2009 provavelmente entrará para a História como o ano do faroeste ambiental. Com medo de que a lei aperte, todo mundo saiu correndo para defender seu quinhão de riquezas, atuais ou imaginadas: legalização esdrúxula de terras na Amazônia, legislação florestal, mecanismos de compra e venda de carbono, pagamento por serviços ambientais... O bangue-bangue não produz tiros, mas pode ferir de morte vários inocentes. Não precisaria ser assim.
Para justificar o tiroteio, questiona-se a veracidade da tese das mudanças climáticas. Como toda a negociação para uma economia de baixo carbono está fundamentada nas conclusões do UNFCCC, o painel intergovernamental sobre clima das Nações Unidas, que com base em milhares de estudos aceitou a tese de que a ação do homem está afetando o clima da Terra, há quem diga que ciência não é democracia e que o fato de que a maioria dos estudos aponta para a mudança não quer dizer nada. E não quer mesmo: quando Galileu disse que a Terra era redonda, ele era minoria... Os céticos só se esquecem de dizer que ninguém em sã consciência enxerga tais conclusões como definitivas, já que a ciência sempre avança, porém vê nelas indícios suficientes para a adoção de medidas de precaução.
Mas mesmo este debate não precisaria ser assim. Porque todos ganhamos se migrarmos para uma economia de baixo carbono - quer a tese sobre mudanças climáticas seja verdadeira ou não.
O primeiro ganho seria uma maior estabilidade política no mundo. Boa parte dos conflitos existentes assenta-se em barris de petróleo (ou em sua ausência). Redistribuir a produção de energia, pulverizando-a por várias fontes, propiciaria um maior equilíbrio político que favorece uma cultura de paz.
O segundo ganho seria econômico. Sim, eu sei que soa estranho, uma vez que o setor produtivo tem se mostrado bastante arisco com o tema. Parece fazer sentido: a mudança exigirá investimentos em tecnologia, infraestrutura... e para quê mexer no bolso se posso ganhar dinheiro ficando do mesmo jeito? Mas a história é outra: a mudança para uma economia de baixo carbono beneficiaria alguns agentes econômicos e prejudicaria outros – justamente os que hoje são muito grandes, muito poderosos, armados até os dentes com lobbies e políticas de Relações Públicas que arrebatam sorrisos e apoios entre artistas, comunidade acadêmica, imprensa etc.
Um exemplo prático para ilustrar a tese: Petrobrás. Divida-a em várias empresas. Pulverize seu controle. Você concorda comigo que haveria mais pessoas ganhando mais, sendo beneficiadas? Mais empreendedores, mais acionistas, mais funcionários? E que o consumidor também ganharia por não ficar na mão de um fornecedor? Quem perde? Quem está ligado à Petrobrás hoje: seus fornecedores, por exemplo. Mas pense quantos fornecedores não estariam ganhando dinheiro se tivéssemos energia eólica, solar etc. junto com o petróleo da dona Petrobrás. Mais gente ganha, portanto a sociedade como um todo ganha.
Outro ganho de uma economia de baixo carbono seria na saúde dos habitantes dos grandes centros urbanos: abundam pesquisas que relacionam doenças e mortes à poluição dos grandes centros. Sistemas de transporte baseados em fontes que não emitam CO2 evitariam mortes, elevariam a qualidade de vida do cidadão – e reduziriam os gastos públicos com saúde, liberando verba para outras áreas (ou reduzindo a necessidade de tantos impostos, o que elevaria a competitividade das empresas).
Em suma, livrar-nos da total dependência do petróleo, do gás e do carvão é um desafio que vale a pena encarar. E o acordo que as nações ligadas à ONU devem assinar em dezembro em Copenhagen já seria um grande avanço. Por isso, não deixe de participar das manifestações em prol do clima neste sábado, dia 24. Entre no site http://www.tictactictac.org.br/ e cheque onde haverá uma perto de você. Manifeste-se, faça-se ouvido: mesmo que você seja cético em relação às mudanças climáticas, acredite no que você pode ganhar com uma economia de baixo carbono.
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