Amanhã, dia 24, a jornalista de moda Lilian Pacce lança o livro “Ecobags - Moda e meio ambiente” na Livraria da Vila do shopping Cidade Jardim, em São Paulo. Trata-se de um exemplo perfeito de como o mundo da moda em geral trata a questão da sustentabilidade. O livro de Lilian reúne 120 bolsas ecologicamente corretas criadas por estilistas e marcas brasileiras como Alexandre Herchcovith, Ash, Blue Man, Carlos Miele, Huis Clos, Juliana Jabour, Mario Queiroz, Neon e Rosa Chá. Na divulgação da obra, encontrei declarações da autora do seguinte quilate: “Não é algo passageiro, é um tsunami. E quem não entrar vai se dar mal. É uma questão contemporânea. A moda sustentável tem de se transformar em um novo luxo”.
Concordo em gênero, número e grau com a afirmação. Agora, dizer que ecobag é sustentabilidade dentro do mundo da moda é o “ó”, né gente? Elas são sustentabilidade para o varejo, que usa sacolas de plástico. Para o mercado da moda, sustentabilidade é dar um fim às sweat houses (as oficinas de costura que empregam pessoas em condições desumanas). É desenvolver processos de lavagem e tingimento de tecidos que demandem menos água e gerem menos resíduos tóxicos. É, acima de tudo, rever o próprio conceito de moda, hoje praticamente um sinônimo de produto descartável.
Mas essa confusão sobre o que é sustentabilidade não é exclusiva do mundo da moda. O mundo empresarial está cheio de empresas que acham que doar para uma creche é sustentabilidade. Que passam a usar papel reciclado e já se sentem sustentáveis. Na verdade, todo o setor produtivo encontra-se em fase de transição para a sustentabilidade – alguns com mais consistência, outros com menos.
Pesquisando sobre o tema descobri um case bem legal: o da Osklem: a grife de Oskar Metsavath criou o Instituto-e, que se baseia em cinco pilares: origem da matéria-prima, impacto do processo produtivo, relações trabalhistas e/ou com a comunidade, design e atributos comerciais. Ou seja, uma abordagem muito mais completa, que olha para a moda enquanto indústria dentro de uma cadeia econômica – e não como uma mera fonte de peças “com atitude”. O Instituto já fez o mapeamento de matérias-primas, orientando o desenvolvimento de coleções apresentadas na SPFW, por exemplo. Atualmente, a Osklen produz t-shirts de poliéster extraído de garrafas pet recicladas, além de tênis feitos de couro de peixe e bolsas e acessórios ecologicamente corretos.Também apoiou o redesenho da sandália Ipanema, da Grendene – um exemplo das sinergias entre o instituto e outras empresas. Além de criar um produto feito com material reciclado e 0% de resíduo na produção, Oskar sugeriu que parte da verba arrecadada com a venda das sandálias fosse destinada ao bairro carioca cujo nome ela carrega. A idéia, aprovada, tem permitido a revitalização do Parque Garota de Ipanema.
Os esforços de algumas poucas empresas esbarram em condições de mercado nada favoráveis. Contrariando as palavras de Lilian Pacce, não há uma tsunami de matérias-primas disponíveis: a questão da escala ainda impede a adoção de produtos ambientalmente menos agressivos. Tampouco há qualquer incentivo do governo para a produção de tais materiais. O resultado é que muitas vezes sustentabilidade, na moda, se restringe a uma estratégia de marketing que utiliza os próprios produtos como canais de comunicação: quem já não viu peças com mensagens sustentáveis?
A troca do significado por seu significante poderia muito bem ser classificada de greewashing, não fosse por um detalhe: moda faz cabeça. Dissemina valores e atitudes. Que bom, portanto, que o mundinho adotou a “causa”!
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