febre do petróleo.
Tudo bem. O Brasil não pode se dar ao luxo de rasgar dinheiro. Tem que explorar toda a riqueza do pré-sal, ainda que produzindo um dos combustíveis que mais prejudica o ambiente e a saúde humana. A gasolina emite 90% a mais de gases efeito estufa do que o etanol da cana. Aqui em São Paulo, nesta época de inverno, dá para sentir na pele os efeitos nocivos dos combustíveis fósseis. Basta uma semana sem chuvas para que o ar se torne irrespirável.
Hoje mesmo a Folha traz um estudo do Ministério do Meio Ambiente mostrando que houve um aumento de 56% das emissões de gás carbônico no setor de transporte nos últimos 13 anos. Não é por menos. Usamos o diesel mais sujo do Planeta, sem contar que o governo reduziu este ano os impostos sobre os automóveis.
Às vésperas da COP-15, a convenção do clima em Copenhagen, O Brasil não deve abandonar a bandeira dos biocombustíveis, até pouco há tempo carregada com orgulho e pompa pelo presidente Lula. Uma boa parte dos lucros do petróleo do pré-sal deveria ser aplicada em pesquisa e desenvolvimento de energias alternativas. É uma forma de o Brasil chegar com mais moral em Copenhagen e assumir um papel de liderança das negociações, como o país que tem a matriz energética mais limpa do mundo.
“Vejo com indignação que muitos dos dedos que apontam contra a energia limpa dos biocombustíveis estão sujos de óleo e carvão”, disse o presidente Lula, não faz um ano, numa conferência da FAO em Roma, quando se acusava injustamente o etanol de ser um dos responsáveis pela forte alta dos preços dos alimentos.
O pré-sal pode ser um grande presente ao Brasil, mas como toda a herança precisa ser usado com sabedoria e generosidade, para não virar maldição. Países ricos em petróleo geralmente são miseráveis em civilização.
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