Acabo de ver uma manchete no Huffington Post: “Segundas sem carne – a salvação pode estar mais próxima do que você pensa”. Sou obrigada a concordar: o discurso “verde” está assumindo um preocupante viés religioso. O tom apocalíptico das previsões sobre clima tira o pouco de racionalidade que deveria conduzir o diálogo sobre o tema. Afinal, estamos a menos de 100 dias da conferência que a ONU estabeleceu para selar um novo acordo para organizar os esforços globais no sentido de minimizar as mudanças climáticas projetadas. E além de vermos estados nacionais aparelhados para endurecerem em suas posições, como várias ONGs que acompanham o debate têm relatado, assistimos a um festival de manchetes sensacionalistas que nada contribuem para esclarecer a conversa.
Sustentabilidade já se tornou um papel de embrulho que empacota qualquer coisa: discurso de direita ou de esquerda, promoção de vendas, embargo econômico, preconceito racial... O dado preocupante: ao invés de gerar mudança, o discurso e as atitudes estão caminhando no sentido de manter o status quo. Ou seja, mexam em tudo: criem selos de sustentabilidade, relatórios, auditorias, produtos com matérias primas renováveis, recicláveis, mas não alterem o padrão de consumo, pelamordeDeus! E não deixem de comprar de mim, grande multinacional que criou mecanismos complexos e caros que o pequeno fabricante, o pequeno varejista não tem como implantar. E quanto mais você está comprometido com essas novas marcas, mais distante ficará da verdadeira sustentabilidade, que é comprar menos, comprar de quem produz perto de você, comprar de quem é pequeno, comprar de ONGs e agentes da economia solidária. Ou, ainda, produzir parte de sua comida, reformar sua roupa (como faziam nossos avós), reaproveitar restos.
A aparente falta de preocupação com as pessoas também me incomoda. Segundo a ONU, mais de 4 bilhões dos 6,7 bilhões de pessoas que habitam este planeta vivem abaixo da linha da pobreza. Mas a pobreza está excluída do discurso de sustentabilidade: o mainstream é ambiental. E o social foi identificado como Responsabilidade Social, algo das empresas e de voluntários... O governo foi alijado do discurso na parte social. Com a crise financeira, ele passou a protagonizar o discurso econômico. Mas como resolver um problema quando se ignora um problema? Se a pobreza não faz parte da pauta pragmática, como encontrar alguma solução? E se a pobreza não está na agenda, como podemos falar em sustentabilidade?
Chega, cansei! Até amanhã!
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