Mas a infância volta e meia bate à minha porta. Seja num comentário de outro amigo sobre como esta fase, junto com a adolescência, é a mais difícil da vida (tantas decisões a serem tomadas! tão pouco preparo emocional e psicológico para isso!), seja ao olhar o calendário e ver que hoje é o Dia da Criança! Não, não vou elencar as estatísticas da ONU sobre mortalidade infantil, trabalho infantil, má-nutrição infantil... Tampouco vou falar das matérias que li em O Estado de S. Paulo sobre o aumento do número de jovens que vai parar na Fundação Casa (ex-Febem) por causa de furto de celulares e tênis - mesmo motivo que leva jovens a se prostituirem, segundo matéria publicada nesse mesmo jornal. Não vou xingar publicitários e marqueteiros por sua irresponsabilidade ao eleger as crianças como alvo de suas ações em prol do consumo. Nem os que participam (e incentivam) a exploração sexual infantil, alimentando a fantasia de que, no fundo, elas querem (transferindo culpa num processo neurótico que perpetua a crueldade).
No dia das Crianças, quero falar de Amor. Não o amor dos presentes, mas o amor de Estar Presente. De brincar e conversar. Tocar a pele num carinho ou numa brincadeira de pega-pega (peguei!). De ler livros à noite na cama, imagem batida, mas tão gostosa... De fazer tricô juntas como duas velhinhas numa tarde fria. De enfiar a mão na massa feita de farinha e ovos e criar algo que só quem participa do processo sabe: é um biscoito, apesar da aparência! De ganhar nos jogos de cartas e nem desconfiar que me deixaram ganhar...
Quero falar de passeios pelo meio do mato, de banho de mangueira no quintal, de uma bacia grande cheia d´água no verão... e o tanque de roupa! Como era bom entrar no tanque de roupa e abrir a torneira! Lembro de meu pai num lado da sala, minha mãe no outro, jogando uma bolinha de plástico fuleira... mas que eu adorava! Água e sabão no balde, batidos até virar pura espuma. Havia até competição com as amigas para ver quem conseguia fazer mais espuma primeiro! E meu castelo de princesa, embaixo da mesa... qualquer mesa...
Cantiga de roda (ao som dos Beatles), queimada na rua, pega pega, esconde esconde, bolinha de gude, amarelinha...
Minha família não tinha dinheiro, mas tinha amor e criatividade: eu nem percebi se faltou alguma coisa!
Que bonito seu texto! Eu, com três pequenos seres brincantes, sempre tento imaginar como é o mundo pelos olhos deles. Como é a bobagem e a gravidade, o toque do celular e os meninos de rua, a novela e o desenho garatujado de um boneco-pessoa com braços esticados em longas linhas e pés de três pontas.... Esqueço que temos uma fábrica de lembranças de uma infância (feliz?) no meio da sala. Brincar, fabular, fingir escapar da dureza que eles sabem - sim, sabem!- estar ali. Hoje teve milk-shake de chocolate com Nutella e Chantilly. Que os lábios deles guardem um pouco do sabor.
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ResponderExcluirAmei o texto, Silvia.
ResponderExcluirMuito importante ressaltar a importância das coisas simples da vida.
Acredita que hoje, dia da criança, estava no shopping almoçando e peguei uma mãe dando um forte beliscão na orelha do filho? A criança entortou tanto a cabeça que eu fiquei ali parada, assistindo a cena atônita...Olhei para a mãe que percebeu que eu estava assistindo a cena e falei: "Pare com isso, senão eu te denuncio!!!" Ela ficou tão sem graça e tão sem reação que deve ter achado que eu era alguma juiza de menor de idade...rs
É silvia...
Acho que atualmente temos que educar os pais, para depois se educar os filhos...
Taí, deveria se criar uma escola para educar os pais, não?
Beijos silvia, dá uma visitada no meu blog depois.
Nayana
Adorei o texto!
ResponderExcluirO que eu gostava de fazer quando criança era brincar de LEGO e de video-game... saudades disso!
beijos Helena Bernardes