Uma tese inconveniente – parte II

A tese de Robert Brulle de cansaço da opinião pública em relação a temas ambientais (veja aqui) é reforçada pelo conceito de “normalização” das coisas. Às vezes nos esquecemos, mas já existe uma geração que cresceu sob a égide do aquecimento global: a Rio-92 ocorreu há quase 20 anos! Para esses jovens, sempre existiu o aquecimento global – e aí reside o problema, se analisarmos a questão pelo conceito de amnésia ambiental geracional, desenvolvido em estudo de Peter Kahn, de 1999. Segundo ele, nós tomamos o mundo no qual vivemos nossa infância como parâmetro de normalidade; como a cada geração o mundo de nossa infância é mais degradado, cada geração tende a achar normal um índice mais elevado de degradação ambiental. Ok, concordo com você: para isso existe escola e todo o trabalho de educação ambiental que faz com que nossas crianças nos dêem bronca quando deixamos a torneira aberta ou quando não reciclamos o lixo. Mas a questão aqui é o senso de normalidade, de como o mundo é: e para os jovens abaixo de 17 anos, o mundo já vem com aquecimento global. Sendo normal, não é notícia. Não sendo notícia, não se presta atenção no assunto. E forma-se o círculo vicioso que mantém o tema restrito aos nichos.

Some-se a isso o fato de que há muita hesitação em relacionar os fenômenos climáticos que presenciamos com o aquecimento global. Se de um lado os céticos são enfáticos ao dizer que não há relação, do outro lado adota-se a postura tucana de evitar afirmações veementes. Tudo muito correto, aos olhos da ciência, que cada vez mais atua segundo o princípio da incerteza. Porém para a opinião pública em geral, só a certeza justifica iniciativas e investimentos vultuosos, como a migração para uma economia de baixo carbono exigiria. Na falta da certeza, fica-se na confortável zona das campanhas de sacolas plásticas e reciclagem de lixo – que são importantes, veja bem, mas não suficientes.

Ou seja, além de velho e corriqueiro, clima, do ponto de vista estrutural, não é visto como um assunto que faça parte da nossa vida.

Aí vem a pergunta: o que fazer para mudar isso? Obviamente, eu não tenho “a” resposta, mas apenas alguns insights. O primeiro deles é: não devemos subestimar a opinião pública. Já vi isso acontecer: não responder apropriadamente às duvidas levantadas pelo Climategate; ou, mais corriqueiramente, não se dar ao trabalho de explicar porque temos que economizar água se chove tanto! Existem questões que vão contra o senso comum e enquanto o senso comum for desprezado como ignorância ele se vingará ignorando a dita “ciência”.

O segundo insight é: temos que ser menos chatos. Ecochatos – quantos não são? Muitos! O tom professoral, ou melhor, pastoral, pois tem muita campanha e ativista ambiental que mais parecem membros de uma igreja vociferando o fim do mundo! O Zé do Apocalipse não faria melhor! Não é por acaso que essa comparação surge volta e meia (voltando ao insight 1: não devemos desprezar a opinião pública). Não podemos nos esquecer que o medo é paralisante. (se tudo vai dar errado mesmo, por que tenho que fazer algo? Vou aproveitar a vida que resta!)

Ou seja, seria necessário mudar forma, tom e conteúdo. Só isso? Não, tem mais: tem que mudar de canal. Internet e redes sociais são fantásticas, mas não são tudo – é preciso investir na comunicação offline, aquela que pega a base da pirâmide, o eleitor e cidadão. Sem ele, não avançaremos. Por isso, a campanha política é crítica. Mas isso é assunto para outro dia.

Um comentário:

  1. Pois eu vou ficar esperando você falar sobre as ações "offline". Uma das minhas metas para 2009-2010 é justamente sair de trás da tela do computador e levar propostas que possam ser abraçadas no mundo real.

    Mas, ô coisinha difícil de fazer!

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