Perspectivas pós CoP15 - parte I

Encerrada a 15ª Conferência das Partes da Convenção Quadro da ONU para Mudanças Climáticas, a grande incógnita passa a ser: e agora? O que acontece?

Olhe para qualquer lado – governos, empresas, ONGs – e a conclusão é uma só: aconteça o que acontecer, avançaremos. Não há mais volta – e não é por causa dos supostos efeitos do aquecimento global que digo isso: é por causa de uma nova percepção de mundo que está se formando e que foi reforçada com a visibilidade que a CoP15 deu à questão ambiental. Uma visão de mundo na qual os desastres ambientais não são vistos mais como mera fatalidade, como acidente ou exceção à ordem natural das coisas ou ainda como fruto da vontade divina. O que começa a tomar forma neste começo de século XXI é a percepção de que muito do que antes era atribuído à “natureza” é, na verdade, consequência de atos e (falta de) responsabilidade das pessoas. E a partir do momento em que se enxerga o mundo assim, aqueles que são percebidos como responsáveis – e governos e empresas se encaixam nessa categoria – passam a ser responsabilizados (se não legalmente, pelo menos do ponto de vista moral, vértice último da opinião pública).

Ocorre que a questão climática disputa espaço, nas mídias, nos corações e mentes das pessoas (e nos orçamentos governamentais e empresariais) com vários outros assuntos: saúde, habitação, segurança pública... E eu tenho dúvidas até que ponto a relação entre clima e saúde, clima e habitação, clima e segurança é percebida. Ou seja, se já avançamos no entendimento da dimensão do tema ambiental, falta ainda perceber sua dimensão transversal, que perpassa todos os demais temas da agenda social, que fatalmente nos levará a encarar o tema como business as usual, como mainstream. Bom, eu duvido que isso aconteça em 2010 ou no curto prazo: quem mexe com meio ambiente não vai entregar o tema (e as verbas, os projetos etc. etc.) de mão beijada para o colega da saúde, por exemplo. E não falo isso só no nível governamental: a perspectiva de ganhar poder (político, financeiro, social) com a questão ambiental é que faz com que ela seja mantida como um escaninho separado dentro de nosso modelo mental de mundo. Muita água ainda terá que correr debaixo da ponte (ou em cima dela) para que isso mude.

Um comentário:

  1. É isso: todos os ministérios, secretarias, departamentos tinham que ter especialistas em meio ambiente e sustentabilidade. Os governos precisam se dar conta de que é uma questão estratégica que afeta tudo. E precisam parar de ver economia e meio ambiente como questões que se opõem. Acho que, a partir do momento em que aceitarem que a base filosófica/teórica da economia precisa mudar, aí é que começaremos a avançar a olhos vistos. Se a ficha não cair em 2010, espero que seja em breve, viu?

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