Não dizem que a história é a versão dos vencedores? Pois é...

O que é a História senão a versão de quem venceu e ficou para contar? E, na política brasileira, quem mais exibe a face de vencedor do que José Sarney? Nascido em 24 de abril de 1930, este maranhense do município de Pinheiro disputa com a também taurina Elizabeth, regente da Inglaterra, quem fica mais tempo no poder. Porque apesar de nosso regime não ser monárquico, ele reina desde 1954, quando elegeu-se suplente de Deputado Federal pelo falecido PSD-Partido Social Democrático. Chegou a governador de seu estado em 1965, com o apoio da ditadura militar. Apesar de integrar a ARENA, o partido de direita dos anos de chumbo, rompeu com esta na transição para a democracia fundando o Partido da Frente Liberal-PFL (sim, aquele que, recentemente, mudou o nome para DEM), com o qual associou-se ao PMDB. Com a morte prematura de Tancredo Neves, de quem era vice, passou a envergar a faixa presidencial e, desde então, não abandona Brasília: em 2011, assumiu a presidência do Senado Federal pela quarta vez. E foi, nesta condição, que ele inaugurou uma exposição de 16 painéis a título de comemoração pelos 185 anos de existência do poder legislativo no Brasil. Como história de um vencedor, esta também omite tudo que lhe desagrada. Por exemplo, o impeachment de seu aliado Fernando Collor.

Mas quem foi o historiador que se submeteu a assinar esta exposição?



Seu nome é Pedro Costa. Ele foi "consultor" da equipe de Criação e Marketing da Secretaria de Comunicação do Senado (SUPRES/SECS), respondendo pelo conteúdo dos painéis.

E quem é Pedro Costa?

Uma nota do colunista Gilberto Amaral de 7 de julho de 2009 já nos dá uma pista:


Depois da santa missa na casa de Dom José Freire Falcão, fomos até a residência do presidente José Sarney que papeava tranquilamente com os ministros Edison Lobão e Ronaldo Costa Couto, do Tribunal de Contas DF, e que é também um brilhante historiador. Seu fiel escudeiro Pedro Costa e seu assessor Vanderley Azevedo, calados, mas atentos.


E quem é Ronaldo Costa Couto? É o autor de “Brasília Kubitschek de Oliveira”. Mas antes disso, foi foi Ministro do Interior, Governador de Brasília e Chefe da Casa Civil enquanto José Sarney era presidente da República. Ou seja, o autor do conteúdo dos painéis é o "fiel escudeiro" do coringa do governo Sarney! Aliás, falando de Pedro Costa, você sabia que ele é co-autor do livro "Amapá: a Terra onde o Brasil Começa"? Adivinhe quem é o outro autor? Sim, ele mesmo: o honorável membro da Academia Brasileira de Letras, José Sarney!

Ocorre que, na visão de José Sarney, “Talvez esse episódio [o impeachment de Collor] seja apenas um acidente que não devia ter acontecido na história do Brasil. Mas não é tão marcante como foram os fatos que aqui estão contados, que foram os que construíram a história e não os que de certo modo não deviam ter acontecido”, disse Sarney.
E rapidamente foi arranjada uma "razão científica" para justificar o fato. Segundo a Subsecretaria de Projetos Especiais (Supres):

“Os fatos históricos da mais antiga Casa legislativa do país são narrados em dezesseis painéis, com textos e imagens, seguindo a linha cronológica da história do Brasil desde 1822. A partir da Constituição de 1988, a opção dos historiadores foi destacar os fatos marcantes da atividade legislativa. O foco da exposição é mostrar a produção legislativa do Congresso Nacional . A discussão e aprovação das leis é a essência do que faz o parlamento como poder republicano.”

Mas a razão é uma só: a história oficial é a história dos vencedores. E, neste momento, os vencedores são o PMDB e seu senador pelo Amapá, José Sarney, presidente do Senado.

:(

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