(i)mobilidade urbana

Mobilidade Urbana: mais que um conceito, trata-se de uma aspiração para quem mora nos grandes centros urbanos dos chamados países em desenvolvimento. Aqui em São Paulo, é comum uma pessoa passar de duas a quatro horas do seu dia parada no trânsito. Em cinco dias úteis, esse total pode chegar a 20 horas, quase um dia de vida perdido! E esse lento assassinato é executado com requintes de crueldade: barulho, poluição, stress.... Motoboys, no caso dos motoristas de carro. Carros e ônibus, no caso de condutores de motos e bikers. Lotação absurda, falta de espaço, de ar e de respeito, no transporte público. Parece uma maldição. E talvez seja: a maldição de JK.

Tudo começou em 1956, com o Plano de Metas do então presidente Juscelino Kubtischek. O grande objetivo era corrigir os chamados "pontos de estrangulamento" da economia para que o país pudesse avançar "50 anos em 5", como dizia mote do programa. Para tanto, ele lançava 31 metas divididas em cinco frentes de ação: Energia, Transportes, Alimentação, Indústria de Base e Educação. Juntas, elas deveriam criar as condições para o desenvolvimento, tais como a construção de estradas e a ampliação da oferta de energia elétrica, além de reduzir a dependência das importações.

Ocorre que na esteira desse plano nasceu um modelo logístico perverso, que penaliza pessoas e o ambiente: a opção preferencial pelo modal rodoviário. Ele foi consubstanciado pela somatória da vinda da indústria automobilística (fornecedora de veículos para transporte de pessoas e carga), da abertura de estradas (para integração, porém sem o devido acompanhamento de vias ferroviárias para carga) e pelo aumento da produção de Petróleo da Petrobrás.

Embora formatado nos anos 50, este tripé permanece como paradigma de desenvolvimento para o Brasil até hoje: abrir estradas, aumentar a produção da Petrobrás, atrair indústrias automotivas e mostrar números exuberantes de venda de carros são sinais que nosso governo e nossa sociedade aceitam como indicativos incontestes de crescimento, prosperidade e até de ascenção social.

Na prática, esse tripé se traduz em filas e filas de caminhões nas estradas e nas cidades. Traduz-se, ainda, em opções de investimento público questionáveis: no caso de São Paulo, por exemplo, tivemos a ampliação da Marginal Tietê ao invés da ampliação do metrô, cujas obras andam em um ritmo tão lento, considerando-se as décadas nas quais transcorrem, que usar a imagem de uma tartaruga para ilustrar seria desrespeitoso com a tartaruga. E traduz-se, naturalmente, na incrível cifra de 7 milhões de veículos apenas na CIDADE de São Paulo. Nada mais natural: qualquer um que tenha dinheiro para comprar e sustentar um Fiat 147 optará pelo transporte individual ao público. E não é para menos: estudo do IPEA-Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada comprova que mais da metade dos usuários de transporte coletivo (55%, para ser precisa) consideram o serviço "ruim", "muito ruim" ou "regular".

Esta matéria do Bom Dia Brasil de hoje, feita no Metrô de São Paulo, ilustra bem a situação:



O lado irônico é que os gestores públicos que deixaram o tranporte público no limbo nas últimas cinco décadas fazem uso e elogiam o transporte público das cidades européias. Mas, aqui, o lance é ter um carrão, não é mesmo?

Além de ser um atentado à dignidade humana, a opção pelo transporte individual sobre rodas também está na origem dos altos níveis de poluição de São Paulo. O trânsito de São Paulo é fonte de 5% dos gases causadores do chamado efeito estufa que nosso país emite. O impacto sobre nossa saúde é igualmente nefasto: na cidade de São Paulo, quatro mil pessoas morrem a mais por ano vítimas da poluição do ar.

O repórter André Trigueiro, do Cidades e Soluções, foi cobaia para mostrar como o trânsito prejudica nossa saúde: para ver a matéria, clique aqui: http://g1.globo.com/videos/globo-news/cidades-e-solucoes/v/cidades-e-solucoes-mostra-os-efeitos-da-poluicao-no-corpo/1501268/

Está mais do que na hora de exorcizar a maldição de JK: transporte público de qualidade JÁ!

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