Al Gore na Fiesp

A palestra daquele que ficou conhecido como o próximo presidente dos Estados Unidos, como o próprio gosta de se apresentar, foi uma versão editada e sem slides de Uma Verdade Inconveniente (não assistiu? veja aqui!) com alguns subtemas específicos da realidade brasileira. Pedindo desculpas por falar de problemas brasileiros sem ser um brasileiro, Gore tocou no tema das queimadas. Ele fez questão de enfatizar que, em termos globais, as queimadas respondem por pouco mais de um quarto das emissões. Que a indústria ainda é a principal emissora. Porém que essa questão precisa ser enfrentada pelos brasileiros, que já contam com uma matriz limpa. Sempre lembrando que seu país, os Estados Unidos, tem muito mais a fazer, e que assuntos de Brasil são de responsabilidade dos brasileiros, ele chamou a atenção para o valor da Floresta Amazônica do ponto de vista da biodiversidade, prevendo que no futuro biotecnologia será uma indústria tão valiosa como a do petróleo é atualmente. “Vender a floresta pelo preço da madeira é como vender um computador pelo preço do silício que ele possui”, comparou.

Falando de oportunidades de negócios em uma economia de baixo carbono, Gore lançou a idéia de incluir, nos acordos que serão firmados em Copenhagen no final deste ano, a carbonização do solo. Segundo ele, técnicas milenares, como as utilizadas por alguns povos da Amazônia para produzir a chamada “terra preta” (queimando e enterrando material orgânico) podem seqüestrar carbono e deixar o solo ainda mais produtivo. Ele também destacou o potencial da indústria automotiva brasileira, com base no carro flex, e elogiou o programa brasileiro de produção de etanol – que, segundo ele, foi incluído em seu mais novo livro, Our Choice, a ser lançado dentro de três semanas (e convenientemente antes da CoP15). Também destacou o agribusiness nacional, que conseguiu um aumento de produtividade quatro vezes maior que o registrado no restante do mundo entre 1970 e os dias de hoje.

Demonstrando otimismo em relação à CoP15 – um otimismo pragmático, diga-se de passagem, com base no “mais vale um acordo que acordo nenhum” – Gore fez o mea culpa sobre a lentidão dos EUA no trato das questões climáticas. Ele explicou sobre as pressões do eleitor, preocupado com seu emprego (ainda mais em tempos de crise econômica) no meio do debate sobre meio ambiente. Um medo fundamentado no fato de que os EUA já perderam milhões de postos de trabalho para países menos rigorosos com direitos trabalhistas e legislação ambiental. Por isso, ele reforçou mais uma vez que acredita, sim, no conceito de responsabilidade comum, porém diferenciada, desde que cada um assuma a sua parte. Ao responder sobre a lei em tramitação no Congresso Americano, que propõe uma redução de apenas 4,5% nas emissões de CO2 naquele país até 2020 em relação aos níveis de 1990, Gore disse que o importante é colocar um preço no carbono - isso precipitará o restante do processo de redução e controle.

Assim como em Uma Verdade Inconveniente, Gore credita à falta de vontade política o pouco avanço nas questões ambientais. Porém vontade política, como ele mesmo gosta de repetir, é um recurso renovável.

Do que gostei


Quando ele falou na mudança de mentalidade da nossa época, que favorece um foco excessivo no curto prazo. Ele comentou que pesquisas com executivos americanos mostraram que eles não conseguem aprovar investimentos benéficos no futuro que exijam sacrifícios, mesmo que pequenos, no presente. Rever a noção de tempo – e, por consequência, de expectativa – é fundamental para avançarmos em direção a pensamentos e práticas mais sustentáveis.

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