Sustentabilidade não é só meio ambiente e investimento social externo, como muita gente pensa. Sustentabilidade é responsabilidade, antes de mais nada. Não tem porquê complicar, falando em
tripple bottom line e esses termos complicados que dificultam a compreensão e deixam o discurso restrito a um determinado grupo selecionado de pessoas. Sustentabilidade é pura e simples responsabilidade: comigo, com meus descendentes, com meus amigos, com aqueles que não conheço, com as águas, o ar, os passarinhos... Sim, é o segundo mandamento da lei mosaica, comum ao cristianismo e ao judaísmo, presente também no islamismo – e, sob forma diferente, também um dos pilares das religiões orientais. Não se trata de coincidência, mas de evidência de que as diferenças são ilusórias: os princípios básicos da maioria das religiões são muito parecidos porque os seres humanos são muito parecidos em sua essência - no desejo de amar, de ser feliz, de se expressar, de ser quem a gente realmente é e não quem a gente acha que deveria ser. Mas o fato de sermos iguais na essência não quer dizer que não tenhamos uma individualidade única, singular. E se cada um é único, então não há padrão. De verdade: de perto ninguém é normal e essa é uma boa notícia. Os conceitos de normal, comum, certo são como marcadores que usamos para chegar a um determinado conteúdo – mas o conteúdo em si é único. Busque uma palavra no google: ela é o conceito de normal que vai lhe trazer milhares, milhões de expressões individuais. Não é muito mais interessante quando clicamos nos links e encontramos conteúdos diferentes? Ou você gosta de encontrar o mesmo texto, a mesma foto, o mesmo filme em todos eles? Com pessoas, é a mesma coisa: a riqueza, em todos os sentidos da palavra, está na diferença. É ela quem dá a riqueza genética que assegura a continuidade da raça (se fossemos todos geneticamente iguais, talvez já tivéssemos desaparecido da face da Terra). É ela quem pode gerar riqueza material para as empresas, na forma de idéias, projetos, produtos e formas diferenciadas de consumo. É ela quem pode nos trazer diferentes formas de enxergar o mundo e a vida, ajudando a encontrar as soluções necessárias para os problemas complexos que estamos enfrentando – e que não conseguiremos resolver sozinhos, nem só com a nossa tchurma! Sabe a história de pensar fora da caixa? Ela só se concretiza se pensarmos além do paradigma do jovem-adulto-branco-heterossexual como nossa meta de governante, consumidor, funcionário, chefe, líder... Pensar fora da caixa é pensar que podemos, sim, ser atendidos por um caixa de banco transexual. É largar a máscara deste eterno Carnaval de Veneza e parar de fingir que somos pierrôs de face lívida. E que grande ironia: uma das máscaras mais conhecidas na sociedade ocidental traz uma lágrima no canto do olho. Chame de persona social, ou super-ego, dependendo da disciplina acadêmica de sua preferência, mas a verdade é que não ser o que somos de verdade vai nos matando aos poucos, por sufocamento: sufocamento de talento, de criatividade, de afeto... Sufocamento que às vezes é somatizado em doenças e comportamentos de risco que geram prejuízos individuais e sociais. Sufocamento auto-impingido pela incorporação da cultura? Práticas sociais discriminatórias? No fundo, é tudo a mesma coisa e essa coisa tem nome: dominação. Só que quando todos são dominados, quem é o dominador? Porque o homem branco heterossexual também sofre com o peso desse modelo de conduta. E se essa conduta provoca tanto sofrimento, ela não é uma conduta responsável. Portanto, não é sustentável.
Portanto, quando pensar em sustentabilidade, não pense só no aquecimento global, na Floresta Amazônica, no copo de plástico. Pense em como você lida com você mesmo. E em como você trata e respeita o outro. Dentro de casa. Na mesa com os amigos. No ambiente de trabalho. Não precisa ir até a ONU, não: basta olhar para sua vida. E não se chocar se um dia você for atendido por um caixa de banco transexual.
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