Lêmures

Quando era criança, li uma história, que provavelmente é ficção, sobre o suicídio dos lêmures. Dizia o conto que de tempos em tempos, quando há superpopulação, os líderes saem em desabalada corrida até um despenhadeiro, de onde se jogam. O grupo segue seus líderes e também se suicida. Sobram uns poucos porque mesmo entre os lêmures há rebeldes - são eles que dão prosseguimento à espécie.

Lembrei-me dessa fábula hoje ao ler que os líderes do G8 reunidos em Áquila, na Itália, estão tentando empurrar para 2050 o prazo para redução nas emissões dos gases que provocam o efeito estufa. Obviamente que acenam com uma meta aparentemente arrojada - 80% - criando a ilusão de que esta alternativa é viável. Bom, ela não é por três motivos:

1) Quanto mais demoramos para iniciar a redução nas emissões de CO2, mais se aprofundam as mudanças climáticas - maiores os prejuízos sociais e econômicos, por exemplo. Note que não estou falando de números. Estou falando de pessoas que sofrem ao ter suas casas invadidas pela água da chuva ou varrida por tufões. Estou falando de gente que planta e não colhe. De gente que sofre com problemas de saúde que são agravados pela mudança climática. De refugiados que precisarão deixar suas terras para procurar outro lugar para fazer a vida. E todo o esforço para criar metas de redução de CO2 é justamente para evitar isso! Ou alguém ainda acha que estamos salvando a Terra?? Gente, Vênus está a 400 graus e não explodiu!!! O planeta não está em risco - é a vida sobre o planeta, incluindo a nossa, que está!

2) Quanto mais demorarmos, mais perto chegaremos do "point of no return", ou ponto de ruptura em português. Traduzindo: é quando medidas de contenção já não têm efeito. Algo semelhante a usar camisinha depois que se está grávida. O ponto de ruptura da floresta amazônica, por exemplo, é daqui a 4 anos, se nada for feito - a partir daí, não adiantará começar algo porque ela entrará em processo de colapso. Na prática, isso se traduz pela extinção de espécies animais e vegetais. Em outras palavras, pelo gradativo fim da vida na Terra. Uma hora, a nossa espécie entra em extinção, já que dependemos de todas as outras para viver. Simples assim. Nossos líderes-lêmures estão nos levando para o abismo.

3) Por fim, 2050 é tão longe de nossa realidade que dificilmente essa meta levará algum país ou empresa a fazer algo no sentido de minimizar a redução de CO2. Ou seja, terminado o prazo de 2012, do Protocolo de Kyoto, o assunto vai ser engavetado. E coitado de quem estiver vivo em 2045, quando começarem a tocar no assunto de novo... Detalhe: em um desconcertante exercício de franqueza, o presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, já falou que a Rússia não cumprirá a meta em 2050...

Sem um plano claro, com etapas definidas, que comece JÁ, não conseguiremos reduzir nada nem agora nem em 2050. Salvo se houver alguma superhipermega guerra nuclear, o planeta provavelmente continuará inteiro até essa data e depois dela.

Já os seres que vivem nele...

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