Perspectivas pós CoP15 - parte II

1. Do ponto de vista das negociações, tudo será retomado na CoP16 no final deste ano, no México. Antes, porém, os países devem enviar à UNFCCC suas metas individuais de redução de emissões até o dia 31 deste mês. E a movimentação já começou: o BASIC (Brasil, África do Sul, Índia e China) está se reunindo na Índia no próximo dia 24 - certamente para definir se aderem ou não ao Protocolo de Copenhagen (sempre há a opção de não assinar e não enviar as metas, o que não seria nada mau, pois sinalizaria para o próximo país-anfitrião que é preciso seriedade para deixar o nome de sua cidade na história). No final de maio está prevista uma nova rodada de negociações em Bonn, Alemanha, para tentar amarrar as coisas, já que o tal do Protocolo de Copenhagen só vale como ata de reunião, se tanto! Ou seja, para os negociadores 2010 é ano de colocar ordem na bagunça e tentar retomar os trilhos da negociação (me perdoem o trocadilho, mas não dava para perder a chance de fazer alusão aos dois trilhos das negociações climáticas, estabelecidas no Mapa do Caminho, na CoP13: o do Protocolo de Kyoto, por meio do AWG-KP, e do documento que complementa o protocolo, por meio do AWF-LCA) - o que, por si só, é uma boa notícia, já que boa parte dos problemas enfrentados nos últimos anos nas negociações climáticas é justamente a tentativa de derrubada dos trilhos de negociação.

2. Para os governos participantes, será um ano de avaliação das conseqüências desse fracasso. Em países como Brasil, EUA e Inglaterra, 2010 é ano de eleições. No caso destes dois últimos, é bem provável que a questão ambiental seja ofuscada pelos problemas econômicos que ambos enfrentam. No caso específico dos EUA, devemos presenciar um embate forte de posições ideológicas entre republicanos e democratas: se não conseguir maioria no Congresso, a vida do Obama ficará bem mais complicada do que já está! E os republicanos, que estão mais fortes a cada dia (ou pelo menos mais saidinhos do armário) são veementemente contra qualquer avanço na questão ambiental. Aqui no Brasil, o tema será inevitável não por causa da CoP, mas por causa da candidatura da Marina Silva. Porém, a atenção que o eleitor der a esse tema será um indicativo dos anseios da sociedade civil e balizará o comportamento dos negociadores no final do ano. Portanto, se você se preocupa com o tema, não deixe de escrever para seu candidato cobrando seu programa a respeito.

3. Para as empresas, sorry, não tem volta: o tema foi muito exposto na opinião pública e não há como voltar para trás. Ou seja, pode ser que o consumidor não queira pagar a mais por um produto “sustentável” (e nem deve! Há uma falácia, ou melhor, uma estratégia de marketing perversa aqui: os produtos ditos ecológicos estão sendo tratados como nicho – apresentados como objetos de desejo, em pouca quantidade, em seções separadas e por um preço acima da média para reforçar posicionamento de imagem, e não em função do seu real custo de produção! E não haverá sustentabilidade enquanto produto sustentável for nicho e não mainstream). Mas certamente o consumidor deixará de comprar se souber que um determinado produto é feito às custas do meio ambiente ou da dignidade de seus trabalhadores. Se por um lado o fracasso da CoP 15 deu às empresas mais tempo para se adaptar e desenvolver novas tecnologias e sistemas de gestão, por outro lhes negou a perspectiva de marcos regulatórios minimamente unificados que facilitem o trabalho. E mais: aguçou a percepção sobre greenwashing, já que no “inconsciente coletivo” (expressão que uso por falta de um termo melhor que traduza essa sensação coletiva meio vaga, porém forte o suficiente para embasar percepções e opiniões) o setor empresarial foi um dos responsáveis pelo fracasso das negociações. Mesmo em setores que não lidam diretamente com o consumidor final, a tendência é inexorável já que todos sabem que, no futuro, as grandes empresas serão aquelas que conseguirem sair na frente na migração para uma economia de baixo carbono dentro de condições competitivas na economia. Só que com o fracasso da CoP15 terão que fazer isso por conta própria, sem linhas especiais de financiamento ou apoio ao desenvolvimento de tecnologia. Mas terão que fazer: não há como voltar!

4. Para as ONGs, será um ano de muito trabalho. Falarei sobre isso amanhã.

Um comentário:

  1. Boa tarde,

    Gostaríamos de apresentá-los a FIBoPS – Feira Internacional para o Intercâmbio das Boas Práticas Socioambientais, a maior vitrine de sustentabilidade do país.

    A 3ª edição da FIBoPS se realiza em julho, entre os dias 27 a 29, no Centro de Convenções Frei Caneca em São Paulo, e receberá um publico especializado e formador de opinião de mais de 6 mil pessoas. As melhores mentes e marcas pró-sustentabilidade marcarão presença no evento.
    Este ano estaremos realizando paralelamente à Feira, também o I Congresso Internacional para o Intercâmbio das Boas Práticas Socioambientais, com vários painéis temáticos cobrindo os temas mais atuais e relevantes da temática socioambiental. Contaremos com a participação de palestrantes brasileiros e internacionais, especialistas e líderes em suas áreas de atuação.

    Desde já convidamos a conhecer e participar do evento, e se de interesse, apoiar na divulgação!

    Um abraço,

    Henrique Mendes
    Coordenador Técnico
    www.institutomais.org
    (11)32579660 / (11)7983-1833

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