Todo dia quando acordo, agradeço por ter nascido em um grande centro urbano do Ocidente.
Porque sou mulher e sei que o Século XXI não é homogêneo. Quando se trata de direitos do ser humano, a geografia é muitas vezes mais determinante que o tempo.
Para constatar isso, não é preciso ir até o Afeganistão, onde foi promulgada a chamada “lei do estupro”, que assegura o direito aos homens xiitas de exigir sexo de suas mulheres uma vez a cada quatro dias. Basta olhar com atenção os números da pesquisa que o IBOPE fez a pedido do Instituto Avon sobre Percepções sobre a Violência Doméstica contra a Mulher no Brasil (*).
Segundo o levantamento, o maior temor de 56% das entrevistadas é ser agredida em casa pelo companheiro, pelos filhos ou pelos netos. A violência doméstica vem antes que a preocupação com o aumento dos casos de aids (51%), com a violência urbana (36%) e com o câncer de mama e de útero (31%).
E não é por acaso: mais da metade das entrevistadas (55%) afirma conhecer uma mulher que sofreu ou sofre agressões de seu parceiro. Agora, o número mais chocante: apenas 39% estão tomando medidas colaborativas para ajudar mulheres que sofrem ou sofreram alguma agressão. Isso significa que em 61% dos casos não há apoio.
Não se trata de falta de conhecimento da lei: segundo esse mesmo estudo, 78% declaram conhecer a Lei Maria da Penha. Mas um oceano separa a informação da sensação de segurança necessária para avançar na luta pelo respeito: mais da metade das entrevistadas (56%) se mostraram céticas em relação a proteção judicial e policial à mulher vítima de agressão. Mais uma vez, não é por acaso: existem atualmente apenas 410 delegacias da mulher em todo Brasil – sendo que apenas uma, em São Paulo, 24 horas.
Ao ceticismo, some-se o medo: 17% das mulheres não denunciam o agressor temendo serem assassinadas. E nada menos que uma em cada quatro entrevistadas acaba dando continuidade à relação com o agressor por dependência financeira.
Para mais de um terço das pesquisadas (36%), a violência contra a mulher é uma questão cultural. Ainda assim, apenas 11% defendem a participação do agressor em grupos de reeducação como a melhor medida jurídica. Para mais da metade da amostra (51%), a prisão do agressor é mais eficiente – um indicador do nível de indignação e revolta sentidas.
Mais uma vez, não é por acaso: assista ao vídeo da ONG Women´s Aid.
Disque 180 para denunciar a violência contra a mulher
Denúncias de casos de violência doméstica podem ser comunicados pelo número 180. Ele atende 24 horas por dia, 7 dias por semana, inclusive feriados, em qualquer lugar do Brasil. E aceita chamadas de qualquer telefone, público, fixo ou celular – ao contrário do Instituto Avon, para onde tentei ligar do meu celular, e que não aceita chamadas de telefones móveis.
(*) A Pesquisa Instituto Avon/Ibope - Percepções sobre a Violência Doméstica contra a Mulher no Brasil foi realizada em âmbito nacional de 13 a 17 de fevereiro de 2009 e entrevistou 2002 mulheres, em cidades com mais de 20 mil habitantes e capitais.
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