Se você, como eu, decidiu que terá o cuidado de dar uma destinação correta a computadores, televisores, celulares, geladeiras e demais eletrônicos usados, prepare-se: não vai ser fácil.
Esta indústria não tem uma cadeia produtiva sustentável. A engenharia não faz produtos fáceis de serem desmontados. Isso inibe o surgimento de recicladores, que também enfrentam a dificuldade de lidar com uma miríade de materiais, alguns dos quais muito tóxicos (como os metais de baterias de celular e computador). Para piorar a situação, estamos falando de uma indústria globalizada que enfrenta uma enorme variedade de legislações a respeito, conforme o país.
E legislação faz diferença!! Tanto que qualquer consumidor pode dar uma destinação correta a seu celular (bateria, componentes, capa) graças à resolução CONAMA que obriga os fabricantes a isso. Resultado: pontos de reciclagem são facilmente encontrados nas lojas das operadoras.
Mas se o objeto a ser reciclado for um computador, um televisor ou um microondas, a situação se complica.
Comecei minha pesquisa pelo varejo, ligando para as três enormes redes de venda de eletrônicos: Casas Bahia, Magazine Luiza e Ponto Frio. Todas me informaram, via chat on line, que não recebem produtos usados para reciclagem.
Resolvi então procurar os fabricantes. Comecei pelos computadores. HP e Dell possuem esquema de logística reversa, descrito em seus sites. Positivo Informática, não. A Apple – que atua nos segmentos de computadores, tocadores de música e telefones – tem um programa de reciclagem liiiindo... que não está disponível no Brasil .
Liguei para a Philips, cujo SAC me informou que,sim! eles possuem esquema de logística reversa! Ok, então como faço para enviar meu produto? Resposta: “a reciclagem é feita em Manaus, então a senhora precisa procurar no site da prefeitura de sua cidade para ver como é feito o recolhimento”. Bom, o site da prefeitura de São Paulo, cidade onde vivo, é um portal, com milhares de informações. Perguntei à atendente da Philips em qual parte do site da prefeitura está essa informação e, obviamente, ela não soube responder.
E obviamente quando entrei no site da prefeitura e usei o serviço de busca para localizar informações sobre “reciclagem”, não veio NADA!
Liguei também para a Samsung, que oferece esse tipo de serviço nos Estados Unidos (http://pages.samsung.com/us/recyclingdirect/locations.jsp). O SAC me informou que bastava que eu procurasse uma assistência técnica que eles receberiam meu produto e o encaminhariam para a fábrica para reciclagem. Só que ao ligar para a assistência técnica indicada pelo SAC da Samsung, descobri que esse tipo de serviço não existe.
No caso da GE/Dako, pediram que eu ligasse na fábrica, em Campinas...
A esta altura do campeonato, eu louvei a sinceridade da atendente da Brastemp, que simplesmente admitiu que não há qualquer mecanismo de reciclagem dos produtos.
Por ser um país de enormes diferenças sociais, o Brasil ainda está no estágio em que a melhor reciclagem é a doação – o Comitê para Democratização da Informática já incluiu milhares de pessoas com base nesse mecanismo. Mas não podemos nos esquecer que embora inclusivo, esse esquema repassa o ônus do descarte para classes menos favorecidas. Ou seja, no final do ciclo de vida do produto é preciso haver uma destinação ambientalmente correta de fácil acesso para todos. Algo que, infelizmente, não existe no setor de eletrônicos.
Silvia,
ResponderExcluirNa semana passada, fui a uma assistência oficial da Panasonic, para tentar consertar meu aparelho de DVD, que tem pouco mais de três anos... O preço para trocar a placa que apresenta problema é duas vezes mais caro do que comprar um DVD novo... Primeira falha em termos de sustentabilidade, pois incita o consumidor a adquirir um eletrônico novo e descartar o velho.
Como eu não quis pagar pelo serviço, perguntei se eles reciclariam o aparelho, se ficariam com ele para usar alguma peça e me disseram que eu precisaria ligar para todas as assistências da marca para checar, pois seria uma ação isolada... Liguei no SAC da Panasonic e me informaram que eu teria que ligar para a prefeitura de SP, pois eles tinham um programa para descarte de eletrônicos!
Bem, o DVD está lá em casa... Estou sem coragem para jogá-lo fora e quero dar um destino honesto para ele.
In the other hand, há uns seis meses, precisei levar minha torradeira Black&Decker à assistência técnica e tive uma agradável surpresa... Como ela era muito antiga e não tinha mais peça de reposição, a Black&Decker estava recolhendo e dando um bônus para a compra de outro produto da marca! Gol!
Precisamos motivar as empresas irresponsáveis a agirem corretamente, dando apoio para o consumidor na hora do descarte, não só na hora da compra...