Embora o secretário geral da UNFCCC, Yvo de Boer, tenha tentado minimizar a importância do próximo dia 31 de janeiro - prazo para que os países participantes da CoP15 formalizem suas propostas de redução nas emissões de CO2 - a verdade é que o próximo domingo funcionará como um termômetro para vermos como está a temperatura das negociações climáticas pós o fiasco da Conferência de Copenhagen. No site do braço norte-americano da Climate Action Network (rede que congrega quase 500 ONGs ambientalistas em todo o mundo), é possível conferir um quadro com os nomes dos países que já declararam sua posição sobre o Acordo de Copenhagen. A lista cresce a cada dia e, com exceção de Cuba, todos sinalizam que assinarão o Acordo.
Você deve estar pensando: "ok, grande coisa assinar um acordo cheio de furos e que não vale nada". É, sob esse aspecto, você tem razão. A adesão majoritária ao Acordo não o transforma em um documento válido (Cuba já disse que não assina embaixo). E mesmo que houvesse consenso, o texto é tão vago que não muda muito o estado das coisas.
Mas a adesão majoritária dos países tem um importante valor simbólico: ela significa que muita gente não quer abandonar a ONU como fórum para discussão e elaboração de um tratado climático de alcance global que contribua para reverter a atual tendência de mudanças do clima provocada pela ação humana. E isso não é pouco: semana passada o enviado especial dos Estados Unidos para questões climáticas, Jonathan Pershing, direcionou seus mísseis verbais para a UNFCCC, numa evidente tentativa de seduzir o BASIC (Brasil, África do Sul, Índia e China) a fechar com os EUA um acordo independente da ONU. Esta semana, a base de todo esse processo de negociações, que é a conclusão obtida pelo IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) a partir da revisão de estudos e pesquisas feitos por várias instituições em todo o mundo, foi abalada com a notícia de um erro grosseiro (e bota grosseiro nisso!) sobre as geleiras do Himalaia. Foram dois petardos fortes - não por acaso, lançados à véspera do deadline "móvel" do Sr. de Boer: ambos evidentemente visavam minar a credibilidade da UNFCCC, já bastante abalada com o caos da CoP15, para inviabilizar de vez as negociações.
Se houver um bom número de adesões, não teremos um acordo justo, ambicioso e legalmente vinculante. Mas teremos um sinal claro de que as cartas continuam na mesa - e de que há vontade de jogar!
Nenhum comentário:
Postar um comentário