Uma tese inconveniente - parte I

Longe de mim querer apresentar o raciocínio a seguir como uma verdade! Ele é apenas uma teoria. Aliás, uma percepção – chamar de teoria é certamente muita arrogância para quem nunca foi ongueira e só começou a ter contato com esse universo no ano passado, por causa da CoP15. Por isso, o que eu escrever abaixo corre o sério risco de ser uma visão equivocada ou superficial. Isso eu não sei. Só sei que o texto ficou longo e eu vou dividi-lo em partes. Hoje posto a primeira, que, basicamente, declara minha percepção de que o movimento ambientalista tem um teto. É como se fosse o Paulo Maluf, que a cada eleição saia lá com um determinado percentual nas pesquisas, porque tem um eleitorado fiel, mas que já não conseguia ultrapassar essa cota. Vejo o mesmo fenômeno com as questões ambientais: elas encontram uma grande adesão, de coração mesmo, entre um determinado número de pessoas. Ponto. Como se fosse um nicho - um nicho de imagem dúbia, que abriga ao mesmo tempo os “salvadores do planeta” e os “ecochatos” e “biodesagradáveis”.

Foi a CoP15 que me trouxe essa desagradável percepção: os números obtidos em manifestações e abaixo assinados foram pífios diante do total da população, ainda que expressivos isoladamente. Mesmo considerando-se que 4 bilhões de pessoas do planeta estão abaixo da linha da pobreza, mesmo fazendo uma conta idiota de 1% do restante, ainda assim teríamos um número significativamente maior do que o que aparentemente foi mobilizado sob o mote da CoP15. Não tenho dúvidas que foi a baixa expressão da opinião pública que facilitou o fracasso da Conferência: qualquer cálculo político baseado no que foi demonstrado na CoP indicava um altíssimo risco de imagem, sim, porém perante um grupo quase insignificante de pessoas dentro da massa total de eleitores (e de seres vivos) do planeta. Dava para correr o risco, mesmo sabendo que esse nicho engloba um bom percentual de formadores de opinião.

Considerando-se que as ONGs ambientalistas são, em teoria, a voz da sociedade civil organizada para este tema, ficam duas perguntas: 1) por que não conseguem ultrapassar esse teto? 2) o que pode ser feito para ampliar o alcance da mensagem?

Para responder à primeira pergunta, vou me basear em informações passadas pelo sociólogo Robert Brulle, da Drexel University, ao Andrew Revkin, do blog Dot Earth, do New York Times, para tentar explicar porquê a mídia norte-americana dá tão pouca atenção ao assunto (apenas 1,5% das matérias de 2009 foram sobre meio ambiente, mesmo com a CoP15 e o Climategate, o escândalo do vazamento dos emails questionando os estudos do IPCC).

Para tanto, Brulle recorreu à tese do ciclo de atenção, desenvolvida pela primeira vez em 1972 por Anthony Downs, e que define a atenção do público como um fenômeno cíclico que é disparado por um evento que atrai rapidamente curiosidade e, por consequência, cobertura da imprensa, mas que não se sustenta e, ao esvaziar-se, abre espaço para outro tema. Não é a perfeita descrição do que acontece aqui no Brasil com as notícias de escândalos envolvendo políticos? Um se sucede ao outro, nunca acompanhamos as histórias até o final. A cobertura excessiva dada no primeiro momento gera super-exposição – e cansa.

Para Brulle, o gatilho de visibilidade do aquecimento global perante a opinião pública norteamericana foi o filme “Uma Verdade Inconveniente”, do Al Gore, em 2007 – ano no qual registrou-se o pico de cobertura jornalística sobre o tema na terra do Tio Sam. Desde então, a cobertura do tema tem decaído ano a ano, incluindo 2009 – mesmo com a CoP!

Então, podemos ter aqui uma primeira explicação para o fato de que o tema ambiental não avança na opinião pública: ele já está um tanto desgastado. Amanhã tem mais.

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