A imagem aí do lado é da minha cidade, São Paulo. Não é filtro, nem photoshop: o ar fica efetivamente assim por causa da poluição gerada pelos carros. E na terra, fica todo mundo parado, por causa do trânsito... Tudo em nome da potentosa indústria automobilística e da ilibada Petrobrás! É tão óbvio que os interesses deles são mais importantes que o interesse da população em geral, né? Mas chega de ranhetices! Leia abaixo um delicioso texto do Bruno Blecher, do jornal Zero Hora, de Porto Alegre, postado em seu blog.O mundo não é real, só pode ser uma grande piada. Em plena temporada do pré-sal, 14 entidades do agronegócio brasileiro criaram em São Paulo a Aliança Brasileira pelo Clima. A aliança reúne o pessoal da soja, das usinas de açúcar e de álcool, do papel e celulose, além das grandes tradings e indústrias de insumos, implementos e máquinas agrícolas. O principal objetivo deste grupo é influir nas negociações da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em dezembro próximo, na Dinamarca.
"Precisamos ser pró-ativos e ver a redução das emissões de carbono não como ameaça, mas como oportunidade. Há 35 anos temos uma matriz energética limpa com o uso do etanol", disse Marcos Jank, presidente da Unica, uma das entidades que forma a Aliança.
Beleza!, diria meu filho. Mas o grande garoto-propaganda do etanol brasileiro, que até há pouco tempo se gabava de ser presidente do país líder da produção de biocombustível limpo e renovável, virou "maria gasolina". Pois é, ele escapou de pegar a gripe suína do Uribe durante o encontro da Unasul, mas foi atacado pela febre do petróleo.
Tudo bem. O Brasil não pode se dar ao luxo de rasgar dinheiro. Tem que explorar toda a riqueza do pré-sal, ainda que produzindo um dos combustíveis que mais prejudica o ambiente e a saúde humana. A gasolina emite 90% a mais de gases efeito estufa do que o etanol da cana. Aqui em São Paulo, nesta época de inverno, dá para sentir na pele os efeitos nocivos dos combustíveis fósseis. Basta uma semana sem chuvas para que o ar se torne irrespirável.
Hoje mesmo a Folha traz um estudo do Ministério do Meio Ambiente mostrando que houve um aumento de 56% das emissões de gás carbônico no setor de transporte nos últimos 13 anos. Não é por menos. Usamos o diesel mais sujo do Planeta, sem contar que o governo reduziu este ano os impostos sobre os automóveis.
Às vésperas da COP-15, a convenção do clima em Copenhagen, O Brasil não deve abandonar a bandeira dos biocombustíveis, até pouco há tempo carregada com orgulho e pompa pelo presidente Lula. Uma boa parte dos lucros do petróleo do pré-sal deveria ser aplicada em pesquisa e desenvolvimento de energias alternativas. É uma forma de o Brasil chegar com mais moral em Copenhagen e assumir um papel de liderança das negociações, como o país que tem a matriz energética mais limpa do mundo.
“Vejo com indignação que muitos dos dedos que apontam contra a energia limpa dos biocombustíveis estão sujos de óleo e carvão”, disse o presidente Lula, não faz um ano, numa conferência da FAO em Roma, quando se acusava injustamente o etanol de ser um dos responsáveis pela forte alta dos preços dos alimentos.
O pré-sal pode ser um grande presente ao Brasil, mas como toda a herança precisa ser usado com sabedoria e generosidade, para não virar maldição. Países ricos em petróleo geralmente são miseráveis em civilização.
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