Hoje é o Blog Action Day. Mais de 10 mil blogueiros de todo o mundo, inclusive eu, comprometeram-se a postar sobre o tema Mudanças Climáticas. Trata-se de mais uma ação que visa alertar a sociedade e seus representantes sobre a urgência de se chegar a um acordo em dezembro, na conferência das partes da ONU, para minimizarmos as mudanças climáticas esperadas para as próximas décadas.
Não custa fazer um breve histórico da situação: a descoberta do motor provocou uma revolução na história da humanidade - pela primeira vez em milênios a produção seria gerada não mais por músculos (humanos ou animais). As fontes de energia, abundantes e baratas, foram o petróleo, o carvão e o gás, cuja queima gera energia... e CO2. Décadas e décadas de poluição na atmosfera fizeram com que o nível desse gás atingisse patamares acima dos historicamente conhecidos. Como o CO2 tem relação direta com a temperatura do planeta, a comunidade científica achou por bem alertar para o risco de termos mudanças no clima provocadas pela ação do homem pela primeira vez na história do planeta.
Toda unanimidade é burra. Portanto obviamente existem os que contestam esta teoria. Mas como ninguém está a fim de pagar para ver se é verdade ou não, oficialmente todos querem adotar a postura preventiva: sociedade civil, governos, setor produtivo... Oficiosamente, a história é outra: como todos vivem a pressão do curto prazo (governantes eleitos, executivos de empresas), poucos querem comprometer investimentos ou resultados por conta de uma história que não é 100% comprovada e cujos efeitos podem não me atingir agora! Porque essa é a dura realidade: quem é mais afetado pelas mudanças climáticas são as pessoas mais pobres, que habitam áreas de risco, e as nações mais pobres, que estão no cinturão ao redor do Equador, onde o aumento da temperatura será mais sentido. Quem decide muitas vezes está cercado pela estrutura dos Estados de bem-estar social, tem renda para contornar eventuais problemas - e pode nem viver para senti-los na pele (própria ou do outro!). Muitos dos efeitos das mudanças climáticas poderão só ocorrer ao longo das gerações futuras.
O resultado você pode ler nos jornais ou na internet: negociações travadas para a conferência da ONU. EUA e União Européia que não se entendem. No Brasil, uma política de esquizofrênicos: de um lado o Ministro do Meio Ambiente, Celso Ming, comemorando que o país tem metas arrojadas etc etc. Do outro, a candidata do governo, Dilma Roussef, pedindo revisão das metas porque diz que não vai sacrificar o crescimento econômico em prol do ambiente.
Nem ela, nem ninguém.
Existe uma falácia nessa história toda que está na raiz da discordância entre ambientalistas (os que querem preservar o meio ambiente) e desenvolvimentistas (os que querem o desenvolvimento econômico). Ela consiste na crença de que o mundo é estático. Do lado dos ambientalistas, isso leva à defesa da preservação das coisas como estão - o que é antinatural, pois o universo muda desde o BigBang! Ou seja, a saída não é congelar, porém mudar junto. Do lado dos desenvolvimentistas, por sua vez, a crença é que o atual modelo produtivo (não econômico, veja bem) é definitivo. Qualquer ameaça a este modelo seria uma ameaça à atividade produtiva, ao crescimento econômico e ao bem estar do ser humano (que precisa de emprego e renda para viver). Não é verdade: pesquisa e tecnologia podem mudar o modelo produtivo da pecuária, da indústria e da silvicultura - sim, precisamos pesquisar a Amazônia, e muito!, para saber como explorá-la de forma sustentável. Precisamos parar de criar complexos raciocínios e teorias baseadas em um preconceito irracional contra a atividade econômica, contra o capitalismo, contra o lucro. Lucro nunca foi problema; prejuízo, sim! Ninguém reduz a desigualdade social acabando com o lucro, mas acabando com a perda, com o prejuízo, com a falta de acesso a capital.
O viés moral também emperra qualquer tentativa de um acordo na medida em que coloca a questão das mudanças climáticas como uma opção da consciência. Aí, amigo(a), danou-se: tem mais de dois mil anos que a Igreja (qualquer igreja!) fala para não pecarmos e continuamos pecando - por que iríamos virar santos agora só porque alguma ONG ou o Al Gore resolveu pregar sobre sustentabilidade? Pressionar nossos representantes para que cheguemos a um acordo eficiente que possa realmente reverter a atual tendência de alterarmos, pela atividade econômica, o clima da Terra, não é uma questão de bom mocismo. Não se trata de salvar o planeta. É business as usual, darling. Por menos nobre e charmoso que isso pareça.
Para o dirigente de uma empresa ou país, é importante antecipar-se às mudanças climáticas, tentando revertê-las, por uma questão de risco: risco do investimento, risco de governabilidade. Ponto. E sustentabilidade não é um pilar de marca, pelamordeDeus, mas uma forma de gestão pela qual governos e empresas começam a contemplar em seus modelos de administração questões que antes não eram consideradas. E fazem isso para pesquisar, para conhecer, para testar... e descobrir novas formas de lidar com esses problemas antes que eles simplesmente virem um imperativo (da lei ou, pior, da natureza) a ser cumprido. Apenas para ilustrar: lixo era algo que se jogava fora até alguns anos atrás. Lixo, hoje, é um problema de gestão pública - precisa ser administrado, ter custos compatíveis, logística viável etc. etc. Para as empresas, lixo pode se tornar uma questão de logística reversa, como ocorreu com a indústria de pneus (que teve que engolir, goela abaixo, sem maionese, o ônus de recolher os pneus usados e lhes dar um destino correto).
Para você que me lê, sustentabilidade vai ser um novo modo de vida: uma nova maneira de consumir (porque custos que hoje não são repassados para você, consumidor, o serão no futuro), de se preparar para o mercado de trabalho (pois surgirão novas profissões, novos mercados, nova oportunidades) e de exercer sua cidadania: poucas questões explicitam tão bem que somos todos habitantes de um mesmo planeta, e não de um ou outro país, como o clima.
Neste Blog Action Day, peço a quem me lê que passe a encarar a questão das mudanças climáticas mais com os pés no chão do que com a cabeça nas nuvens. Idealismo é bom e sem ele a humanidade não vislumbra novos horizontes! Mas sem pragmatismo não caminhamos.
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