Estou quase com vontade de sair pelas ruas gritando "arrependei-vos" porque certamente o fim do mundo não vai demorar a chegar. Sinal inequívoco é o fato de que hoje eu dei razão para a Kátia Abreu, a senadora do Tocantins que lidera a bancada ruralista no congresso nacional. Ela quer abrir uma CPI sobre o MST - e eu concordo! As cenas da invasão da fazenda da Cutrale, no interior de São Paulo, quando os manifestantes derrubaram pés de laranja com um trator foram chocantes! Para quê destruir? Suponhamos que a justiça desse ganho de causa para o MST e eles pudessem ocupar a área: não seria melhor contar com os pés de laranja para ganhar unzinho no final da safra?
A ação radical do MST é apenas mais uma de várias outras que envolvem o próprio movimento, os ruralistas, os ambientalistas e nós, seres urbanos. A cisão entre Dois Brasis, concebida como separação entre os que têm e os que não têm, ganham outro contorno: o conflito entre cidade e campo. Conflito desnecessário, diga-se de passagem, uma vez que são tribos simbióticas, vivendo uma do que a outra produz. Sim, seres rurais, não somos só nós, urbanos, que nos alimentamos da comida que vocês produzem: vocês prosperam graças aos produtos e serviços que nós criamos e desenvolvemos. Estamos em constante e viva relação comercial - por que não levar essa interação (e, por que não?, cortesia) para os demais níveis do relacionamento?
Faz-se necessária a adaptação da atividade agropecuária às novas exigências de preservação ambiental. Por outro lado, não podemos deixar todo o ônus dessa preservação para essa parcela da população. Criar leis que retroagem, criminalizando produtores que, muitas vezes, agem de boa fé e com boa intenção, é inviabilizar uma solução democrática e consensual. A injustiça, alegada pelos produtores, torna-se ainda mais doída quando não se vê igual empenho para combater o desmatamento das terras que ainda não foram postas dentro do sistema produtivo.
Mas a questão agropecuária no Brasil engloba também esse componente que ninguém quer ver: a reforma agrária. É por tentar ignorar o tema que movimentos como o do MST vicejam. Não dá para pensar que não precisamos de reforma agrária. É óbvio que precisamos! Mas uma reforma feita democraticamente, ou seja, dentro das instituições - e não pela força da foice ou do trator destruindo unidades produtivas.
Kátia Abreu tem razão: façamos a CPI do MST para investigar o movimento. E ao investigá-lo, tenhamos coragem de ver que, no fundo, ele nasce de uma demanda justa (embora expressa de forma equivocada). Encaremos os problemas de frente, de forma integradora, sabendo que o conflito de interesses é inevitável, mas o consenso sempre é possível. Foi para isso que a política foi inventada. A boa política.
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